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Ageless: incluir não é chamar para dançar

Se a inclusão não for decorrente da vontade genuína e de uma cultura enraizada no grupo todo, todos podem acabar dançando. E, de manhã, estarão de ressaca...

Acompanhe a coluna deste mês do jornalista e Linkedin TOP VOICE Mauro Wainstock (Skynesher/Getty Images)

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Publicado em 1 de abril de 2024 às 07h00.

Por Mauro Wainstock*

Provavelmente isto também acontece contigo: seja em congressos, lives ou reuniões sempre ouço a mesma frase... “Diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar para dançar, de autoria de Vernā Myers, vice-presidente de inclusão na Netflix.

No Linkedin, esta reprodução ocorre várias vezes ao dia.

Entendo o conceito e a intenção positiva mas, como jornalista e consultor de diversidade etária, tomo a liberdade de fazer algumas reflexões. Acompanhe o meu raciocínio:

Quantas vezes acontece essa tal festa? No mundo corporativo, esta referência é comparada a algo pontual, a algum evento esporádico?

Quanto tempo o convidado a ser “incluído” ficará na pista de dança? Duas, três horas?

Este convite foi algo espontâneo do organizador, a ideia partiu dos convidados ou foi devido a alguma atitude semelhante que aconteceu em outros locais e o realizador se sentiu na obrigação de repetir?
Será que de fato é assim que a banda deve tocar?

Se a inclusão não for decorrente da vontade genuína e de uma cultura enraizada no grupo todo, todos podem acabar dançando. E, de manhã, estarão de ressaca...

A verdadeira integração é consequência da valorização e do empoderamento

Não tem sentido convidar apenas para agradar; antes vem a conscientização. Não basta apenas letrar; é imprescindível ter uma agenda contínua. Chamar para a festa ou para a dança não é suficiente, é preciso tornar cada momento de convivência positivamente memorável!

Incluir é respeitar, acolher e motivar o convidado. No dia a dia. Melhor ainda: é transformá-lo em coorganizador! É acreditar no potencial e incentivá-lo com ações concretas. É variar a música para diversificar e desafiá-lo construtivamente.

Neste sentido, trago mais um ponto para a sua análise: como ficam aqueles que se sentem invisíveis nas baladas? 

Vamos imaginar o caso específico dos profissionais 40+

Há treinamentos de atualização para as suas necessidades específicas? Que benefícios corporativos estão sendo contemplados que ofereçam mais tranquilidade aos profissionais desta faixa etária? Como estão as trocas geracionais, por exemplo, através de mentorias e hackatons? Como está o processo para a formação de líderes e a preparação em termos comportamentais? 

Em 2023, 7,3 milhões de brasileiros deixaram voluntariamente seus empregos, segudo a LCA Consultores. Pesquisas desenvolvidas este ano de forma individualizada pela FIA Business School, Gupy, LinkedIn e Catho chegaram às mesmas conclusões sobre os principais motivos: o salário e os benefícios insatisfatórios; a falta de reconhecimento, de desafios e de oportunidades de crescimento; o ambiente de trabalho tóxico e a pouca flexibilidade e autonomia.

Nenhuma surpresa. Mas, se a intensa rotatividade gera custos elevadíssimos, por que o mercado não age?

E ainda culpam o salário e os benefícios dos 40+ para não convidá-los para a confraternização? Justamente os profissionais mais leais, que possuem rica vivência, imensa bagagem, que já participaram de todos os tipos de dança e têm um jogo de cintura invejável?

É esta a postura organizacional?

Há alguns dias a ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos) e a empresa de tecnologia Umanni divulgaram a terceira edição da pesquisa “O Cenário do RH no Brasil”, realizada com cerca de 900 profissionais de Recursos Humanos.

Para os entrevistados, os principais desafios são: Cultura Organizacional (51%), Desenvolvimento de Liderança (49,6%), Automação dos processos de RH (49,4%) e Desenvolvimento dos Colaboradores (28%).

Outro relatório, “State of the Global Workplace”, publicado em 2023 pelo Gallup, constatou que 60% dos profissionais não estão enxergando propósito nas tarefas que têm executado.

Diante destes dados, a especialista Beatriz Cara Nóbrega, Chief Human Resources Officer, recomenda um alinhamento no processo de atração e seleção das empresas com a cultura organizacional, bem como investir no desenvolvimento profissional.

Ela enfatiza: “Nenhuma empresa sobrevive ao alto turnover. Temos que ser proativos em encontrar estratégias eficientes para formar e nutrir equipes que superem suas metas, com saúde e felicidade. Além disto, é necessário explorar o poder da liderança inspiradora e ter uma comunicação eficaz para alimentar o engajamento e a motivação para o desempenho da equipe!

É exatamente a experiência dos 40+ em lidar com as mais diversas empresas, culturas e pessoas o diferencial competitivo que pode permitir às organizações encontrar soluções mais ágeis e assertivas. E tem mais: muitos deles não priorizam o salário, mas querem se sentir úteis, produtivos e pertencentes a um grupo. Eles entendem que é uma oportunidade de absorver conhecimentos, de criar e aprofundar o valioso networking.

Portanto, liderar este movimento vai muito além de convidar para dançar a música da moda.

Bora festejar ações práticas, reais e contínuas. Faça acontecer agora!

*Mauro Wainstock foi nomeado Linkedin TOP VOICE, é membro do Instituto Brasileiro do ESG, mentor de executivos, conselheiro de empresas, palestrante sobre diversidade etária/integração geracional e sócio-fundador da consultoria HUB 40+.

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