Jair Bolsonaro chega em Davos (Alan Santos/Agência Brasil)
Clara Cerioni
Publicado em 28 de junho de 2019 às 06h00.
Última atualização em 28 de junho de 2019 às 06h00.
São Paulo — Próximo de completar seis meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro está no Japão para participar da cúpula do G20, sua sétima viagem internacional desde assumir o cargo em janeiro.
Até agora, ele já passou por Suíça, Chile, Israel e Argentina, além de ter ido duas vezes aos Estados Unidos. Nenhum outro presidente brasileiro fez tantas visitas oficiais a países estrangeiros no mesmo período de início de mandato desde a redemocratização.
Um dos anúncios concretos das viagens foi o apoio americano para o pleito do Brasil de entrar na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Oficializado recentemente pelos diplomatas americanos, é um dos passos de um processo que ainda deve durar alguns anos.
Na Argentina, o alinhamento de Bolsonaro com o presidente Mauricio Macri, que está diante de uma tentativa desafiadora de se reeleger em outubro, contribuiu para o avanço tratativas do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
Membros do governo brasileiro dizem que a assinatura está próxima após mais de vinte anos de negociações.
Em praticamente todas as viagens de Bolsonaro, contudo, a maior repercussão tanto interna quanto externamente tem sido de falas e acontecimentos considerados exóticos para um chefe de estado.
No caso de sua visita atual para o Japão, por exemplo, um militar que acompanhava a comitiva presidencial em avião oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) foi preso durante uma das escalas do voo, na Espanha por estar transportando 39 quilos de cocaína.
Veja a seguir alguns dos destaques das viagens do presidente Jair Bolsonaro ao exterior.
Vinte dias após tomar posse, Jair Bolsonaro viajou para participar do Fórum Econômico Mundial, considerada a principal reunião anual da elite global.
Ele foi o primeiro presidente do hemisfério sul, primeiro da América Latina e primeiro fora do G7 a abrir o evento, e era alvo de intensa curiosidade internacional. A julgar pelas reações naquele dia, a oportunidade foi perdida.
Nesta mesma viagem, o presidente cancelou de última hora e de forma atabalhoada uma coletiva de imprensa que faria ao lado dos ministros Ernesto Araújo, Paulo Guedes e Sergio Moro.
Em sua viagem para Israel, comandado pelo seu aliado declarado Benjamin Netanyahu, o presidente brasileiro rompeu com a tradição diplomática brasileira ao visitar o Muro das Lamentações, local sagrado que é um dos focos de disputa entre Israel e Palestina.
Durante sua passagem pelo país, Bolsonaro também afirmou que "nazismo é de esquerda", tese defendida pelo ministro Ernesto Araújo mas rechaçada por historiadores e entidades da sociedade civil.
Um de seus compromissos em Israel foi uma visita ao Yad Vashem, o museu mundial de memória do Holocausto, quando 6 milhões de judeus foram assassinados pela Alemanha nazista de Hitler.
De acordo com o site do museu, o Partido Nazista teve origem em grupos radicais de direita, posição oficial também do governo alemão.
A segunda viagem do presidente aos EUA foi para receber uma homenagem da Câmara de Comércio Brasil-EUA que deveria acontecer em cerimônia no Museu de História Natural de Nova York.
No entanto, os organizadores sofreram pressão para cancelamento por parte de entidades civis e do prefeito da cidade, Bill de Blasio, devido às declarações do presidente contra LGBTs e em favor do desmonte de políticas de proteção ambiental.
O evento também perdeu patrocinadores e acabou sendo remarcado para Dallas, no Texas, onde Bolsonaro visitou o ex-presidente americano George Bush.
O republicano, contudo, foi pego de surpresa pela presença de Bolsonaro. Um assessor de imprensa do ex-presidente afirmou a VEJA que Bush não fora consultado previamente nem convidara o brasileiro para um encontro.
Nessa mesma visita, Bolsonaro acabou se enrolando ao tentar fazer um afago aos seus anfitriões. No encerramento do discurso na cerimônia de homenagem, ele disse “Brasil e Estados Unidos acima de tudo, Brasil e Es… acima de todos!”.
A frase original, usada pelo presidente desde a campanha, é “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Durante sua visita à Argentina, Bolsonaro anunciou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, havia dado o primeiro passo para um sonho de uma moeda única entre os dois países que chamaria de "peso real".
A medida foi amplamente criticada por economistas, já que os países nunca conseguiram sequer transformar o Mercosul em uma zona de livre comércio de fato e uma integração do tipo exigiria alinhar duas economias com tamanhos e variáveis macroeconômicas muito diferentes.