Por enquanto, a Anfavea mantém expectativa de que as montadoras investirão US$ 11,2 bilhões entre 2010 e 2012 no país (Oscar Cabral/VEJA)
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2011 às 17h08.
São Paulo - A produção brasileira de veículos em 2011 ficará abaixo das vendas pela primeira vez desde 1995, pressionada por queda na competitividade do setor diante de um dólar fraco que impulsiona importações, segundo dados da associação de montadoras, Anfavea.
A projeção da entidade é de vendas de 3,69 milhões de unidades, crescimento de 5 por cento sobre 2010, e produção em leve alta de 1,1 por cento, para 3,68 milhões de veículos.
Em 1995, primeiro ano em que a paridade do dólar com o real teve efeito em 12 meses completos, as vendas foram de 1,73 milhão de veículos enquanto a produção somou 1,63 milhão. Enquanto isso, as importações atingiram nível até então recorde, assumindo 21,4 por cento de participação nas vendas totais no mercado interno.
O dado representa um dos primeiros sinais concretos da perda de competitividade de um setor que, apesar de protegido por imposto de importação de 35 por cento, vê aceleração no emplacamento de veículos produzidos em outros países, enquanto projeta queda de 4,7 por cento em suas próprias exportações em 2011, para 730 mil unidades.
Admitindo atraso na preparação de um conjunto de propostas para discussão com o governo, que tem como objetivo melhorar a competitividade da cadeia automotiva, o presidente da Anfavea afirmou que medidas tomadas pelo banco central nesta quinta-feira podem ajudar a conter a queda no dólar ante o real, mas não são suficientes.
"Poderão evitar a queda do dólar ou até mesmo desvalorizar o real, mas ainda é pouco para as exportações", disse Cledorvino Belini, que também é presidente do grupo Fiat para a América Latina. O executivo evitou comentar qual seria o patamar ideal do câmbio para o setor.
Segundo ele, o levantamento deve ficar pronto no final do primeiro trimestre, mas o presidente da Anfavea evitou comentar que tipo de proposta o setor vai sugerir ao governo. Um aumento na taxa de importação não seria possível "porque o Brasil já pratica o máximo definido junto à OMC, de 35 por cento".
O BC anunciou nesta quinta-feira imposição de compulsório sobre posição vendida dos bancos em dólares. A medida, segundo analistas consultados pela Reuters, pode ajudar a diminuir o apetite pela venda de mais dólares .
Segundo Cledorvino, a diferença entre produção e vendas pode se agravar em 2012, uma vez que a tendência do dólar é de desvalorização no mundo, enquanto os Estados Unidos promovem medidas para estimular sua economia, que incluem impressão de moeda.
Em 2010, o déficit na balança comercial de veículos somou 5,7 bilhões de dólares, crescimento de 54 por cento sobre os 3,7 bilhões de 2009. Em 2008, o saldo foi positivo em 2,4 bilhões.
Em dezembro, a participação das importações sobre as vendas internas de veículos atingiu o maior patamar da história do setor, a 21,7 por cento, superando o índice cheio de 1995, de 21,4 por cento. Apesar dos importados em 2010 terem assumido uma fatia média de 18,8 por cento das vendas internas, acima dos 15,6 por cento de 2009, Belini aposta que a relação deve chegar a uma média de 20 a 22 por cento em 2011.
Por enquanto, porém, a Anfavea mantém expectativa de que as montadoras investirão 11,2 bilhões de dólares entre 2010 e 2012 no país. A própria Fiat anunciou recentemente sua segunda fábrica de carros no Brasil, que consumirá 3 bilhões de reais em investimento.
Em termos de quadro de pessoal, o presidente da Anfavea afirmou que após crescimento de 9,3 por cento em 2010, o número de postos de trabalho ocupados nas montadoras deve se manter em 2011. Atualmente, a capacidade de produção da indústria é de 4,3 milhões de veículos.
Dezembro recorde
Enquanto o cenário externo pressiona a produção, o licenciamento de veículos no mercado brasileiro seguiu forte no último mês de 2010, registrando recorde de 381,6 mil unidades, alta de 30 por cento sobre um ano antes e de 16,2 por cento sobre novembro. A produção caiu 10,3 por cento sobre novembro, para 283,9 mil veículos.
Belini evitou comentar acusação do setor de concessionários (representado pela Fenabrave) sobre pressão de montadoras sobre lojas no fim do ano para inflar número de emplacamentos por meio de licenciamentos de veículos ainda sem comprador. "Nós temos os nossos números (...) Para nós, foi o melhor mês da história."
A Anfavea afirmou que o estoque de veículos em dezembro era equivalente a 21 dias de vendas, ou 254,3 mil unidades. Para a entidade, foram 5 dias de vendas nos pátios de montadoras e 16 dias em estoque de concessionários. Para a Fenabrave, o estoque médio está em 40 dias.
Depois do movimento forte de dezembro, Belini disse que janeiro deve registrar queda nos emplacamentos. "Janeiro é historicamente menor, a média dos últimos 10 anos é de queda de 27 por cento entre dezembro e janeiro". Para a Fenabrave, haverá um recuo, "mas não na casa dos 30 por cento, isso seria absurdo", disse na véspera, o presidente da entidade, Sergio Reze .