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As ilusões e desilusões de 2020

Somos humanos acostumados a mudanças. Mas quando são tão bruscas, elas esgotam a nossa racionalidade

O número de brasileiros que estão trabalhando de casa e ganhando em dólares aumenta cada ano (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O número de brasileiros que estão trabalhando de casa e ganhando em dólares aumenta cada ano (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 5 de dezembro de 2020 às 18h19.

Última atualização em 7 de dezembro de 2020 às 16h12.

Acho que todos nós criamos a ilusão (ou desilusão) de que, quando o ano de 2020 acabasse, a pandemia iria embora junto com ele. 5, 4, 3, 2, 1. Feliz ano novo sem covid-19.

Seria até fácil se fosse tão simples. Mas a verdade é que não há simplicidade em todas as ilusões que tivemos este ano.

As horas, por exemplo. Muitos de nós acreditávamos que o home office nos traria mais tempo com a família, os filhos, melhor organização do trabalho. E não foi necessariamente assim.

Passamos a ser ainda mais escravos de nossos celulares. O tempo real nunca foi tão real. Reuniões às 7h, 13h, 20h se tornaram comuns. De repente estava lá no nosso calendário, como a normalidade de um dia de trabalho.

A divisão do tempo tornou-se complexa. A rotina de cuidar da casa, do trabalho e de itens pessoais confundiu-se como um todo. Fizemos almoço e reunião ao mesmo tempo.

Chamamos a atenção dos filhos e dos pets e desligamos a câmera da videoconferência para ninguém ver. Vestimos apenas a parte de cima do nosso dress code para aparecer nas telas do Teams, do Zoom ou do Meetings.

E a tal da qualidade de ser multitask? Esse foi um dos principais itens que foram colocados à prova. Quem não teve que participar de 2 ou 3 reuniões simultâneas?

Ou ingressar no vídeo e responder clientes e parceiros ao mesmo tempo? Ou até mesmo trabalhar e orientar a lição de casa dos filhos? É, a transformação digital que a pandemia trouxe nos levou a reavaliar nossas características e nosso senso de tempo. Virou transformação temporal.

Não à toa, chegamos cansados ao final deste ano. É a soma de incerteza, do medo da doença, da falta de lazer, da “prisão” domiciliar, da fadiga de ações simultâneas, cotidianas e recorrentes. Somos humanos acostumados a mudanças, claro. Mas quando são tão bruscas, elas esgotam a nossa racionalidade.

Em suma, Ilusões e desilusões vêm e vão. Em 2020 e em 2021.

O importante é sempre a esperança de dias melhores. Afinal, só de discutir tudo isso, já somos privilegiados.

*Sócio-diretor de Estratégia da FSB Comunicação

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