O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (C), recebe lideranças kayapós, das terras indígenas Baú e Mekragnotire, no Pará (Wilson Dias/ABr)
Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2015 às 22h16.
São Paulo - No encontro que manteve com o novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nesta quarta-feira, 4, em Brasília, o cacique kayapó Nhaket Mekrangnotire disse que os índios brasileiros estão se sentindo profundamente ameaçados.
Ele se referia à Proposta de Emenda Constitucional 215 (PEC-215), que, após ter sido arquivada, deve voltar à pauta na Câmara.
O objetivo principal da emenda é transferir do Executivo para o Legislativo decisões sobre demarcações de terras indígenas. Os índios temem que, com a crescente força da bancada ruralista no Congresso, dificilmente acontecerão novas demarcações no País.
Com a ajuda de um intérprete de sua tribo, que vive na região de Novo Progresso, no interior do Pará, o cacique Nhaket disse ao presidente da Câmara: "Vocês são eleitos nas cidades e, em vez de ficar de bem com todo o povo brasileiro, com os negros, com os índios, vocês querem destruir o povo do interior, querem destruir índios. Podem até conseguir acabar com a gente. Mas vai ter muito sangue derramado. Estamos aqui para pedir: não vote essa PEC."
Nhaket chegou a Brasília na segunda-feira, 2, à frente de um grupo de 54 indígenas, com o objetivo de conversar com autoridades do Executivo e do Legislativo. Na terça-feira, após a intermediação de um grupo de parlamentares, entre os quais Chico Alencar (PSOL-RJ) e Zequinha Sarney (PV-MA), o presidente da Câmara aceitou receber cinco representantes do grupo.
Durante a reunião, no gabinete de Cunha, acompanhada por quatro deputados, mas sem a presença de assessores, os índios manifestaram preocupação com o fato de o novo presidente da Câmara já ter se reunido com a bancada ruralista e manifestado apoio à aprovação da PEC 215.
"Não somos nós que estamos caçando briga com vocês. É vocês com nós. Sabemos que o senhor já fez um acordo para a aprovar a PEC", disse Nhaket.
O presidente da Câmara negou que tenha feito qualquer acordo com os ruralistas. Também disse que que não é o autor da PEC, nem da proposta de desarquivamento. "Eu me reúno com todo mundo", afirmou. Caso a proposta seja mesmo desarquivada, declarou, ele seguirá as normas da Casa, retomando os debates no ponto em que foram paralisados.
Para os índios, os parlamentares estariam quebrando os acordos firmados com a Constituição de 1988 - que tem um capítulo específico sobre a questão indígena. "O cacique, com uma linguagem muito franca e direta, incomum aqui em Brasília, disse que os índios vêem a PEC 215 como uma declaração de guerra", disse o deputado Chico Alencar, que acompanhou o encontro.