O tema da redação deste ano do ENEM se mostrou muito pertinente (The Good Brigade/Getty Images)
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Publicado em 8 de novembro de 2023 às 08h00.
Última atualização em 8 de novembro de 2023 às 14h11.
*Por Suen Melo
A falta de conhecimento da história brasileira em relação ao processo de crescimento da mulher como figura importante na construção da cidadania, atrelada às culturas internalizadas e repassadas no processo de construção familiar, é um dos fatores que ampliou a invisibilidade da mulher que deparamos em pleno século XXI. Nesse contexto, o tema da redação deste ano do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) se mostrou muito pertinente, já que ter autonomia na escolha do seu trabalho ainda é uma realidade de poucos e podemos incluir as mulheres nesse aspecto.
É interessante quando o tema da mulher cuidadora e invisível é proposto a milhões de jovens (recém formados no ensino médio), adultos ou idosos que ainda sonham em ter uma vivência acadêmica por alguma falta de oportunidade. Até porque a figura da mulher normalmente está presente em todas as etapas da vida dessas pessoas que buscam o conhecimento e uma história promissora no campo do trabalho e, simplesmente, na realização dos seus sonhos.
O acesso à educação de qualidade, infelizmente, não é para todos. As dificuldades podem ser ainda maiores quando se é mulher e se refletem quando é necessário unir independência financeira, com cuidados com a casa e com os filhos, além de outras inúmeras atribuições que foram depositadas culturalmente pela nossa sociedade.
Voltando ao tema da redação do ENEM, podemos destacar três contextos importantes como palavras-chaves: desafios, enfrentamento da invisibilidade e o trabalho de cuidado. Assuntos sociais de extrema importância que já foram tema de outros exames como o de "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil" (tratado em 2021) e "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil" (tratado em 2022), dos quais ressaltaram a palavra visibilidade e desafios explorando a crítica social/histórica e a busca da equidade social.
Eu como mulher, dona de casa, professora, educadora, ser humano, cidadã brasileira que vivo essa experiência a cada dia, sinto-me honrada ao me deparar com um tema necessário e que joga luz a questões que ficam muitas vezes apagadas. Como exemplo, está a contribuição da mulher ao desempenhar o papel de assistência familiar como prioridade, a transformação social que vem sofrendo e as conquistas através da busca do individualismo, a importância das tarefas diárias na gestão de um lar, especialmente lavar, passar, limpar, cozinhar, entre outras, pois todos nós sabemos que uma casa bem cuidada exige manutenção, dedicação e que são trabalhos infinitos que nunca acabam.
Estamos falando de um trabalho eterno e que normalmente não é visto porque está sempre pronto, quando a casa está arrumada, a comida quentinha e a roupa lavada e passada. Enquanto houver vida na casa, há trabalho de manutenção. E é sempre bom lembrar que tão importante quanto a boa conservação do lar é saber cuidar de quem cuida.
Por muito tempo as mulheres foram consideradas o sexo “frágil” e isso desvalorizou muito a nossa importância social, o nosso espaço e, certamente, nos tornou invisíveis perante a sociedade. A definição das palavras torna claro que somos igualmente consideráveis, exceto pela questão dos gêneros. O direito ao processo de cidadania como exercício da liberdade fica nítido e concreto no contexto social. Participar da vida social com o poder da influência e decisão é para todos independente do gênero.
É por isso que a temática do exame do ENEM pode ser considerada um presente, já que agrega informações necessárias para reforçar o debate. No primeiro texto de apoio apresentado aos candidatos na prova, destaca-se a relevância das tarefas do dia a dia, ou seja, a gestão de um lar e sua disponibilidade na manutenção, já no segundo texto, o tempo gasto nessas atividades é realçado como fator relevante ao desempenho da mulher excluindo assim de se dedicarem a outras atribuições. O terceiro texto, trata de uma análise oficial do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre o processo de transformação social, do papel da mulher e a busca do individualismo e, por fim, o quarto texto aborda dados da Revista Fapesp sobre a contribuição da mulher que ainda desempenha o papel de dar assistência familiar como prioridade, ao invés de priorizar outros aspectos da sua própria vida.
Finalizo reforçando a importância da mulher no campo histórico, social, cultural, empresarial, familiar e político que vem se destacando e ocupando seu espaço com o passar dos anos, porém não se deve esquecer “jamais” de tudo que foi vivido, construído em prol dessa luta do reconhecimento social/individual que ainda se rasteja pelas famílias brasileiras nos tempos atuais. Devemos seguir lutando com o propósito de alcançar cada vez mais vitórias.
*Suen Melo é professora de redação do Elite Rede de Ensino.
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