Falta muito preparo e experiência para jovens se destacarem (We Are/Getty Images)
Bússola
Publicado em 14 de julho de 2022 às 19h50.
Não está nada fácil conseguir emprego no Brasil. Entre os jovens, os dados são ainda mais desanimadores. De acordo com o Ministério da Economia, em 2021, por exemplo, enquanto a taxa geral de desemprego estava em 14,7% em agosto, entre jovens a fatia de pessoas à procura de trabalho era de 31% do total.
Esse dado não se deve só à crise que estamos atravessando agora, mas já vem há muito tempo. São seis anos em que pelo menos dois em cada dez jovens de 18 a 24 anos procuram, mas não encontram uma vaga de trabalho.
Isso se deve a diversos fatores, um deles é a falta de experiência. E apesar de vocês pensarem que é óbvio um jovem não ter desenvolvido habilidades para alguma área específica, tendo em vista que é o primeiro emprego, o mercado ainda exige isso dele.
Há também um conflito de gerações. É bem comum que as pessoas das gerações Y e Z, ou seja, que nasceram na década de 1980 até os anos 2000, tenham perfil comportamental bem diferentes dos mais velhos. Aceitar que um jovem que nasceu em uma época tecnológica e que tenha a contribuir com quem está há mais tempo no mercado é ainda um tabu, infelizmente.
Entretanto, você, que hoje está com uma carreira consolidada, provavelmente também precisou começar de alguma maneira e, certamente, também teve lá seus desafios. Atire a primeira pedra quem nunca teve dúvidas sobre o que colocar em um currículo ou teve medo de gaguejar na frente de um recrutador.
Esses anseios antigos são os mesmos de hoje. Por isso, precisamos mudar e inserir os jovens no seu primeiro emprego. Escancarar a porta de entrada do primeiro emprego, em vez de deixá-la tão estreita. Há inúmeras maneiras de se fazer isso.
Uma delas é unir o ensino médio ao programa Jovem Aprendiz, onde por lei empresas de médio e grande porte devem contratar jovens com idade entre 14 e 24 anos como aprendizes. Contudo, nem todo estudante sabe disso e tem acesso a essa oportunidade. As escolas públicas deveriam estar conectadas com as empresas. O contrato de trabalho pode durar até dois anos e, durante esse período, o jovem é capacitado na instituição formadora e na empresa, combinando formação teórica e prática. Os jovens têm a oportunidade de inclusão social com o primeiro emprego e de desenvolver competências para o mundo do trabalho, o que desenvolve nele uma série de habilidades que só se aprende na prática.
Todos os alunos inseridos no ensino médio deveriam participar de uma formação dual. O programa poderia ser uma ótima porta de entrada, já que é uma iniciativa que tem como objetivo ajudar a solucionar esse problema, mas ele não está conectado ao ensino médio como uma política pública integrada.
Outra maneira de apoiar a juventude a entrar no mercado de trabalho é levando até eles formação em tecnologia de ponta, como cursos de programação, robótico, desenvolvimento de softwares e games, e inglês de qualidade. Tudo isso conectado às demandas das empresas, áreas extremamente promissoras nos próximos anos. Estudo da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação) revela que serão criados no Brasil ao menos 797 mil postos de trabalho nessa área até 2025. Nesse período, serão formados 267 mil profissionais. O déficit será de 530 mil vagas abertas sem contratação.
Além de oferecer formação técnica e oportunidade de aprendizado prático e experiência, precisamos apoiá-los e ajudá-los a entender as ferramentas que são grandes aliadas nos dias de hoje para a carreira deles. Nas escolas, tenho falado bastante sobre a importância de se utilizar da internet para aprender em cursos gratuitos online, produzir um bom LinkedIn e ainda dou dicas de páginas onde podem procurar emprego. Também reforço muito a importância do desenvolvimento das habilidades socioemocionais, tão necessárias para vida.
Lembro sempre a eles que estamos na era do conhecimento, e que cada vez mais o aprendizado será ao longo da nossa vida, uma busca constante e sem fim, já que tudo muda o tempo todo e o conhecimento é o único meio capaz de nos manter ativos e preparados para lidar com um mundo cada vez mais complexo e dinâmico.
*Laiz Soares é formada em relações internacionais pela PUC Minas e pela Essca na França. Atuou liderando equipes e projetos no setor privado, em ONGs e no Congresso Nacional
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