Os dados apontam ainda que um em cada três brasileiros (36%) percebe que a carreira docente é pouco valorizada (Alexandre Battibugli/Exame)
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Publicado em 23 de outubro de 2023 às 06h00.
A primeira edição do Indicador de Valorização de Professores (IVP), revela que apenas 26% dos brasileiros acreditam que os professores são bem valorizados no país, enquanto somente 20% dos docentes têm essa percepção. Os dados apontam ainda que um em cada três brasileiros (36%) percebe que a carreira docente é pouco valorizada – a mesma percepção de 18% dos professores.
A ferramenta é inédita no Brasil e foi lançada pelo Instituto Península, para medir como a sociedade e os próprios professores da Educação Básica valorizam a profissão. Com o objetivo de que o levantamento seja realizado periodicamente a fim de permitir comparação ao longo do tempo, o IVP foi desenvolvido para ser uma ferramenta prática. “Com base nos dados, poderemos compreender os avanços e a percepção em relação à valorização dos professores e de sua profissão, tanto por parte da sociedade quanto dos próprios docentes”, ressalta Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península.
Para se chegar a essas informações, o Indicador de Valorização de Professores mediu cinco esferas: o Campo de Atuação, que engloba o reconhecimento do valor e da relevância da Educação Básica para o Brasil e para os brasileiros; a Carreira – remuneração e condições de trabalho; o Ambiente de Trabalho, que se refere às relações na escola com gestores, pares, estudantes e famílias; o Profissional, que diz respeito ao compromisso e a competência do professor em sua atuação; e o Indivíduo, incluindo o bem-estar e a realização pessoal fora do ambiente de trabalho.
Ao consolidar essas esferas, o IVP aponta que, em uma escala de 0 a 10 – sendo baixa valorização abaixo de 6, média valorização entre 6 e 8, e alta valorização igual ou maior que 8 –, a média de valorização do professor é de 6,7 pela sociedade e de 7 pela ótica dos profissionais. Na análise individual de cada esfera, também na mesma escala de 0 a 10, chama a atenção o Ambiente de Trabalho, que é a menos valorizada pela sociedade (média 4,58) e que, por outro lado, é aquela que os professores mais valorizam (8,2). “Essa diferença demonstra que os professores prezam pelo apoio recebido de gestores e colegas e se sentem respeitados pelos estudantes e suas famílias, o que não é percebido pela população que não está integralmente inserida no ambiente escolar”, pondera Heloisa.
Por outro lado, os professores são mais críticos com Carreira (nota 5,2) do que a sociedade (6,22), bem como com Campo de Atuação (6,8 média do professor e 7,49 da sociedade) e Profissional (professores avaliam em 7,2, e sociedade, em 7,56). No campo Indivíduo os docentes têm a percepção similar à da sociedade, 7,6, e 7,66 respectivamente.
A principal conclusão do levantamento é que a percepção da população sobre a realidade de vida dos professores varia significativamente conforme o contexto em que vive, sendo mais positiva entre as pessoas menos escolarizadas e com menor renda – especialmente as que vivem em cidades de menor porte e nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste do país.
Heloisa Morel explica que, para esse grupo, os professores são percebidos como pessoas que detêm saberes reconhecidos, atuam em condições de trabalho formal, com acesso a uma renda estável, perspectivas de avanço em suas carreiras e de garantias de renda mesmo após deixarem a atividade – condições que, teoricamente, são menos acessíveis para essa parcela da sociedade. “Por outro lado, para aqueles com maior escolaridade e renda, a percepção tende a ser mais crítica, principalmente porque os aspectos econômicos da profissão e do ambiente de trabalho não parecem ser atrativos se comparados à realidade em que vivem”, acrescenta.
Entre os professores, conclui a pesquisa, as percepções também variam entre diferentes segmentos, principalmente pelas etapas de ensino em que atuam. A valorização é mais positiva pelo ponto de vista daqueles mais novos na carreira, que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental e especialmente aqueles que vivem em cidades de menor porte e nas regiões Norte e Nordeste do país. Já os profissionais que lecionam nos anos finais do ensino fundamental e/ou no ensino médio e são veteranos na Educação, são mais críticos quanto à sua valorização.
Para a composição do IVP foram realizadas duas pesquisas quantitativas, sendo uma com a sociedade e outra com professores, com questionários compostos por perguntas de múltipla escolha. No levantamento com a população, foram ouvidas 2 mil pessoas de forma presencial em junho de 2022, representando a população brasileira de 16 anos ou mais, residente nas 5 regiões do país, em cidades de diferentes proporções demográficas e populacionais (Capital, Região Metropolitana e Interior). Já as entrevistas com professores ocorreram por telefone, entre julho e dezembro de 2022, com 6.775 profissionais com 18 anos ou mais, representando docentes da Educação Básica nas redes públicas estaduais e municipais de ensino, conforme o Censo Escolar do Inep.
No total, foram utilizadas 23 perguntas afirmativas para as entrevistas com a população e 21 para as entrevistas com os professores, com as seguintes opções de resposta: “Discordo Totalmente”, “Discordo em parte”, “Concordo em parte” e “Concordo totalmente”, com possibilidade também de registro da resposta espontânea “Não Concordo nem Discordo”.
Ambas as pesquisas foram realizadas pelo Instituto Península em parceria com o Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC), responsável também pelas análises estatísticas que definiram o modelo de cálculo do indicador. Já a pesquisa com professoras e professores também foi idealizada pelo Instituto Península, com os parceiros Todos pela Educação e a Fundação Itaú Social.
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