Bússola

Um conteúdo Bússola

Alea jacta est: O Futebol brasileiro precisa atravessar o Rubicão

Vivemos um momento histórico com os debates para a criação da Liga Brasileira de Futebol

Quando se trata do futebol brasileiro, o individualismo fala ainda mais alto (Alan Thornton/Getty Images)

Quando se trata do futebol brasileiro, o individualismo fala ainda mais alto (Alan Thornton/Getty Images)

Bússola
Bússola

Plataforma de conteúdo

Publicado em 15 de maio de 2023 às 20h00.

Por Renato Cirne*

Ao longo dos séculos, a expressão “atravessar o Rubicão” relembra o momento histórico quando Júlio Cesar, na época general romano, ultrapassava os limites do Rio Rubicão com sua Legião para ingressar no território interno de Roma, apesar de ser expressamente proibido pelo direito romano que qualquer general mobilizasse legiões sem autorização do Senado para além dos limites daquele curso d´água.

O rio Rubicão demarcava a fronteira entre a Gália e o território de Roma. Ao cruzar o Rio, sabendo que não poderia mais voltar atrás, Júlio Cesar teria então proferido a famosa “Alea Jacta Est”, que em latim significa “a sorte está lançada”.

A Travessia do Rubicão ficou então reconhecido ao longo dos séculos como uma expressão utilizadas ao ultrapassarmos um ponto sem retorno. É exatamente o que precisa acontecer com o futebol brasileiro envolvendo tanto as negociações para criação da Liga Nacional de Futebol quanto as decisões de gestão para a proteção da transparência e integridade do esporte, que se tornaram ainda mais urgentes após o início das investigações nas Operações Penalidade Máxima I e II.

Os grandes momentos históricos e grandiosos nem sempre são realizados em condições ideais. A aclamação é notadamente sempre posterior ao feito. Vivemos esse momento.

O futebol brasileiro: alicerce cultural e momento histórico

O futebol é parte da construção social do povo brasileiro. Tornou-se ao longo dos mais de 120 anos de sua história no Brasil esporte e entretenimento de interesse público e deve ser preservado como um alicerce cultural do nosso país. Além do mais, vivemos um momento histórico com os debates para a criação da Liga Brasileira de Futebol, entre a Libra (Liga do Futebol Brasileiro) e a Liga Forte Futebol, grupos que atualmente reúnem quase todos os 40 clubes das séries A e B do futebol brasileiro. Nos últimos meses, tanto a Libra e a Liga Forte Futebol avançaram em negociações com investidores para a venda de 20% dos direitos de TV e comerciais do Brasileiro a partir de 2025. As duas ofertas giram próximas a incríveis R$ 5 bilhões.

A sociedade brasileira precisa entender a importância dessa relação. Como ignorar que o futebol é, sim, fundamental para o Brasil e para o brasileiro? Não como instrumento alienante, mas como um elemento importante também para desenvolvimento econômico do país.

Neste momento de criação da Liga Brasileira de Futebol, estimulado pelo início da Operação Penalidade Máxima I e II (que provavelmente não serão as únicas), nosso futebol precisa atravessar o seu Rio Rubicão. Chegamos em nosso ponto de não retorno e a solução é enfrentar a “guerra” com as melhores ferramentas de gestão que nossa sociedade aprendeu ao longo dos últimos anos: transparência, controle, governança e compliance.

Cruzando o Rubicão e vencendo a Guerra

Apesar do reconhecimento claro do futebol esporte e entretenimento, ainda não se pensamos este esporte verdadeiramente como negócio. Quando se trata do futebol brasileiro, o individualismo fala ainda mais alto e, por exemplo, nos debates para a criação da Liga, um dos pontos mais controvertidos é divisão de receitas de TV. No entanto, o início da Operação Penalidade Máxima I e II fez com que esse debate de divisão de receita tenha que ser solucionado rapidamente: ou negociamos um acordo satisfatório para todos e implementamos no futebol as melhores práticas de gestão e, assim, asseguramos os investimentos prometidos ou nosso futebol ficará a deriva e perderá relevância e o crédito ao longo dos próximos anos, como aconteceu com o futebol Italiano ao longo dos anos 90.

No Brasil ainda temos a chance real de criar uma das ligas de futebol domésticas mais poderosas do mundo, como a espanhola e a inglesa. Além das propostas bilionárias já recebidas para vendas da nossa Liga Nacional de Futebol, as casas de apostas chegaram no Brasil para ficar: só na Série A, 19 dos 20 clubes são patrocinados por essas empresas. Em 2023, empresas do segmento de apostas vão investir no futebol 327 milhões em de reais em patrocínio, trazendo desenvolvimento e oportunidades. O volume de investimentos é enorme e as oportunidades só aumentam. Para uma gestão sustentável e segura, precisamos, de forma imediata, implementar algumas ações claras e efetivas: regulamentação das casas de apostas, obrigação de implementação de controle claros, como os bancos fizeram ao longo dos anos, ações de governança e transparência com o apoio de comitês de integridade, treinamentos para propagação e cultura, bem como a instituição de canal específico para relatos de transgressões a regras ou comunicação de crimes.

O nosso futebol brasileiro, os clubes, os fãs e até as casas de apostas são vítimas dessa suposta ação criminosa. O momento é de mais ações e menos discursos. Crises geram oportunidades. Que todos os responsáveis escancarados na Operação Penalidade Máxima I e II sejam punidos com o máximo rigor da lei. Do outro lado, nós que amamos o futebol devemos nos unir. Uma Liga grande, forte e ética vai gerar um produto superior, desenvolvimento econômico para o país e fortalecimento de um esporte tão relevante para nossa cultura e para nossa sociedade. A sorte está lançada.

*Renato Cirne é sócio do Franco de Menezes advogados

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

Roupas fitness são os presentes mais procurados para o Dia das Mães

Usuários do Gympass agora podem dançar com aplicativo FitDance+

De bebidas a produtos de beleza: conheça 6 clubes de assinatura

Acompanhe tudo sobre:FutebolFutebol italianoFutebol inglêsEsportes

Mais de Bússola

Entidades alertam STF para risco jurídico em caso sobre Lei das S.A

Regina Monge: o que é a Economia da Atenção?

Brasil fica na 57ª posição entre 67 países analisados no Ranking Mundial de Competitividade Digital 

Gilson Faust: governança corporativa evolui no Brasil, mas precisa de mais