Criada em 1973, a empresa é atualmente uma sociedade de economia mista que fornece água para 28,4 milhões de pessoas (Haddad: Diogo Zacarias / Tarcísio: Alberto Ruy/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de outubro de 2022 às 08h57.
Debatida há anos em São Paulo, a eventual privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) pelo próximo governador opõe nesta reta final de campanha os dois postulantes ao cargo. Apesar de não incluir a proposta em seu plano de governo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) já se comprometeu a vender o controle acionário da empresa. Já Fernando Haddad (PT) tem elevado o tom nos últimos dias ao dizer que esta seria "a pior coisa que poderia acontecer ao Estado". O lucro da empresa foi de R$ 1,4 bilhão no primeiro semestre deste ano - em 2021, chegou a R$ 2,3 bilhões.
A estratégia petista é passar a ideia de que a medida poderia acarretar em alta na conta de água, com base na comparação entre São Paulo e Rio, onde a distribuição foi privatizada - a relação com o Estado natal de Tarcísio é proposital.
Já a postura do ex-ministro da Infraestrutura segue a lógica do mercado, otimista com o negócio desde que o candidato passou ao segundo turno na liderança. Desde então, os papéis da companhia subiram 17% e a perspectiva, caso a privatização ocorra, é de que a ação seja negociada a R$ 87 - hoje, ela vale R$ 56,40. No início do ano, o candidato chegou a afirmar que a venda renderia ao Estado de R$ 60 bilhões a R$ 80 bilhões. Segundo a Sabesp, no entanto, o valor de mercado é de cerca de R$ 31,26 bilhões.
Criada em 1973, a empresa é atualmente uma sociedade de economia mista que fornece água para 28,4 milhões de pessoas em 375 municípios paulistas. Para o período de 2022 a 2026, a empresa afirma que pretende investir R$ 23,8 bilhões em ações que ampliem a segurança hídrica no Estado e o alcance do saneamento básico ofertado à população, ainda distante da universalização - cerca de 30% dos paulistas não têm tratamento de esgoto e 10% nem sequer a coleta. No caso da água encanada, o acesso chega perto dos 97%.
Haddad ampliou o espaço dedicado ao tema em sua campanha. Os programas eleitorais veiculados no rádio e na TV anteontem destacaram o suposto risco da privatização especialmente para os mais pobres. "Ninguém deveria ser obrigado a escolher entre pagar o boleto de água e o mercado, entre matar a sede ou matar a fome", disse.
Ao Estadão, a campanha petista reafirma, em nota, que a "privatização aumentará os preços impedindo o acesso da população de baixa renda aos serviços, que são essenciais a sua saúde". Haddad também ressalta que apenas uma entre as dez cidades mais bem colocadas no ranking de saneamento brasileiro tem serviço privado. É Limeira, no interior.
Questionado sobre o tema, Tarcísio não deixa claro como e quando pretende privatizar a Sabesp, caso eleito. A medida exigiria aprovação de projeto de lei na Assembleia Legislativa e a concordância dos prefeitos das cidades atendidas. No final do ano passado, 21 deputados estaduais formaram uma frente contra a privatização, prometida também pelo ex-governador João Doria (PSDB).
Em fevereiro deste ano, Tarcísio justificou sua intenção dizendo que o custo operacional da empresa é 20% maior do que o seu custo regulatório. "O acionista está perdendo valor e com o tempo a empresa vai enfrentar dificuldade de financiamento", disse ao canal TC Experience.
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