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Arquitetura da reconstrução: liderança e estratégia em tempos de crise

A coordenação eficaz como chave para otimizar resultados. Confira o artigo de Pedro Bortolotto

 (Anselmo Cunha/AFP)

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Publicado em 29 de outubro de 2024 às 15h00.

Por Pedro Bortolotto, sócio-diretor de Corporate Transformation
Alvarez & Marsal*

Quando chegamos ao Rio Grande do Sul, logo após as enchentes que devastaram a região, o cenário era de destruição. A força da população e sua vontade de reconstruir foram notáveis, no entanto, faltava algo essencial: coordenação estratégica. Havia muita energia, porém, sem uma estrutura clara, os esforços pareciam insuficientes.

A situação pedia uma resposta rápida com ações efetivas. Precisávamos organizar e, mais do que ações imediatas, era necessário desenhar uma arquitetura da reconstrução com estratégia, que desse estrutura aos esforços de curto, médio e longo prazos, garantindo que cada passo tenha impacto real.

A chave: planejar e articular

Nosso papel não era de protagonista, mas sim de oferecer a visão estratégica necessária para que todos os atores envolvidos direta e indiretamente nas frentes de resolução pudessem agir de forma mais coordenada possível. Sem isso, correríamos o risco de desperdício de recursos e esforços duplicados.

Essa coordenação foi central para evitar ainda mais o caos e maximizar resultados. Rapidamente, mapeamos as necessidades e organizamos as ações. Facilitamos a articulação entre os entes públicos e privados envolvidos.

Cada recurso precisava ser bem direcionado, cada ação pensada para um maior impacto nos resultados de forma efetiva. Afinal, estamos falando milhões de vidas e histórias envolvidas.

Presença ativa

Acreditamos que liderança é estar presente, atuando em campo, e assim fizemos. Mobilizamos equipes em todo o Brasil para estruturar os esforços de recuperação.

Embora a ajuda tenha chegado de pessoas, empresas e entidades de todo o mundo, poucos estiveram de fato no local, que naquele momento era de difícil acesso pelo fechamento do principal aeroporto do estado e das limitações pela destruição das estradas.

O povo gaúcho se mostrou aberto a novas ideias e colaborações, o que foi essencial para que a nossa articulação gerasse frutos. Nosso papel foi contribuir para trazer ordem e garantir que cada ação tivesse propósito e direção. Mesmo com a energia de todos, sem uma liderança clara, havia risco de que esses esforços se perdessem em redundâncias.

Em menos de 30 dias Porto Alegre já tinha superado a fase emergencial. Os desabrigados estavam acolhidos, com acesso a serviços essenciais. Decisões rápidas só têm valor quando baseadas em planejamento estratégico. Além disso, trouxemos benchmarks de tragédias globais para assegurar que as melhores práticas internacionais fossem aplicadas também aqui.

Lições aprendidas e reconstrução com olhar no futuro

A grande lição desse processo é simples: coordenação e agilidade são fundamentais. Decisões rápidas são necessárias, mas sempre com visão clara e estruturada. Sem isso, veríamos exemplos negativos de recursos sendo desperdiçados pela falta de organização, como no caso da água potável. Nosso trabalho foi garantir que isso não acontecesse, unindo forças e dando direção.

Superamos a fase emergencial, mas o verdadeiro desafio começa agora. O Rio Grande do Sul tem diante de si a chance de não apenas se reconstruir, mas de se transformar. As escolhas feitas daqui para frente definirão a resiliência do estado frente a futuros desafios.

Nosso compromisso é seguir colaborando ativamente, dando suporte ao estruturamento dessa recuperação e criando bases sólidas para o futuro. A reconstrução não é apenas física, é social e econômica. Setores como o agronegócio, energia, tecnologia, turismo e saúde são fundamentais para essa transformação.

Nada disso será possível sem uma articulação eficaz entre todos os atores envolvidos na região, respeitando suas especificidades. Estamos prontos para seguir colaborando na construção dessa base, lado a lado com os lideranças locais, para que o Rio Grande do Sul não apenas se recupere, mas se torne exemplo de resiliência e crescimento sustentável.

Pedro Bortolotto é gaúcho e sócio-diretor de Corporate Transformation na Alvarez & Marsal. Possui mais de 20 anos de experiência em consultoria. 

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