Patrícia Nader, líder de ESG da Good Karma Partners (Divulgação/Divulgação)
Sócio-diretor da Loures Consultoria - Colunista Bússola
Publicado em 27 de abril de 2023 às 21h00.
Última atualização em 6 de novembro de 2023 às 17h44.
1. Como é a metodologia desenvolvida pela gestora para avaliar impacto socioambiental dos investimentos?
Patrícia Nader: A Good Karma nasceu com o propósito de ativar capital financeiro e intelectual para escalar empresas que estejam resolvendo grandes desafios globais, gerando retorno financeiro. Diferente da análise financeira, em que existe consenso sobre quais métricas se deve utilizar para calcular o retorno, no impacto ainda não existia esse conceito bem difundido.
Por isso, desde o começo, colocamos como prioridade trazer o mesmo rigor do mundo financeiro para o de impacto, para medir e sobretudo monetizar efetivamente o benefício socioambiental que foi produzido. Então fizemos uma parceria com o Insper Metricis para elaborar um Guia de Monetização de Impacto Social e uma métrica própria. E assim nasceu o Mdl (Múltiplo de Impacto), que se baseia em evidências para projetar um fluxo de caixa de impacto para cada empresa, e que assim permite dizer que valor em reais foi gerado na sociedade para cada R$ 1 investido na empresa. O que buscamos é trazer para o mundo do impacto o mesmo rigor das métricas do mercado financeiro, saindo da subjetividade
O cálculo da Good Karma compreende cinco etapas: 1) construção da narrativa de impacto; 2) avaliação da relevância e escala; 3) identificação dos resultados sociais e/ou ambientais alvos; 3) estimativa do valor econômico desses resultados para a sociedade; 4) ajuste para riscos; e 5) cálculo do retorno social de cada real investido. Os cálculos matemáticos são bastante complexos e se baseiam em estudos científicos e evidências. Quando não há precisão de dados, é aplicado um “desconto” do impacto gerado, para evitar contabilização exagerada ou fora da realidade.
2.Como isso se dá na prática com as principais investidas da Good Karma?
Patrícia Nader: Na prática, o cálculo apresenta a relevância, avalia a viabilidade e justifica os investimentos. Nesse sentido, a mensuração de impacto aparece como uma das ferramentas mais valiosas para os projetos de impact growth, principalmente porque, no fim do dia, o que se busca é o impacto, claro, mas também o retorno financeiro. Já concluímos o MdI de todas as empresas do nosso portfólio:
Para o cálculo do impacto social, o Zenklub tem dois públicos-alvo: pacientes e profissionais. Para calcular o lado do paciente, estimou-se que 1 milhão de pessoas poderiam ser impactadas pela empresa num período de cinco anos. Dessas pessoas, cerca de 400 mil seguiriam um tratamento continuado e 16% se recuperariam da depressão. Cada pessoa que sai de um quadro de doença tem um aumento de renda médio de 42%, além de 7 a 10 anos adicionais de vida, o que representa um aumento de renda de R$ 600 milhões. Na outra ponta, mais de 14 mil profissionais de saúde teriam um incremento de renda de R$ 300 milhões. Somando os dois públicos, chegou-se a um impacto de R$ 900 milhões gerado pela Zenklub em cinco anos.
Na parte ambiental, estimamos as emissões evitadas de gases do efeito estufa, assim como as melhorias no nível de produtividade do solo geradas pelo aprimoramento do manejo. Para chegar no cálculo do MdI de Rehagro, a gestora multiplicou o valor presente líquido atribuído ao impacto social e ambiental da empresa pela participação do fundo, e dividiu pelo valor investido, resultando no múltiplo de 12,8 vezes. O impacto de R$ 1,2 bilhão considera 61% de aumento na produção de alimentos e 39% de redução de carbono, dois fatores resultantes do aumento da produtividade gerado pelo projeto, mais o valor da perpetuidade.
3.Esses retornos obtidos estão dentro do esperado pelos investidores? Qual a importância que eles dão à medição?
Patrícia Nader: Aqui na Good Karma estabelecemos, entre outras coisas, que nossos investimentos precisam dar, pelo menos, duas vezes de impacto cada real investido. Mas estamos revisitando essa meta, porque notamos que esse retorno pode ser muito maior, dentro de um projeto bem elaborado e realmente de impacto. As quatro empresas do nosso portfólio têm, em conjunto, o potencial de entregar um múltiplo médio de quase 11 vezes, ou seja, mais de 5 vezes a nossa meta inicial. E do lado de retorno financeiro, todas as empresas estão entregando as teses propostas, crescendo em 2022 mais de 50% em relação ao ano anterior e demonstrando que não é preciso abrir mão de retorno financeiro para gerar impacto – é justamente o contrário.
A medição é fundamental para a prática de investimento de impacto. Ela demonstra o impacto socioambiental que esses investimentos estão tendo, o que legitima ainda mais a prática. A medição eficaz gera valor para todas as partes interessadas em investimentos de impacto, mobiliza mais capital e aumenta a transparência e a responsabilidade pelo impacto gerado.
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