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Análise do Alon: A sorte, o azar e o calendário

Coluna semanal do analista político Alon Feuerwerker aprofunda o cenário político e traz os impactos na economia e na sociedade

Brasília 60 anos - Palácio do Planalto (Bússola/Divulgação)

Brasília 60 anos - Palácio do Planalto (Bússola/Divulgação)

Isabela Rovaroto

Isabela Rovaroto

Publicado em 4 de janeiro de 2021 às 10h37.

Na política, às vezes a sorte ou o azar estão conectados ao calendário. Barack Obama teve sorte quando a crise financeira de 2008 estourou na véspera das eleições presidenciais. Azar do John McCain. Donald Trump teve azar quando a eleição do ano passado aconteceu já com uma montanha de mortos ali pela Covid-19 mas antes de as vacinas entrarem em campo. Sorte do Joe Biden.

Se as coisas no Congresso Nacional não desandarem antes para Jair Bolsonaro – um round fundamental será jogado na eleição para presidente da Câmara dos Deputados –, o ponto a monitorar serão as projeções para a situação do presidente e candidato à reeleição em meados do segundo semestre de 2022. Como estarão ali as três variáveis mais presentes hoje em qualquer análise prospectiva?

São elas, não necessariamente na ordem de importância: 1) a assim chamada guerra cultural, 2) a economia e 3) a Covid-19. Sobre a primeira, é visível que pelo menos no plano internacional a corrente a que o bolsonarismo se filia sofre revezes. O mais vistoso foi a derrota de Trump, porém não o único. 2022 ainda vai politicamente longe, mas não se enxergam por enquanto possibilidades que revertam essa tendência até lá.

Sobre a economia, os dados de atividade, emprego e confiança apontam recuperação. A dúvida é se o paciente continuará recuperando depois de extubado do auxílio emergencial e demais medidas extraordinárias. E ainda tem a inflação a acompanhar, com uma possível elevação de juros no horizonte. Os mercados andam otimistas, mesmo descontado o fator excesso de liquidez.

E a Covid-19? O cenário mais provável é chegarmos a meados do segundo semestre de 2022 com uma contabilidade estonteante de mortes, mas também com o grosso da população brasileira vacinado. O que vai prevalecer? A polêmica sobre quem foi o culpado pelos números trágicos? Ou o alívio pelo sucesso da imunização? Sempre supondo, é claro, que a vacina seja mesmo um sucesso. Mas não custa otimismo de vez em quando.

Por enquanto, o presidente leva a melhor na guerra das narrativas, como mostrou o Datafolha. Só 8% acham que ele é o principal culpado pelas mortes da pandemia. E 52% acreditam que ele não tem culpa nenhuma. Um aspecto intrigante nesses números é eles estarem descolados da clássica divisão do eleitorado em três terços: pró, contra e centristas. Ou seja, os números da pesquisa não foram capturados pela dita polarização.

Cada um que faça seu prognóstico. O meu é que a Covid-19, e quem foi o culpado pelas mortes por ela provocadas, talvez não venha a ser o filé mignon da campanha de 2022. E se a economia estiver razoável, tampouco esta será. É possível que a eleição aqui mimetize em algum grau a americana do ano passado, onde a chave foi a formação de uma frente sócio-política-cultural anti-Trump cujo único ponto de convergência era tirá-lo do poder.

Por isso, não basta ao presidente chegar forte e competitivo em 2022, com a economia bem e senhor da narrativa que coesiona seu campo. Trump chegou e perdeu, também pelo azar com o calendário. E apesar dos sucessos na economia. Bolsonaro precisará dar um jeito de evitar a convergência do oposicionismo. Por enquanto, ele vem trabalhando para fazer o contrário, para juntar os que a ele se opõem.

O primeiro grande sinal é a ensaiada união do PT com os algozes de Dilma Rousseff no impeachment dela.

 

* Analista político da FSB Comunicação

 

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