São Paulo – Diante de uma campanha difícil e de uma vitória apertada, há sinais de que parte da militância petista já estaria ressuscitando (ainda que discretamente) o espírito da campanha “Volta, Lula” que gerou burburinho meses antes das eleições 2014.
Algumas posturas de membros do partido no último domingo sinalizam isso. Por mais de uma vez, Dilma Rousseff (PT) foi interrompida durante seu discurso de vitória por gritos eufóricos de militantes em elogio ao ex-presidente. Já Rui Falcão, que preside o partido, afirmou a jornalistas que apoia um eventual retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à disputa presidencial daqui quatro anos.
Para Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o sentimento dos petistas é compreensível. Segundo ele, as dificuldades do primeiro governo de Dilma derivam do fato de ela não ter um perfil parecido com o do ex-sindicalista. Enquanto Lula esbanja carisma, a presidente reeleita é apontada como mais "tecnocrata".
“A militância do PT está sentindo falta de uma liderança forte”, diz o especialista. E o ex-presidente seria a resposta para esta demanda.
No entanto, apostar na candidatura do ex-presidente para a próxima eleição pode ser um problema para o projeto político de longo prazo do partido fundado pelo ex-sindicalista.
“O PT está preocupado com a renovação dos quadros do partido. A volta do Lula seria uma forma de sabotar este projeto”, diz Pedro Arruda, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
O partido tem cerca de três anos para completar esta possível missão, que deve ser influenciada por diversos fatores. Entre eles, o desempenho de Dilma em seu segundo mandato e a ascensão de um líder à altura do ex-presidente.
Além dos futuros (ou atuais) ministros de Dilma, Fernando Pimentel, eleito governador em Minas Gerais, Lindberg Farias, candidato derrotado para o governo do Rio de Janeiro, e Fernando Haddad, atual prefeito de São Paulo, estariam entre os cotados para um dia substituir Dilma e Lula na corrida presidencial.
Agora, se o nome de nenhum deles vingar e se Lula realmente adotar uma postura mais ativa daqui para frente, a tendência é que o ex-presidente possa, sim, assumir uma candidatura, segundo Baia, que desaprova a estratégia: “A ausência de novas lideranças com peso nacional é ruim tanto para a renovação do partido quanto para a sociedade brasileira”, diz o professor.
Interlocutores do PT teriam afirmado ao jornal Folha de S. Paulo que Lula estaria preparando o terreno para voltar em 2018. Em post no Facebook, o petista negou a intenção.
"Eu não vou querer saber mais do que Deus e dizer o que vai acontecer comigo em 2018. Na minha idade, se eu estiver vivo já é de bom tamanho”, disse no último sábado.
A carta na manga para a governabilidade
Por ora, o que se tem como certo é que o apoio de Lula pode ser fundamental para a governabilidade de Dilma – que terá um Congresso mais fragmentado a partir de 2015 e já estaria encarando uma amostra do que vem pela frente com a derrubada do decreto de sua autoria que determina a criação de conselhos populares.
“Do ponto de vista político, seria saudável para ela essa aproximação de Lula, na medida em que Dilma sai de uma eleição muito disputada e encontra um Congresso mais difícil de negociar”, afirma Baia. “O principal interlocutor com o Congresso Nacional e demais forças políticas é, sem dúvida alguma, Lula”.
Como medida para neutralizar possíveis críticos e firmar sua imagem de independência, Dilma tratou de se distanciar do ex-presidente durante o primeiro governo – pelo menos, diante dos holofotes.
Agora, ter Lula mais perto pode “render dividendos eleitorais e aumento da popularidade”, como afirma Arruda.
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1. Voto a voto
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1/7 (REUTERS/Nacho Doce)
São Paulo - Vinte e cinco anos depois da primeira eleição após a Ditadura Militar, o Brasil experimentou uma corrida eleitoral repleta de
elementos inéditos até o último minuto - literalmente. Morte de um presidenciável, reviravoltas nas pesquisas e nas urnas, além da eleição mais apertada da História do país: a
eleição 2014 termina com um saldo expressivo de fatos inéditos. A trajetória do desempenho dos candidatos desde 1989 nas pesquisas de intenção de votos e nas urnas é uma prova disso. Compare a seleção feita por EXAME.com com base nos dados do
Datafolha e do Tribunal Superior Eleitoral das últimas sete eleições presidenciais.
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2. Eleições de 1989
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2/7 (Juliana Pimenta/EXAME.com)
A primeira eleição presidencial por voto direto após 29 anos foi marcada por reviravoltas e ataques – bem aos moldes do que foi o pleito deste ano.
A princípio, o pleito era polarizado por Leonel Brizola (PDT) e o líder sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em abril daquele ano, o então quase desconhecido Fernando Collor de Melo (PRB), passou a liderar as pesquisas de intenção de voto e Lula caiu para a terceira posição.
O petista se recuperou nas sondagens e, em uma disputa apertada, foi para o segundo turno com o alagoano, que começou a campanha na frente.
Ao longo da corrida presidencial, no entanto, a diferença entre os dois se estreitou – na mesma medida que o tom dos ataques aumentou, em especial no último debate entre os dois candidatos.
Collor foi eleito com 53,3% dos votos válidos contra 46,97% de Lula.
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3. Eleições de 1994
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3/7 (Juliana Pimenta/EXAME.com)
Anunciado em fevereiro de 1994, o Plano Real foi o capital político que garantiu a eleição no primeiro turno para o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Desde a década de 70, os brasileiros experimentavam no bolso os efeitos da hiperinflação. Para se ter uma ideia do impacto da medida, 1994 teve uma inflação média de 916%. Em 1995, a taxa caiu para 22,4%. Veja o
sobe e desce da inflação desde os anos 1980.
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4. Eleições de 1998
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4/7 (Juliana Pimenta/EXAME.com)
Assim como em 1994,
Fernando Henrique Cardoso foi reeleito em 1998 ainda no primeiro turno. Lula, que tentava a presidência pela quarta vez, não passou de 30% das intenções de voto durante todo o período de campanha eleitoral. Na votação final, terminou com 31,7% dos votos válidos, enquanto FHC venceu com 53%. O terceiro lugar ficou com Ciro Gomes (PPS) com 10,9% dos votos.
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5. Eleições de 2002
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5/7 (Juliana Pimenta/EXAME.com)
Com a saída de Fernando Henrique Cardoso,
José Serra foi escolhido o novo candidato do
PSDB para concorrer à presidência da República. Logo na primeira pesquisa eleitoral, em dezembro de 2001, Lula (PT) já aparecia com boa vantagem: 36% contra 11% de Serra. Naquele momento, o segundo lugar era de Ciro Gomes, do PPS, que tinha 16%. Anthony Garotinho (PSB) também aparecia bem colocado na disputa, com 11% dos votos. Serra, Garotinho e Ciro Gomes passaram toda a campanha do 1º turno brigando pelo segundo lugar. Lula liderava com tranquilidade. Em setembro e em outubro, Lula chegou a ter 49% das intenções de voto e uma eleição em primeiro turno parecia possível.
Na votação do primeiro turno, Lula acabou ficando com 46% dos votos válidos e José Serra com 23%. Na campanha para o segundo turno,
Lula liderou todo o tempo e venceu a disputa com 61% dos votos contra 39%.
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6. Eleições de 2006
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6/7 (Juliana Pimenta/EXAME.com)
Durante um primeiro governo marcado pelo estouro de escândalos de corrupção, aliados de Lula chegaram a sugerir que o presidente renunciasse ao cargo. Ele resistiu à ideia e acabou sendo reeleito com ampla vantagem sobre o adversário, Geraldo Alckmin (PSDB). Além dos ataques dos adversários, o então candidato petista teve que encarar mais denúncias de escândalos envolvendo membros de seu governo e do PT. Entre elas, estava a tentativa de compra de um dossiê antitucano.
* Gráfico atualizado no dia 28/10 às 9h para corrigir informação. Uma versão anterior trazia o nome de José Serra no segundo turno em vez de Geraldo Alckmin.
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7. Eleições de 2010
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7/7 (Juliana Pimenta/EXAME.com)
As eleições de 2010 ficaram marcadas pela saída de Lula do poder e pela eleição da primeira mulher presidente do Brasil. No começo do ano, em março de 2010,
Dilma Rousseff, ainda desconhecida da maior parte dos eleitores, estava em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. José Serra (PSDB) liderava com 39% dos votos, Dilma tinha 29% e
Marina Silva (no PV) tinha 9%. Em agosto, no entanto, Dilma já liderava as pesquisas e se manteve nesta posição até o final do primeiro turno. Em seu melhor momento, em setembro, chegou a ter 57% das intenções de voto - o que a faria ser eleita no primeiro turno. A votação para o primeiro turno terminou com o placar assim? Dilma 46,9%, Serra 32,6% e Marina 19,3%. No segundo turno, a candidata petista enfrentou José Serra e levou a disputa com 56,05% dos votos válidos.