Varíola dos macacos: imunossuprimidos, gestantes, crianças e idosos são vulneráveis à doença (BSIP/UIG/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de julho de 2022 às 15h41.
Última atualização em 29 de julho de 2022 às 16h29.
Com a confirmação da primeira morte por varíola dos macacos no País e o registro de três casos de crianças com a doença na cidade de São Paulo, especialistas reforçam a importância de serem redobrados os cuidados com imunossuprimidos, crianças, grávidas e idosos.
A transmissão do vírus coloca em risco esses grupos considerados mais vulneráveis. Desta forma, medidas preventivas e de conscientização devem ser reforçadas para reduzir a proliferação da doença.
Nesta sexta-feira, 29, o Ministério da Saúde confirmou a primeira morte por varíola dos macacos no País. Trata-se de um paciente do sexo masculino, de 41 anos, com "imunidade baixa" e "comorbidades, incluindo câncer (linfoma).
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"Aqueles pacientes imunossuprimidos que têm déficit imunológico, ou seja, pessoas com aids, com câncer, que fazem quimioterapia ou que tenham uma imunodeficiência desde o nascimento, estão mais suscetíveis a apresentarem casos graves da doença", afirma Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
Em uma semana, o Brasil registrou um crescimento de 65% nas notificações de varíola dos macacos. Na quarta-feira, 27, os registros chegaram a 978 casos confirmados, conforme dados do Ministério da Saúde. Há uma semana, eram 592. São Paulo é o Estado com mais registros (744), seguido do Rio (117) e de Minas Gerais (44).
Além dos imunossuprimidos, crianças, idosos e gestantes também são considerados grupos mais vulneráveis para a doença. "As crianças abaixo de 5 anos ainda estão com seu sistema imunológico em formação. Teoricamente, são crianças com maior risco de evolução para doença mais grave, como podemos ver até com a catapora, que é uma doença parecida com a varíola dos macacos. É preciso reforçar que crianças pequenas e idosos têm risco, pelo próprio sistema imunológico para evoluir para forma mais grave da doença", alerta Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
Segundo ela, durante a gravidez, o sistema imunológico fica adormecido para não rejeitar o feto. Com isso, a gestante também fica mais suscetível a adquirir doenças infectocontagiosas e para a varíola dos macacos o risco não é diferente.
No último sábado, 23, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que a doença é uma emergência de saúde pública, de caráter global. A entidade levou em consideração o cenário "extraordinário" da doença, que já chegou a mais de 70 países.
"Aqueles pacientes imunossuprimidos que têm déficit imunológico, ou seja, pessoas com aids, com câncer, que fazem quimioterapia ou que tem uma imunodeficiência desde o nascimento, estão mais suscetíveis a apresentarem casos graves da doença", afirma o vice-presidente do Departamento de Infectologia da SPSP.
"Sabe-se até o momento que pacientes imunossuprimidos com doença de base podem evoluir para casos mais graves", acrescenta Eitan Berezin, professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Além disso, pessoas com doenças autoimunes, que fazem uso de imunossupressores, renais crônicos e transplantados possuem imunidade mais baixa. Então, qualquer infecção pode provocar um quadro de maior gravidade.
As crianças abaixo de 5 anos ainda estão com seu sistema imunológico em formação. Não se trata de receber maior carga viral da doença.
"Teoricamente, são crianças com maior risco de evolução para doença mais grave, como podemos ver até com a catapora, que é uma doença parecida com a varíola dos macacos. Crianças pequenas e idosos têm risco, pelo próprio sistema imunológico, para evoluir para forma mais grave. É uma doença em que a letalidade varia entre 1% e 10%", disse Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
No entanto, hoje, com saneamento básico, avanço da medicina e diagnóstico mais rápido, não há risco de um mesmo cenário da varíola no passado. "A doença pode evoluir para uma infecção secundária bacteriana com necessidade de uso de antibióticos, algo que no passado era mais difícil o acesso. Acredito que não teremos um cenário tão difícil, mas de fato, devemos tomar todas as medidas preventivas, pois é uma doença que necessita de isolamento por pelo menos trinta dias", destaca Lorena.
Assim como observado durante a covid-19, um agravamento para as crianças é que elas ficaram por dois anos muito isoladas e distantes de patógenos. "O que estamos vendo na pediatria é que estão acontecendo doenças mais graves, mesmo por vírus normais, porque o sistema imunológico das crianças precisa ser drenado e essas crianças não receberam esse drenamento imunológico porque ficaram muito tempo isoladas", reforçou a especialista.
"Tivemos notificações em crianças, mas também sem muitos detalhes no momento. O CDC americano considera crianças abaixo de 8 anos com risco para a doença. Mas isso ainda é somente conceitual. Não há evidências sobre isso, pois os casos em criança até o momento tem sido bastante raros", disse Berezin.
Para Lorena, não há necessidade de adiamento do retorno às aulas neste momento. "Até mesmo porque os casos ainda são em números pequenos. Além disso, é uma doença de fácil identificação. Dá febre, aumento dos gânglios e feridas na pele. Em 90% dos pacientes acometidos, sejam crianças ou adultos, aparecem lesões cutâneas", disse a especialista.
Ela defende que no momento é necessário ampliar as informações sobre os sinais e sintomas da doença. "Para que um paciente que tenha pego a varíola dos macacos fique isolado e quebre a cadeia de transmissão, as escolas também podem ajudar orientando as famílias com cartinhas de recomendações. Mostrar fotos e falar sobre as lesões com os alunos. As crianças podem ajudar nessa vigilância para que não haja necessidade de interrupção das aulas, como já vivenciamos na pandemia da covid-19. Seria muito triste acontecer isso novamente", afirmou Lorena.
Eitan Berezin, professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, complementa que os alunos com suspeita da doença sejam imediatamente afastados. "Em relação a escolas, somente afastar casos suspeitos no momento, lembrando que crianças podem adquirir a doença via contato domiciliar", disse ele.
Desta forma, medidas de higiene devem ser reforçadas. "Higienização das mãos, não compartilhar objetos, principalmente entre o público infantil, são medidas que as famílias, médicos e as escolas devem reforçar para conter o avanço da doença", acrescenta Lorena, do Departamento Científico de Imunização da ASBAI.
A partir do momento em que crianças começam a ser infectadas, também precisam ser avaliadas. "Tanto em relação a transmissão para outras crianças como os indivíduos que transmitiram a varíola dos macacos para essas crianças. Precisa ter um acompanhamento de toda a epidemiologia de todos os contactantes para saber exatamente quem teve e está transmitindo a infecção", acrescenta Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
Segundo ele, as crianças que estão com a doença podem ainda apresentar quadros de vômitos e outros sintomas. "O surgimento de lesões lembram a catapora e são precedidas por vômitos, aumento de gânglios e dores abdominais. É preciso observar com atenção todos os pacientes. As escolas, pais e hospitais de pediatria devem ter atenção a possibilidade desse tipo de diagnóstico. Em caso de dúvida, realizar exames laboratoriais. A infecção pode ter comportamento mais grave nas crianças. Precisamos ficar atentos a esse diagnóstico", alerta Otsuka.
Durante a gravidez, o sistema imunológico fica adormecido para não rejeitar o feto. Com isso, a gestante fica suscetível a adquirir doenças infectocontagiosas e para a varíola dos macacos não é diferente.
"A gestante é suscetível a doenças infectocontagiosas e para a varíola dos macacos a situação é a mesma. Já há casos de óbito fetal em outros países e há chance de transmissão vertical, através da placenta ou da secreção do parto da mãe para o bebê. E um bebê recém-nascido, sem imunidade, o risco para uma evolução não favorável se torna também muito grande", afirma Lorena.
Por sua vez, Otsuka pondera que entre as gestantes ainda não foi observado quadro grave da doença. "Não foi observada gravidade da doença em gestantes, por enquanto. Sobre o feto, ainda não há dados robustos se podem ser acometidos ou nascer com a doença. Eventualmente, pode ser uma população de risco para quadros mais sérios", disse ele.
(Estadão Conteúdo)
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