Reforma: "Quando vem alguém com coragem e com postura politica para colocar a coisa para funcionar, aí vêm as críticas", disse o ministro (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Agência Brasil
Publicado em 28 de novembro de 2016 às 19h42.
O ministro da Educação, Mendonça Filho, disse que aceita democraticamente as críticas, mas que vai levar adiante a reforma do ensino médio, porque "interessa aos jovens do Brasil".
A declaração foi feita hoje (28) em audiência pública da comissão mista do Congresso Nacional que analisa a medida provisória que estabelece a reforma do ensino médio (MP 746/2016). O relatório que analisa a MP será entregue amanhã (29).
"Esse é um debate histórico, muita gente falava, muita gente propunha, muita gente defendia depois da divulgação dos Idebs [ Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] fracassados do ensino médio, mas depois se esquecia. Quando vem alguém com coragem e com postura politica para colocar a coisa para funcionar, aí vêm as críticas", disse o ministro.
Um dos principais pontos levantados no debate foi a questão do financiamento. Endividados, os estados dizem que precisam de mais recursos para tirar a reforma do papel.
Pela MP, o governo federal transferirá recursos adicionais aos estados para a ampliação da jornada escolar para sete horas por dia - uma das mudanças previstas na reforma.
"A maior rede de educação em tempo integral é a pernambucana. Se em um estado pobre conseguiu um patamar de desempenho extraordinário, primeiro lugar no Ideb, qualquer unidade da federação, se houver decisão política, foco e apoio do governo federal, que já está garantido, tenho certeza que a gente pode alcançar um enorme e positivo desempenho no ensino médio brasileiro", diz.
Pelo Programa de Fomento à Implementação de Escolas em Tempo Integral, que tem a participação de todos os estados, o Ministério da Educação (MEC) investirá anualmente R$ 2 mil a mais por aluno para a ampliação de jornada.
O programa deverá chegar a 500 mil estudantes. O ensino médio público tem cerca de 7 milhões de alunos na rede pública.
Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), lei aprovada em 2014, o Brasil deve ter pelo menos 25% dos estudantes em tempo integral até 2024 - atualmente são 18,7%, levando em consideração toda a educação básica. No ensino médio, são 6,4% das matrículas.
O início da sessão foi marcado por protesto da senadora Fátima Bezerra (PT-RN) e da deputada Maria do Rosário (PT-RS). Ambas deixaram a comissão por discordar da data, que não permitiria que um número máximo de parlamentares participassem do debate - uma vez que muitos viajam a seus estados no final de semana.
Elas disseram que pediram ao presidente da comissão, Izalci Lucas (PSDB-DF), o adiamento, mas isso não foi feito, e que outros pedidos feitos também não foram atendidos.
Antes de deixar a audiência, Fátima Bezerra fez críticas à MP e pediu que a votação do relatório final pela comissão seja feito no ano que vem, após o recesso. A questão será definida amanhã.
Representantes do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) participaram da audiência com cartazes chamando atenção para a greve dos professores em universidades e institutos federais, que ocorre desde a última quinta-feira (24). Eles ouviram o ministro e o vaiaram, depois, deixaram a audiência.
Convocados para discutir a reforma do ensino médio, ex-ministros da Educação não comparecem à audiência pública no Senado Federal.
Foram convidados os ex-ministros Aloizio Mercadante, Renato Janine Ribeiro e Fernando Haddad. Renato Janine Ribeiro escreveu, com antecedência, um e-mail informando que não poderia comparecer devido a compromisso inadiável.
O prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, enviou comunicado justificando a ausência devido a compromissos da prefeitura. Mercadante mudou de opinião algumas vezes.
Enviou inicialmente um comunicado no dia 18 dizendo que não compareceria porque considera "inaceitável a tentativa de modificação da LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional] por medida provisória, isso nunca ocorreu em 20 anos de LDB".
O ministro disse ainda que caso a proposta voltasse a ser debate em formato de projeto de lei, ele participará das discussões.
No dia 22, ele enviou um novo comunicado, confirmando a presença em respeito aos demais ministros e aos parlamentares. Na última sexta-feira (25), a assessoria informou por WhatsApp que ele não compareceria.
Reforma do Ensino Médio Entre as principais alterações que constam na MP estão a ampliação da jornada escolar das atuais quatro horas obrigatórias por dia para sete horas, progressivamente.
Quanto à estrutura curricular, a MP estabelece que parte do ensino médio seja voltada para os conteúdos que serão definidos na Base Nacional Comum Curricular, atualmente em discussão no Ministério da Educação (MEC), e parte para itinerários formativos, que serão escolhidos pelos estudantes.
A MP define cinco itinerários: linguagens; matemática; ciências da natureza; ciências humanas; e formação técnica e profissional.
Com a flexibilização, apenas português e matemática serão obrigatórios nos três anos do ensino médio. A MP sofre resistência no país por parte de professores, educadores e estudantes, que promovem atos, greves e ocupações em diversos estados.
O governo defende a alteração por MP devido à urgência do tema.
O senador Pedro Chaves (PSC-MS), relator da MP, disse que vai apresentar amanhã o seu parecer à comissão mista que analisa a medida no Congresso Nacional.
"Consultei mais de 50 pessoas, entre autoridades, estudantes, representantes de entidades públicas e privadas, entre outras", disse. "Emendas inteiras foram aproveitadas na MP. Não pode alguém reclamar dizendo que não houve diálogo".
Após apresentado, o relatório deverá ser votado na comissão mista, onde poderá sofrer alterações, e passar pelos plenários da Câmara e do Senado. O prazo para que isso seja feito é março de 2017.