CPI da Covid (Edilson Rodrigues/Agência Senado/Flickr)
Alessandra Azevedo
Publicado em 4 de outubro de 2021 às 06h00.
A CPI da Covid chega à última semana de depoimentos, após cinco meses de trabalho. Na terça-feira, 5, os senadores ouvirão o sócio-administrador da VTCLog, Raimundo Nonato Brasil. A empresa tem contrato com o Ministério da Saúde relacionado a logística de insumos, inclusive de vacinas contra o coronavírus.
O Tribunal de Contas da União (TCU) suspendeu, em setembro, um aditivo ao contrato firmado entre a VTCLog e o ministério, assinado pelo então diretor de Logística da pasta, Roberto Ferreira Dias, pela possibilidade de tentativa de fraude.
Dias teria ignorado um parecer da Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde, que apontava que a proposta da VTCLog poderia ser desvantajosa para a administração pública, podendo caracterizar sobrepreço de mais de 17 milhões de reais.
A recomendação, ignorada por Dias, era de que a área técnica avaliasse outras alternativas, inclusive a de cancelar o contrato e fazer nova licitação. O contrato, segundo reportagem da revista Crusoé, seria a base para pagamento de vantagens indevidas a políticos do PP.
Na quarta-feira, 6, será a vez do depoimento de Paulo Rebello Filho, diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Ele será questionado sobre medidas tomadas para coibir e responsabilizar irregularidades praticadas pela operadora de plano de saúde Prevent Senior ao longo da pandemia.
Segundo dossiê elaborado por médicos que travalhavam na empresa, a Prevent Senior teria indicado sistematicamente o uso de medicamentos sem eficácia para a covid-19, como hidroxicloroquina e azitromicina, e ocultado mortes de pacientes em um estudo para testar os remédios.
O plano de saúde teria feito experimentos com pacientes sem a autorização das famílias. Ainda de acordo com o dossiê, o protocolo de uso do “kit covid” teria sido conversado com integrantes do gabinete paralelo do governo Jair Bolsonaro, como forma de comprovar a tese de que os medicamentos eram eficientes contra a covid-19.
À CPI, o diretor da empresa, Pedro Benedito Batista Júnior, disse que os médicos não eram obrigados a prescrever o “kit covid” e negou ter ocultado óbitos. Mas confirmou que a rede alterava o diagnóstico de covid em pacientes depois de duas ou três semanas de internação, a depender do caso.
Os senadores também pretendem ouvir médicos que denunciaram a Prevent Senior, mas esses depoimentos ainda não são certos. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), também defende que a CPI ouça vítimas da covid-19 antes de encerrar os depoimentos. As datas e os depoentes ainda podem mudar ao longo da semana.