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Análise do Alon: mare (Paranoá) nostrum

Esta semana, Alon Feuerwerker fala sobre a atual estabilidade do governo brasileiro e discute as possibilidades para o futuro

Palácio do Congresso Nacional (Maremagnum/Getty Images)

Palácio do Congresso Nacional (Maremagnum/Getty Images)

Alon Feuerwerker
Alon Feuerwerker

Analista Político - Colunista Bússola

Publicado em 5 de fevereiro de 2024 às 12h11.

É um desafio conseguir lembrar algum momento no passado em que a harmonia entre os poderes em Brasília tenha sido tão harmônica. 

  • Pode haver, e há, divergências, mas nada que esgarce o funcionamento ritmado e sincrônico das instituições.

No momento, Executivo, Legislativo e Judiciário remam todos para o mesmo lado, com pouca ou nenhuma resistência ou crítica da imprensa ou do que se convencionou chamar de sociedade civil.

De vez em quando algum ator mostra-se desconfortável diante de algum detalhe e vem uma crítica, sempre pontual, que pipoca para logo ser engolfada pelas ondas de opinião situacionista sob a capa da defesa da democracia

Não há oposição política organizada com expressão e capacidade real de convocatória no establishment. Jair Bolsonaro continua popular, é bem recebido pelos apoiadores, tem a simpatia de uns 40%, mas perdeu poder de mobilização na elite, lato sensu.

  • E o autodenominado centro democrático, depois de perder a eleição, perdeu agora para o PT a bandeira da luta "contra o extremismo”.

Daí uma pax quase romana, o Lago Paranoá ter virado um mare nostrum.

Brasília vive a era dos consensos 

  1. O primeiro é sobre a necessidade e a justeza de aumentar a receita com impostos. A divergência que resta é uma, bastante administrável, entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional para ver quem comanda quanto da destinação da verba.
  2. O segundo consenso, conjugado ao primeiro, é em torno da desnecessidade de cortar ou controlar a expansão das despesas, mesmo as de custeio.
  3. O terceiro consenso sustenta a legitimidade de medidas excepcionais para defender a democracia e, com tal objetivo, algum grau, não tão bem definido, de judicialização da política. 

Alguns poucos observadores se incomodam por isso hoje ser vocalizado por quem ontem se opunha à dita judicialização, mas talvez valha lembrar que na ética da política realmente existente a coerência não é necessariamente uma virtude.

  1. O quarto consenso é sobre a premência de restringir a liberdade de expressão, liberdade hoje amplificada pelas possibilidades explosivas do mundo digital e potencializada pela inteligência artificial. Este consenso é particular e especialmente possível pelo já descrito alinhamento de astros institucionais.

A dúvida que precisará ser destrinchada são duas: como isso será feito e quem fará o tal controle.

Calmaria antes da próxima eleição

Nesse cenário pacificado, a turbulência possível é sempre a mesma: na eleição, único momento em que a base da sociedade pode de fato expressar algum sentimento de oposição aos arranjos da cúpula. 

Nada indica até agora que a disputa municipal deste ano vá ser nacionalizada, à exceção de São Paulo, mas o PT deseja, legitimamente, recuperar espaço nas cidades, e resta ver como o partido e o governo administrarão as tensões com os aliados.

Luiz Inácio Lula da Silva venceu a eleição por margem bem estreita. 

É natural que busque ao longo do primeiro mandato acumular musculatura adicional para depender menos de aliados em 2026, o que para 2024 é um passo importante. 

A economia anda estável em torno de um desempenho médio, mas os exemplos aqui dentro e lá fora mostram que guerras culturais e em torno da oposição modernidade x antimodernidade têm potencial para produzir surpresas.

E o imprevisível? 

Já disse aqui, mais vezes do que seria suportável: é o mais difícil

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