Michel Temer: em um governo que ainda briga para garantir sua legitimidade, no entanto, o impacto das declarações é ainda maior (Ueslei Marcelino / Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2016 às 20h38.
Brasília - Na primeira reunião ministerial de seu governo, o presidente interino Michel Temer pediu aos ministros que evitassem declarações polêmicas e falar sobre áreas que não fosse as suas. O aviso não adiantou.
O governo mal começou e cinco ministros tiveram que desdizer suas próprias declarações ou emudecer sobre temas com enorme potencial de causar mais problemas que ajudar o governo.
Dentro do Planalto, a avaliação é que, vindos do Congresso em sua maioria, os ministros ainda não têm o termômetro do impacto que causam suas declarações, agora como pessoas com potencial real de fazer mudanças, disse uma fonte.
Em um governo que ainda briga para garantir sua legitimidade, no entanto, o impacto das declarações é ainda maior.
Logo de cara, os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e da Casa Civil, Eliseu Padilha, falaram de reforma da Previdência com idade mínima para a aposentadoria --isso antes mesmo de as supostas negociações com as centrais sindicais começarem, o que rendeu uma reação dura dos sindicalistas.
Depois disso, os ministros passaram a dizer que tudo seria negociado.
A primeira retratação pública veio do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.
Em entrevista, afirmou que o governo poderia indicar o procurador-geral da República sem levar em conta a lísta tríplice da categoria, já que a Constituição não prevê a mesma. Rapidamente foi desautorizado por Temer.
Também em entrevista, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou ser necessário rever o tamanho do Sistema Único de Saúde (SUS). A retratação, desta vez, veio do próprio ministro.
Já Mendonça Filho, ministro da Educação, disse que apoiaria a cobrança de mensalidade em cursos de pós-graduação das universidades federais, e depois garantiu que as universidades públicas continuarão gratuitas.
Enquanto isso, o ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, afirmou que pessoalmente era contra a recriação da CPMF, num momento em que Meirelles fala nessa possibilidade.
Um dos principais discursos da presidente afastada Dilma Rousseff é de que Temer não tem legitimidade e que o programa que tentaria implantar, mais conservador, não foi o escolhido pelos eleitores, mas sim foi rejeitado nas urnas.
Objetivamente, várias medidas contidas no programa Ponte para o Futuro, elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB, são bastante diferentes do que defendia o PT, como alguma flexibilização em questões trabalhistas e uma reforma mais dura na Previdência.
Ainda que oficialmente esse não seja o programa do novo governo, ele funciona, no mínimo, como referência.
As declarações dos ministros ajudam a alimentar as alegações da presidente afastada e, principalmente, fazem com que o governo fique na defensiva, tendo que se explicar seguidamente, avalia outra fonte palaciana.
Em entrevista na terça-feira, Geddel Vieira Lima reconheceu que algumas declarações de ministros “estavam sendo transmitidas para a sociedade de maneira errada”, mas pediu “paciência”.
“Estamos no governo há dois dias úteis e nos cobram como se estivéssemos há anos”, disse, reagindo ainda com ironia aos questionamentos sobre as declarações desencontradas dos ministros.
“Estou sendo incapaz de transmitir a vocês com competência aquilo que vocês me perguntam.”
O argumento de Geddel, no entanto, pode ser questionado. Ainda que vários ministros sejam estreantes, outros tantos, como o próprio titular da Secretaria de Governo, já estiveram no primeiro escalão, alguns deles no governo da própria presidente afastada Dilma Rousseff.