Brasil

Vítimas vão ao aeroporto encarar Roger Abdelmassih

"Ele disse que as vítimas dele não tinham rosto. Viemos aqui para mostrar para ele que temos, sim", disse a dona de casa Helena Liardini


	Abdelmassih: "eu quis vir aqui para mostrar que a gente tem coragem", disse uma das vítimas
 (Reuters)

Abdelmassih: "eu quis vir aqui para mostrar que a gente tem coragem", disse uma das vítimas (Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2014 às 13h58.

São Paulo - Cinco mulheres se encarregaram de mostrar o lado forte das vítimas do ex-médico Roger Abdelmassih, de 72 anos, preso na terça-feira, 19, no Paraguai.

Contando detalhes dramáticos sobre seus casos, mas sem aparentar fragilidade, elas estiveram nesta quarta-feira, 20, no Aeroporto de Congonhas, na zona sul, para acompanhar a prisão do ex-médico. O registro da captura foi feito na Delegacia de Atendimento ao Turista (Deatur) do aeroporto. Depois, Abdelmassih foi levado para o Presídio de Tremembé.

"Eu estava acordada quando ele me agarrou e me beijou. Eu vi, senti. Depois ele disse, no julgamento, que nós que o denunciávamos éramos mulheres frustradas, porque não tivemos filhos. Eu tive gêmeos. Ele disse que as vítimas dele não tinham rosto. Viemos aqui para mostrar para ele que temos, sim", disse a dona de casa Helena Liardini, de 45 anos. "A gente se juntou e conseguiu prender esse safado", afirmou.

As cinco mulheres haviam chegado ontem, pouco depois das 14 horas, ao saguão do aeroporto. O lugar já estava repleto de jornalistas e cinegrafistas e, por isso, policiais haviam colocado faixas isolando o acesso à delegacia.

Elas tiveram de esperar pelo ex-médico entre dezenas de curiosos que vaiaram e xingaram o ex-médico de "monstro" e "vagabundo" quando Abdelmassih despontou no saguão do aeroporto, causando tumulto, perto das 16 horas.

"Esse monstro implantou meu embriões em outras mulheres. Disse que não daria um filho para mim porque meu marido não me amava. Abortei com quatro meses, sozinha, em casa, sem amparo médico, porque ele não me deixou ir ao médico. Depois, mandou que eu guardasse o feto na geladeira, porque queria analisar", falou a artista plástica Silvia Franco.

"Eu quis vir aqui para mostrar para ele que a gente tem coragem. Coragem de ir até o fim, para que ele vá à Justiça."

Investigação

"Eu vim para dar boas-vindas para ele ao inferno", afirmou a estilista Vanuzia Lopes. "Foi eu que fiz a primeira queixa contra ele, em 1996. Fiz exame de corpo de delito quando ainda estava suja. Havia acabado de acordar e ele estava em cima de mim e fui direto para a delegacia", dizia, antes da chegada do ex-médico.

Foi Vanuzia quem organizou, há cerca de um ano, a página do Facebook que começou a juntar informações sobre o possível paradeiro de Abdelmassih.

"Sabíamos que ele tinha se casado com a Larissa (Maria Sacco, ex-procuradora da República, mulher do ex-médico), então passamos a vigiar a família dele", explicava. "Juntamos mais de 300 documentos, mostrando como ele continuava ganhando dinheiro. Só uma de suas fazendas de laranja, que ele transferiu para Larissa e depois para a procuradora dela, rendeu R$ 6 milhões em uma única safra. Sei porque conseguimos uma cópia do extrato dele", afirma.

Vanuzia diz ter sofrido ameaças por causa da investigação conduzida pelas vítimas. "Fui para Portugal, só voltei há quatro dias porque sabíamos que tinha dado certo", disse.

Sem dar detalhes, as vítimas disseram que uma das pessoas fundamentais para a localização do ex-médico foi uma pessoa ligada à cunhada de Abdelmassih.

"Nós vamos falar com o secretário (da Segurança Pública, Fernando) Grella para que essa pessoa, de família humilde, receba a recompensa que estavam oferecendo para a captura dele, de R$ 10 mil", disse Helena Liardini. "Foi um trabalho bem de fofoquinha, sabe? Falávamos com um, com outro, com pessoas em Jaboticabal (cidade onde mora a família da mulher), que eram do círculo social dele", afirma.

Tanto trabalho, disseram as vítimas, fez com que a prisão trouxesse uma sensação de "dar o troco" ao ex-médico, acusado inicialmente por 56 atos de estupro contra 37 vítimas, todas pacientes da luxuosa clínica que Abdelmassih mantinha na Avenida Brasil, nos Jardins, zona sul de São Paulo.

"Nós ajudamos muito a polícia, Recebíamos informações boas, informações de verdade sobre o paradeiro dele. Isso acontecia porque muita gente queria ver ele preso. Agora, me sinto aliviada. E sabemos que ele foi preso porque nós não desistimos", disse.

Chegada

Quando entrou no saguão do aeroporto, Abdelmassih estava com uma camiseta branca e colete à prova de balas. Os braços estavam unidos por uma algema.

Quatro carros da polícia estavam à espera para escoltá-lo até Tremembé. Tão logo desceu do carro da Polícia Civil em que estava, começou a ser vaiado.

Diante das câmeras e das vítimas, o ex-médico encarou a multidão e sorriu. Andou sempre olhando para a frente, sem baixar a cabeça, sob proteção de dois policiais civis, um de cada lado do ex-médico.

Depois que ele foi embora, a empresária Cristina Silva, também vítima, disse que a prisão era uma vitória, mas foi comedida. "Já tivemos essa sensação no passado, quando ele foi preso da primeira vez (em 2009)", contou. "Isso aqui, essa nova prisão, traz um alívio, mas ainda não é o fim. A Justiça ainda vai analisar recursos, ainda há muita coisa para acontecer. Mas estamos mais tranquilas."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:abuso-sexualCrimeEstuproMédicosPolícia Federal

Mais de Brasil

O que muda com projeto que proíbe celulares nas escolas em São Paulo

Haddad se reúne com cúpula do Congresso e sinaliza pacote fiscal de R$ 25 bi a R$ 30 bi em 2025

Casos respiratórios graves apresentam alta no Rio e mais 9 estados