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Adhocracia: a inovação começa na gestão de pessoas

Em artigo exclusivo, Alexandro Barsi fala de um conceito essencial à transformação ágil e digital

 O termo foi criado pelo acadêmico americano Warren Bennis em 1968 (oatawa/iStockphoto)

O termo foi criado pelo acadêmico americano Warren Bennis em 1968 (oatawa/iStockphoto)

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Publicado em 28 de julho de 2023 às 14h29.

Última atualização em 31 de julho de 2023 às 11h16.

Por Alexandro Barsi*

"Ninguém pode esperar um resultado diferente fazendo tudo sempre igual". A adaptação da frase erroneamente atribuída a Einstein diz muito sobre a atitude de algumas empresas que querem fazer a transformação digital sem mudar o mindset. Para ser competitivo nessa era digital é essencial transformar as pessoas, a forma de se organizar e o pensamento da liderança. É isso que digo para os clientes que nos procuram em busca de acelerar o processo de transformação digital.

As antigas estruturas organizacionais, burocráticas e hierarquizadas, não dão mais conta de acompanhar as demandas atuais. Neste contexto, surge uma abordagem organizacional que facilita uma gestão flexível, rapidamente adaptável às mudanças e que busca promover a inovação, a criatividade e a agilidade nas empresas.

Bem-vindo à Adhocracia

O autor do termo foi o acadêmico americano Warren Bennis em seu livro de 1968, "A Sociedade Temporária", e popularizado em 1970 por Alvin Toffler na obra "Choque do Futuro". Ambos estudavam gestão e liderança ligadas às mudanças tecnológicas que começavam a acontecer na sociedade. Desde então passou a ser utilizado na teoria de gestão de organizações e aparece com força no momento atual, que também já pode ser chamado de “Era da Agilidade”.

A palavra adhocracia é uma junção do “ad hoc” (do latim, que significa “para esta finalidade”) com o sufixo grego “cracia” (do grego, poder ou governo) e pode ser entendida como "governo para uma finalidade específica". E é isso que esse modelo de gestão proporciona. Ao invés de uma hierarquia rígida, as empresas adhocráticas se organizam em times multidisciplinares com “poder” para tomar decisões rápidas para atingir objetivos específicos.

Em cada time, cada membro possui responsabilidades claras, mas também a liberdade para contribuir com ideias e soluções. Com processos burocráticos reduzidos, há maior agilidade na tomada de decisões e as informações fluem de forma mais rápida e direta, estimulando a criatividade e a inovação. No linguajar das metodologias ágeis, que ultrapassaram os limites do ambiente de tecnologia e se tornaram dominantes no mundo dos negócios como um todo, esses times são chamados de squads.

Como define Julian Birkinshaw, professor de estratégia e empreendedorismo na London Business School: Ágil é a metodologia que avançou mais na operacionalização da adhocracia. Na verdade, é a metodologia usada para implementar essa abordagem na prática.

A adhocracia pode ser entendida como uma oposição à burocracia, que se caracteriza por um conjunto de normas rígidas, hierarquia bem definida e processos praticamente imutáveis. Na adhocracia, os times atuam de forma horizontalizada e os processos são adaptáveis aos objetivos e problemas que surgem no decorrer das tarefas.

Entre as vantagens que essa abordagem pode oferecer às empresas que a adotam estão: aumento da qualidade e redução dos prazos de entrega dos produtos e serviços; maior capacidade de inovação; satisfação dos funcionários, com turnover mais baixo; e agilidade nos processos internos.

Desafios da implementação

Apesar dos potenciais benefícios, a adhocracia também impõe desafios. A gestão desse modelo requer uma liderança habilidosa, capaz de promover a autonomia e a colaboração, mas sem perder o foco nos objetivos estratégicos da empresa. Neste ponto, o modelo conversa muito bem com a liderança servidora, que se dedica a ouvir e ajudar no desenvolvimento dos liderados. Uma cultura organizacional sólida, baseada em confiança, transparência e respeito mútuo também se faz necessária.

Empresas que adotam esse modelo não abolem totalmente regras ou hierarquia. A ideia é ser mais flexível, como pode ser observado em empresas de tecnologia e startups, que têm se beneficiado muito desse modelo de gestão.

Dois bons exemplos de empresas adhocráticas são Spotify e Riot Games, duas líderes de seus segmentos e referência no desenvolvimento da cultura Ágil. Na Riot Games, os funcionários atribuem o imenso sucesso da empresa em parte à cultura ágil e é um dos estudos de caso mais conhecidos sobre o tema.

Empresas de outros segmentos têm adotado o modelo de gestão adhocrático para acelerar sua transformação digital. Um dos exemplos globais foi o do banco ING da Holanda, um caso controverso pela forma e velocidade como foi implementado, em 2015, afetando 3,5 mil funcionários da sede da instituição de uma vez só.

Os defensores do processo apontam melhorias como maior percepção de valor pelo cliente e redução do tempo de desenvolvimento de produtos e serviços. Mas houve também acusações de que o banco se aproveitou para um grande corte de pessoal disfarçado.

Empresas adhocráticas tendem a se destacar no mundo atual, pois estão sempre se reinventando e buscando soluções diferenciadas para os problemas. A flexibilidade rende seus dividendos, permitindo às empresas se adaptarem rapidamente às mudanças de tecnologias, cenários econômicos e demandas de clientes.

A forma como nos organizamos nas empresas também faz parte da inovação e da transformação digital. No fim do dia, é tudo sobre pessoas.

*Alexandro Barsi é fundador e CEO da Verity

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