(Thomas Barwick/Getty Images)
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Publicado em 8 de abril de 2025 às 10h00.
Por Mauro Wainstock*
As incongruências que permeiam o universo corporativo são tantas que me vi compelido a listar algumas delas neste artigo. Que este texto sirva para provocar reflexões nas lideranças e as faça agir.
Estudos revelam que o Brasil é um dos países com o maior índice de turnover. A incessante rotatividade de colaboradores assola as empresas e se transforma em um ciclo vicioso que parece não ter fim: insistir nas mesmas abordagens trará os mesmos resultados frustrantes. Urge encontrar soluções disruptivas, imergindo nos anseios genuínos dos colaboradores. Essa mudança de perspectiva não apenas estancará a sangria financeira que as empresas perdem com o turnover, mas também impulsionará a produtividade, fortalecerá o senso de pertencimento e reforçará a marca empregadora, um ativo intangível de valor inestimável.
Neste sentido, a pergunta que ecoa é: como trilhar esse novo caminho?
Não é a pergunta que vale milhões, mas a resposta que propicia um significativo ganho econômico: a educação estratégica.
Um profissional sensato, que vislumbra oportunidades concretas de ascensão e, por conseguinte, de crescimento profissional, teria razões para buscar novos horizontes se a empresa oferecer como benefício o pagamento de sua formação acadêmica? E se esse investimento, além de contribuir para a manutenção do colaborador na empresa, ainda gerar um retorno financeiro? Estudos de caso brasileiros demonstram resultados extremamente positivos, de no mínimo duas vezes o capital aplicado no final do primeiro ano.
Ao buscar o significado da palavra “reter”, encontrei a seguinte definição: "manter algo, não permitindo que seja liberado", com o complemento de que "impedir alguém de sair de determinado local, como uma ação policial".
É essa a imagem que as empresas desejam projetar, a de carcereiros de talentos?
Prefiro adotar termos mais inspiradores e alinhados a uma gestão humanizada: cultivar o engajamento e fidelizar talentos. Essas expressões evocam cuidado real, capacitação contínua e uma relação de ganha-ganha, muito mais condizente com o que se espera de um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
A diversidade se manifesta nas múltiplas facetas de cada indivíduo. A verdadeira força reside na conscientização da importância da interseccionalidade e no poder da colaboração genuína. A inclusão não é um mero item de marketing ou do ESG, mas um imperativo para a inovação e o crescimento sustentável.
Fragmentar pessoas em "blocos" estanques ignora a riqueza da experiência humana. Como aprofundar o conhecimento sobre as diversas perspectivas e necessidades se a comunicação é direcionada exclusivamente a quem já possui "lugar de fala" e exclui os demais da conversa? A construção de um ambiente verdadeiramente inclusivo exige a quebra dessas bolhas e o fomento de um diálogo aberto e transversal.
O ano de nascimento de um profissional define seu potencial? Ou isto está atrelado ao comportamento proativo, às habilidades atualizadas, ao conhecimento sedimentado, ao talento adquirido, à maturidade conquistada, à experiência vivida, à entrega consistente de resultados, à ética e valores? Estes não deveriam ser os verdadeiros pilares das avaliações?
Qual a lógica de prejulgar o potencial de um candidato com base exclusivamente em sua geração, negligenciando as qualificações intrínsecas exigidas para a função? Essa miopia pode custar caro: empresas que ignoram profissionais com mais de 40 anos perdem a oportunidade de contar com alguém que já vivenciou diferentes cenários e crises, contribuindo com uma perspectiva valiosa e, de acordo com os dados do Ministério do Trabalho, que tem muito mais lealdade à empresa.
Estudo da McKinsey & Company revelou que 50% dos recrutadores hesitam em contratar candidatos com mais de 45 anos.
Reproduzo abaixo depoimentos de Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn para América Latina e África:
"Não somos nós que precisamos nos encaixar em empresas que determinam um prazo de validade para os talentos – são elas que perdem por não enxergar esse potencial. O mercado ainda subestima o valor da senioridade – e isso não deveria ser aceitável."
"A experiência deve ser vista como um ativo valioso. O futuro do trabalho não pertence apenas aos mais jovens, mas sim àqueles que continuam aprendendo, se reinventando e contribuindo, independentemente da idade."
"A colaboração intergeracional não só enriquece os resultados, mas também promove soluções mais criativas e eficazes para os desafios empresariais."
A conclusão é inegável: a mescla de gerações, a riqueza de opiniões, as variadas bagagens de vida e as distintas formas de pensar enriquecem o debate, tornando os insights mais robustos e, consequentemente, o surgimento de soluções mais viáveis, ágeis e lucrativas.
No complexo labirinto do mundo do trabalho, outros paradoxos também nos desafiam:
E você, já se deparou com alguma dessas intrigantes contradições no seu dia a dia profissional?
*Mauro Wainstock é o 16º influenciador do mundo em Diversidade e inclusão, foi nomeado LinkedIn TOP VOICE (3 selos), é diretor da Associação Brasileira dos Profissionais de Recursos Humanos, membro do Instituto Brasileiro de ESG, conselheiro de empresas, palestrante e consultor sobre turnover e Comunicação Intergeracional.
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