2023 será o ano de consolidação do PIX e das carteiras digitais (FG Trade/Getty Images)
Bússola
Publicado em 7 de fevereiro de 2023 às 17h00.
Por Lucas Iván González*
O mercado digital vem caminhando a passos largos. Há pouco mais de 20 anos, para realizarmos uma compra era preciso ir até a loja física para escolher o produto. Hoje, com apenas um clique conseguimos comprar os mais diversos itens. Em apenas 10 anos, de 2012 até 2022, o e-commerce brasileiro saltou de um faturamento de R$ 22,5 bilhões para uma estimativa de aproximadamente R$ 170 bilhões – um crescimento acumulado de mais de 655%. Para acompanhar esse crescimento, o mercado de pagamentos digitais também precisou evoluir. Um segmento que antes era dominado pelos boletos bancários e cartões de crédito, hoje abre espaço para o Pix e outras formas de pagamento cada vez mais inovadoras e que rapidamente se tornam tendências.
A indústria de pagamentos na América Latina, em especial a do Brasil, é das mais ágeis e dinâmicas no mundo. O nível de bancarização no país é alto (84%) em comparação a seus pares na região (73.5% em média) e vem crescendo impulsionado pela digitalização da população e pelas fintechs que permitem uma bancarização mais rápida e com baixas restrições. Apesar disso, a indústria de pagamentos tem muito para crescer e se desenvolver considerando que aproximadamente 40% das transações do e-commerce são feitas com meios de pagamento alternativos. Isto somado à preferência dos brasileiros em fazer compras parceladas e, considerando que o único meio de pagamento massivo que permite parcelar são os cartões de créditos, gera uma oportunidade importante no mercado para novas soluções com maior inclusão e facilidade para realizar pagamentos.
Se 2022 foi um ano de muito avanço e conquistas para a indústria de pagamentos, apesar das incertezas econômicas ou pela diminuição do nível do investimento em comparação aos anos anteriores, 2023 vai ser a consolidação definitiva do Pix, lançado em novembro de 2020, junto à eclosão das carteiras digitais. Na minha visão, esse meio de pagamento foi, sem dúvida, o grande destaque do ano passado e motivos não faltam: além da usabilidade e praticidade do meio de pagamento, o crescimento se deu devido aos incentivos feitos por algumas lojas que ofereciam algum benefício para quem pagasse com a modalidade. Segundo o Estudo de Pagamentos Gmattos, em julho de 2022, 78% das lojas ofereciam a opção de pagamento por Pix, e estima-se que a aceitação chegue a mais de 90% este ano.
Já os pagamentos com carteiras digitais (seja virtualmente ou com aproximação no físico) via aplicativos que permitem às pessoas fazerem pagamentos com o celular, ganharam espaço após a pandemia da Covid-19 e vieram para ficar. Ano passado, compras com carteira digitais representaram 11% de todas as transações de e-commerce no Brasil e, segundo o estudo Beyond Borders, 2022-2023, realizado pela EBANX, o número de consumidores que pagarão com carteiras digitais no mundo ultrapassará 4 bilhões em 2023, sendo 1,6 bilhão nas compras presenciais, o que vai corresponder a 30% dos recebimentos em estabelecimentos físicos.
Enquanto isso, outro meio de pagamento digital em expansão é o Buy Now, Pay Later (Compre Agora, Pague Depois) que por muitos anos foi chamado de crediário, agora vem se digitalizando e permite, quase que instantaneamente, realizar uma compra parcelada sem que a pessoa tenha conta bancária ou cartão de crédito. Entre julho e dezembro de 2022, a aceitação do BNPL subiu pouco mais de 10 pontos percentuais, passando de 15,3% para 25,4% e, para 2023, as expectativas são ainda maiores, mesmo porque no Brasil 40% das pessoas adultas possuem um cartão de crédito e o limite médio dos cartões de crédito é R$ 1.500. Isso demonstra a oportunidade para crescer em importância na preferência das pessoas em fazerem suas compras.
Outra candidata a destaque no universo de meios de pagamento do ano são as criptomoedas. Sem dúvidas, este foi um dos assuntos mais comentados na América Latina, um dos territórios que mais concentra pessoas que investem em criptoativos no mundo. Só na região, 11% da população com criptomoedas realizou compras com esses ativos até o momento, representando em 2022 apenas 0.03% da indústria de e-commerce latino-americana. Isso acontece principalmente porque as pessoas olham as criptomoedas como uma forma de investimento, para proteger o capital frente às altas taxas de inflação, ambientes geopolíticos instáveis e moedas desvalorizadas em vários dos países da região.
Contudo, com o fortalecimento do ambiente regulatório e com o lançamento esperado do Real Digital para finais de 2024, o CBDC brasileiro deve desempenhar papel essencial para esse movimento irreversível de digitalização do dinheiro. Na medida em que o real que conhecemos pode ser representado por um token e transacionado através de uma blockchain, são infinitas as possibilidades que se abrem relacionadas a uma nova economia de tokenização.
Outras tendências que devemos ficar atentos são o Click-to-play, o SoftPOS e o Open Banking (agora Open Finance). Na Click-to-play se realiza a compra com um clique, usando a tokenização como um dos elementos funcionais. Além da simplificação no checkout, outra vantagem é a renovação automática do número do cartão, uma vez que o serviço está totalmente integrado ao ecossistema de pagamentos.
Já O SoftPOS permite que smartphones e tablets aceitem pagamentos via NFC e funcionem como terminais de pagamento sem nenhum hardware adicional. Embora eu, particularmente, não veja os smartphones substituindo os terminais, começaremos a ver cada vez mais SoftPOS nas lojas, players tradicionais e até carteiras digitais com áreas de negócios B2B trabalhando neste caminho.
Por sua vez, o Open Finance que começou a ser implantado no Brasil em fevereiro de 2021, vai ao encontro das demandas por maior inovação e controle de dados por parte dos usuários. Agora são os clientes os donos de sua informação e podem decidir com quem compartilhar, e, para 2023, a expectativa é que o sistema financeiro aberto seja ainda mais acessível para a população, principalmente a parcela de menor renda. E isto é fundamental para a indústria de pagamentos, já que o Open Finance proporciona às empresas trabalharem como iniciadoras de pagamentos, cada vez mais elas terão informação dos clientes, o que permitirá a simplificação das análises de fraude e de crédito, permitindo às pessoas receberem melhores propostas, assim como também personalizarem as experiências conforme as preferências do cliente.
* Lucas Iván Gonzalez é Chief Product & Business Officer da Koin
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