Bússola

Um conteúdo Bússola

André Jácomo: Proibir a divulgação de pesquisas eleitorais é a solução?

O pano de fundo para essa mudança é o sentimento, da classe política e da opinião pública, que as pesquisas eleitorais podem errar

Quanto mais transparentes as informações, mais úteis os dados para decifrar o que acontece no jogo eleitoral (Fábio Pozzebom/Agência Brasil)

Quanto mais transparentes as informações, mais úteis os dados para decifrar o que acontece no jogo eleitoral (Fábio Pozzebom/Agência Brasil)

B

Bússola

Publicado em 15 de julho de 2021 às 19h48.

Por André Jácomo*

Neste momento, correm em paralelo na Câmara dos Deputados duas discussões que podem impactar a configuração do sistema eleitoral brasileiro para as próximas eleições: a reforma política e a reforma do código eleitoral.

Um pouco mais avançada e com previsão para votação no Plenário já no começo de agosto, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) relatada pela deputada Renata Abreu pretende alterar a regra de cálculo dos vencedores nas eleições para a Câmara dos Deputados e Assembleias Estaduais. De acordo com o texto apresentado essa semana, deixaríamos de ter a regra proporcional de distribuição de votos em cadeiras, para adotar o sistema majoritário, em 2022, e o sistema distrital misto, em 2026.

Em estágio mais embrionário, o grupo de trabalho liderado pela deputada Margarete Coelho discute algumas mudanças no código eleitoral. Um dos pontos mais sensíveis é a proibição de divulgação de pesquisas na véspera do período eleitoral. Como ainda não há texto publicado, não se sabe ao certo qual poderá ser o período de defesa de divulgação de pesquisas.

Países como a França proíbem a divulgação de pesquisas um dia antes da eleição. Já países como México restringem a divulgação de pesquisas em até três dias das eleições. Por outro lado, há países mais restritivos, como o Chile, que proíbem divulgação de pesquisa até 15 dias antes do pleito. O Brasil, que não possui restrições, segue legislações parecidas com as dos Estados Unidos e Reino Unido.

O grande pano de fundo para essa mudança é o sentimento, da classe política e da opinião pública, que as pesquisas eleitorais erram. De fato, as pesquisas podem errar. Mas é preciso separar a natureza dos erros em pesquisas de opinião.

Primeiro, há os erros amostrais, oriundos dos conceitos estatísticos da margem de erro e do intervalo de confiança, mas que somente são evitáveis com a realização de censos. Segundo, há os erros não amostrais, originados por conta de escolhas das metodologias de coleta dos dados (presenciais, telefônicas ou online) ou na formulação das perguntas e escalas. Por fim, o último erro pode ser causado pelo próprio consumidor dos dados da pesquisa, que muitas vezes interpretam aquele frame da corrida eleitoral como o final do filme.

Proibir a divulgação de pesquisas não corrige seus possíveis erros. Ao contrário, quanto mais transparente e mais informações o eleitor tiver sobre como são feitas as pesquisas de opinião, mais úteis seus dados são para decifrar o que acontece no jogo eleitoral.

*André Jácomo é diretor do Instituto FSB Pesquisa

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedinTwitter | Facebook | Youtube

Veja também

Acompanhe tudo sobre:DemocraciaEleições 2022Política

Mais de Bússola

O caso do TikTok nos EUA pode ter repercussões no Brasil

No setor logístico, construção com Impacto Zero pode ser chave para alcançar sustentabilidade

Índice de Carbono Eficiente da B3 recebe nova gigante da moda brasileira

Empresa brasileira de conteúdo digital tem crescimento anual de 90% e atrai fundos de investimentos