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A nova corrida: com startups, Brasil encontra caminho na economia espacial

Crescimento da economia do espaço é um dos motivos por trás do boom do movimento de New Space e dos investimentos em spacetechs

Economia espacial triplicará e deve bater US$1 tri em 2040 (Blue Origin/Divulgação)

Economia espacial triplicará e deve bater US$1 tri em 2040 (Blue Origin/Divulgação)

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Publicado em 1 de agosto de 2022 às 17h00.

Última atualização em 3 de agosto de 2022 às 13h06.

Por Roberto Alvarez e Sidney Nakahodo* 

Imagine que estamos em 1784 e Cristóvão Colombo está levantando recursos para realizar uma viagem às Índias. A jornada das três caravelas de Colombo teve como lead investor a Coroa Espanhola. Os resultados, todos conhecemos. Em 2022, encontramo-nos em um momento similar, quando empreendedores, empresas de vários perfis, missões governamentais e privadas se lançam a uma nova fronteira: o espaço. 

Segundo estimativas do banco Morgan Stanley, a economia espacial triplicará o seu tamanho nos próximos anos, atingindo mais de um trilhão de dólares em 2040. Ao longo desta década, prevê-se a realização de mais de 100 missões para a Lua, e o lançamento para o espaço de uma quantidade sem precedentes de novos satélites, algo entre 17.000 e 30.000, conforme diferentes análises. Durante a Guerra Fria, motivações geopolíticas proporcionaram eventos históricos como a chegada do homem à Lua. O que estamos vendo é apenas o começo da nova corrida espacial, desta vez tendo as atividades comerciais como principal motivação.

O crescimento da economia do espaço é um dos motivos por trás do boom do movimento de New Space e dos investimentos em spacetechs. A isso, somam-se as possibilidades ímpares de impactar positivamente a vida na Terra, a convergência dos ciclos de investimentos com as startups puramente digitais, a busca por oportunidades diferenciadas e a possibilidade de participação em um mundo fascinante de tecnologia, inovação e exploração. 

Historicamente, as tecnologias geradas em um contexto de espaço têm causado grandes impactos a vida na Terra. O Projeto Apollo originou os computadores portáteis, os painéis de geração fotoelétrica, o forno de micro-ondas, materiais avançados como o kevlar e muito mais. Continuará a ser assim e há agora um grande potencial de tecnologias espaciais permitirem que avancemos em sustentabilidade na Terra. Spacetechs como Cemvita Factory e Insterstellar Lab são bons exemplos disso. A primeira captura e transforma metano e gás carbônico em polímeros, reduzindo o estoque de carbono na atmosfera e gerando valor na Terra; a segunda permite a produção de alimentos com até 99% mais eficiência no uso de água e outros recursos aqui mesmo no nosso planeta. 

O avanço da tecnologia, e dos processos de inovação, baseados em design e em modelos enxutos, mudaram a lógica econômica dos empreendimentos espaciais e dos investimentos em spacetechs. A reutilização dos foguetes e o método desenvolvimento de produtos com interações rápidas transformaram a indústria.  

A drástica queda nos custos para se colocar uma carga no espaço amplia o acesso e permite a alteração dos critérios de projetos de satélites e outros ativos espaciais: ao invés de serem projetados para durar por décadas, podem ter vidas mais curtas e serem substituídos em órbita. E atenção, um novo ciclo de democratização do acesso ao espaço virá com a Starship da SpaceX, e outros projetos. Essa nova dinâmica com foco em velocidade traz consigo uma outra novidade, a redução dos ciclos tecnológicos e de investimentos das New Space ventures, que hoje se aproximam muito das startups puramente digitais. 

Esse é contexto em que lançamos a Seldor Capital, fundo de venture capital baseado em Nova York, que investe em startups que têm atuação no espaço e/ou usam tecnologias espaciais para impactar à Terra. Até o momento, investimos em 10 startups baseadas nos Estados Unidos, Canada e Europa. Mas há oportunidades para o Brasil. 

Há pelo menos três caminhos imediatos para o Brasil fazer parte dos negócios da economia de New Space. Primeiro, por meio do acesso de investidores brasileiros a spacetechs com alto potencial de crescimento. Segundo, pelo uso de tecnologias espaciais em setores da economia nacional que têm expressão mundial, como o agronegócio, a mineração, a bioenergia e outros – spacetechs como a Lunasonde, que desenvolve tecnologia para realizar partir do espaço a descoberta de depósitos minerais e de água, têm grande potencial. Terceiro, por meio de parcerias entre empresas e organizações brasileiras e spacetechs como a Aphelion Aerospace, que desenvolveu um foguete que utiliza etanol e poderia associar-se a produtores brasileiros e mesmo lançar o veículo da Base de Alcântara. Há muitas oportunidades, e um país do tamanho, a sofisticação econômica e a relevância do Brasil não deveria perder este foguete. 

O momento da nova economia do espaço é agora. Desta vez não serão apenas os monarcas espanhóis que participarão do financiamento de empreendimentos que irão transformar a humanidade e expandir suas fronteiras. As spacetechs cobrem um amplo espectro de aplicações e cada vez mais permitem democratizar o acesso à nova economia espacial. Tem espaço para você nesta missão.  

*Roberto Alvarez é venture partner da Seldor Capital, e Sidney Nakahodo é general partner da Seldor Capital

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