“O mercado global de Saúde foi avaliado em US$ 166,22 trilhões em 2022 e deverá atingir US$ 277,21 trilhões em 2027, de acordo com a Global Data” (Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images)
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Publicado em 18 de dezembro de 2023 às 09h00.
Por Omarson Costa*
Quem respira inovação segue a máxima: “a única constante é a mudança”, de Heráclito de Éfeso.
Há dez anos, ninguém imaginaria que varejistas entrariam no mercado de Saúde. Porém, em 2015, Jeff Bezos decidiu que a Amazon iniciaria sua investida na área.
Um mês atrás, a empresa anunciou que oferecerá aos assinantes do Amazon Prime dos EUA o plano de saúde One Medical, por US$ 9 por mês ou US$ 99 por ano. (O custo padrão é US$ 199 anuais.)
A One Medical foi comprada no início deste ano para a Amazon reunir nela a prestação de cuidado primário presencial nas clínicas; viabilizar atendimento de telemedicina; ter farmácias físicas; e fazer entregas médicas por drones.
Analistas do Morgan Stanley estimam que o mercado de saúde endereçável da Amazon seja de US$ 119 bilhões. Em 2023, a empresa deve aumentar sua receita em 10,32% e ultrapassar US$ 550 bilhões em vendas. Isso sem contabilizar o novo serviço médico.
Não é coincidência que o CEO Andy Jassy tenha dito que a Saúde é uma das novas áreas de negócios que podem ser um pilar da empresa.
Sem ver os números da Amazon e da Saúde americana, é difícil dimensionar o impacto que, a meu ver, será enorme. Então, vamos a eles!
O mercado global de Saúde foi avaliado em US$ 166,22 trilhões em 2022 e deverá atingir US$ 277,21 trilhões em 2027, de acordo com a Global Data.
Nos EUA, o setor é enorme – gastos na área representavam 18,3% do PIB em 2021, quando atingiram US$ 4,3 trilhões, ou US$ 12.914 dólares por pessoa e mais do que a maioria dos países ricos.
A sensação de que a conta vai estourar permeia toda a sociedade. Uma pesquisa da Statista elenca os problemas mais sérios enfrentados pelos americanos na área – os custos preocupam 30% das pessoas, acima do câncer (13%) e da tão falada e trágica crise dos opioides (16%), retratada no filme “O Retorno de Ben” e nas minisséries “Império da Dor” e “Dopesick”.
No e-commerce, a Amazon já é líder, detém 37,8% market share nos EUA. Ano passado, ela superou a UPS em entrega de pacotes para residências, depois de eclipsar a FedEx, em 2020. E após tentativas frustradas nos últimos anos, ela quer ganhar a Saúde! O retrospecto não é muito auspicioso.
Em 2018, ela abriu a Haven – joint venture com Berkshire Hathaway e JP Morgan, cujo objetivo era reduzir o custo de planos de saúde corporativos – e a encerrou no inicio de 2021.
Ainda em 2018, adquiriu a farmácia digital PillPack (rebatizada de PillPack by Amazon Pharmacy), que produzia e entregava embalagens para criar pacotes de uso de medicamentos, de acordo com hora e dia a serem tomados. Em abril deste ano, foi anunciado que vários produtos seriam descontinuados.
Praticamente no mesmo período, ocorreu a ascensão e derrocada da Amazon Care, que começou em 2019 como um teste de serviços de atendimento virtual de urgência e cuidados primários presenciais para funcionários da empresa, na região de Seattle. Ela expandiu rapidamente, porém, em final de 2022, a empresa decidiu não prosseguir com este negócio.
Agora, com a One Medical, a Amazon frustra quem esperava algo mirabolante. Contudo, justiça seja feita, a verve da empresa sempre foi possibilitar acesso a um serviço melhor e mais barato. Ela nunca foi uma deep tech.
A modelagem do negócio One Medical tem algumas vantagens. Parte de uma penetração de 67,1% do Prime entre os usuários de internet nos EUA e de uma bela base de clientes potenciais – há 167 milhões de assinantes do programa de benefícios da Amazon. Qual líder de Growth Marketing não vibraria com isso?
Não é pouca coisa, ainda mais quando se pensa que o brasileiro SUS – Sistema Único de Saúde é o único do mundo que atende mais de 190 milhões de pessoas e não é uma iniciativa privada.
Nos EUA, a assinatura do Prime custa US$ 14,99 por mês, se juntarmos a isso o valor da One Medical, gasta-se US$ 23,99 (cerca de R$ 120) ao mês para ter acesso a serviços de saúde e entregas gratuitas nas compras pelo e-commerce da Amazon. Para os ouvidos do consumidor estrangulado pelo orçamento é música.
Para termos de comparação, nas startups brasileiras Alice, o plano Conforto sai por R$ 533,01 para um adulto entre 24 e 28 anos de idade; na QSaúde, o plano Qmais II fica R$ 552,36 na mesma faixa etária. Já na Starbem, o plano individual mensal para 1 consulta/mês fica em R$ 39,97.
Hoje, além da Amazon, opera nesse setor o Walmart – com Walmart Health, com 25 centros de saúde; Walmart Insurance Services, que comercializa seguros de saúde; e Walmart Virtual Health Care, de telemedicina.
A diferença para a Amazon é que o programa Walmart+ deve encerrar 2023 com cerca de 29 milhões de assinantes, ou share de 12,5% dos domicílios com acesso a internet.
Entretanto, o desafio para ambas as empresas é o mesmo: convencer quem pensa nelas para fazer compras a recorrer a elas como uma opção de saúde.
*Omarson Costa é Diretor da TNB e conselheiro de administração para empresas dos setores de telecomunicações.
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