Nos últimos tempos, deputados demonstram resistência em aprovar matérias impopulares (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de junho de 2017 às 10h46.
Brasília - Diante da forte turbulência causada pela delação da JBS, líderes de partidos da base aliada e interlocutores do governo na Câmara defendem que a reforma da Previdência só comece a ser votada no plenário da Casa em agosto, após o recesso parlamentar.
A avaliação é de que, pela impopularidade da matéria, seria um risco pautá-la agora, em meio à instabilidade que vive o governo Michel Temer.
A opinião dos líderes é mais pessimista do que a do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ambos defendem aprovação da proposta antes do recesso.
Em teleconferência ontem com investidores, Meirelles disse esperar aprovar a reforma em junho ou julho deste ano, "no máximo em agosto". Segundo ele, a aprovação da matéria até agosto não traz problemas fiscais.
"Chance nenhuma de votar antes do recesso. A reforma da Previdência é um objetivo que todos nós buscamos. Não podemos correr o risco de não aprová-la", afirmou o líder do PSD, Marcos Montes (MG), que comanda a sexta maior bancada da Câmara, com 37 deputados.
Para ele, a proposta só pode ser votada com um governo politicamente forte. "O que, infelizmente, não temos nesse momento de instabilidade", disse.
Montes lembrou que os deputados só aceitarão votar a reforma da Previdência após o Senado aprovar a reforma trabalhista, o que está previsto para o fim de junho.
Nos últimos tempos, deputados demonstram resistência em aprovar matérias impopulares, sob o argumento de que, muitas vezes, o Senado não as leva adiante, deixando o ônus apenas para a Câmara. Diante disso, cobram um aceno concreto dos senadores com a reforma trabalhista.
Vice-líder do governo na Câmara e responsável pelo mapeamento dos votos da reforma da Previdência, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) também prevê que a matéria só deve começar a ser votada na Casa a partir de agosto, após o recesso.
"Não é descartado ficar para o segundo semestre. Não é o fim do mundo esperar mais um mês para votar, até pelas coisas que estão acontecendo no País", afirmou.
Mansur reconheceu que hoje o governo não tem os 308 votos mínimos necessários para aprovar a reforma na Câmara. Ele contabiliza 255 votos favoráveis, ante cerca de 270 votos que calculava antes da delação.
Ele pondera, contudo, que o governo tem uma margem de 100 indecisos com os quais pode trabalhar. "Estamos tocando a articulação, mas não temos pressa. O importante agora é resolver a reforma trabalhista no Senado", afirmou.
À frente do quinto maior partido da Câmara, com 39 deputados, o líder do PR, José Rocha (BA), avaliou que, enquanto não houver "certa calmaria", é muito arriscado pautar a reforma.
"Acho que vai ser votada mais para o segundo semestre, após o recesso. Até lá, os ares da Justiça poderão estar bem mais calmos", afirmou Rocha.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.