Vacina da Sinovac. (Nicolas Bock/Bloomberg)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 13h32.
Última atualização em 12 de janeiro de 2021 às 15h41.
A eficácia geral da vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório chinês Sinovac, a chamada Coronavac, é de 50,38%. A informação foi divulgada pelo diretor do instituto, Dimas Covas, em entrevista coletiva nesta terça-feira, 12, e indica a capacidade do imunizante de evitar casos sintomáticos da doença.
Apesar da eficácia ser mais mais baixa que outras vacinas (as da Pfizer e da Moderna ficaram acima de 90%), está no limite mínimo exigido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é de 50%. Está também dentro dos padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Ricardo Palácios, diretor médico de pesquisa clínica do Butantan, explicou que a eficácia ficou mais baixa porque considerou a resposta imunológica também em casos muito leves da doença, que não necessitam de atendimento médico.
"O que nós precisamos é que a vacina controle casos graves e moderados. Mas se a gente colocasse o limiar aí, a gente precisaria de muito tempo para encontrar uma resposta para a população. Todos os laboratórios começaram a abaixar um pouco, e o nosso estudo é o que escolheu abaixar mais, para eventos muito leves, por isso a eficácia ficou mais baixa", explicou o Ricardo Palácios.
O dado de eficácia geral é o que ficou faltando na última divulgação feita pelo Butantan na semana passada. O instituto apresentou dados parciais, apenas com a eficácia é 78% nos casos leves e de 100% nos casos graves e moderados nos testes realizados no Brasil.
Palácios ponderou que, nos casos de pessoas que tiveram a doença na forma mais grave, ainda não há como analisar os dados porque o grupo infectado é muito pequeno - com sete pessoas. Segundo ele, este número é preciso analisar com cautela porque é muito difícil, cientificamente falando, uma vacina ter 100% de eficácia.
"Esse é ainda um dado pequeno, ele não tem significância estatística, embora está demonstrando uma tendência que precisamos de mais tempo de estudo para acompanhar, se ela se confirma", disse. Nas demais, ele disse que estatisticamente é possível determinar a eficácia.
O ensaio clínico contou com pouco mais de 12.000 voluntários, profissionais de saúde, em sete estados, mais o Distrito Federal. No estudo, metade dos voluntários recebe a vacina e a outra metade um placebo. Para determinar a eficácia geral, é necessário comparar os dados dos dois grupos, que é o que foi apresentado agora, incluindo os casos muito leves (veja o gráfico abaixo).
"A aqui tem uma diferença. Nenhuma outra companhia apresentou os dados de eficácia geral antes da autorização do uso emergencial ou definitivo. O Butantan é um instituto público, e nosso objetivo é atender o público, ter uma vacina eficiente e eficaz", disse Dimas Covas em entrevista coletiva nesta terça-feira, 12.
O Butantan já fez o pedido de uso emergencial da vacina junto à Anvisa e só pode aplicar o imunizante após este aval, o que deve ocorrer até o dia 18 de janeiro. A agência solicitou alguns documentos adicionais. Na segunda-feira, 11, o Butantan disse que vai enviar as informações solicitadas e que a Anvisa já analisou pouco mais de 40% dos documentos.
Segundo Dimas Covas, já estão disponíveis para uso cerca de 6 milhões de doses da vacina. Outras 4 milhões ainda estão em fase de produção. Ele ainda destacou que uma das vantagens do imunizante é ser armazenado em geladeiras comuns, sem a necessidade temperaturas muito baixas, facilitando a logística.
"Há ainda outros estudos que faremos da vacina com outros grupos, como idosos, gestantes, crianças e adolescentes", disse.
Sobre a revacinação, como ocorre com a vacina da gripe, Marco Aurelio Safadi, médico e presidente-adjunto da Santa Casa de São Paulo, destacou que ainda não há uma resposta científica para esta questão.
"Nós desconhecemos por quanto tempo esses indivíduos se manterão protegidos, o que vai ser a base da recomendação das doses subsequentes", explicou ele, que também participou da coletiva de imprensa no Butantan.
Ainda não há uma data certa para o início da vacinação no Brasil. Na segunda-feira, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que vai começar “no dia D, na hora H”, sem dar mais detalhes. Internamente, o governo trabalha com a possibilidade de iniciar no dia 20 de janeiro.
Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou a compra das 40 milhões de doses da vacina que serão produzidas pelo Butantan e mais 6 milhões importadas prontas pelo instituto.
Há ainda 2 milhões de doses prontas que a Fiocruz deve receber nos próximos dias, vindas de um fornecedor da AstraZeneca na Índia. Pazuello disse que assim que as doses chegarem, a vacinação começará em poucos dias.
A Fiocruz também solicitou o uso emergencial da vacina contra a covid-19. De acordo com a Anvisa, 27% dos documentos já foram analisados. A Pfizer ainda avalia se vai solicitar o uso emergencial da vacina. Nesta terça-feira, 12, teve uma reunião com a Anvisa para esclarecer alguns pontos, mas ainda não apresentou o pedido.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse na segunda-feira, 11, que mesmo sem um Plano Nacional de Imunização, o estado vai começar a vacinação no dia 25 de janeiro, com a vacina do Butantan/Sinovac.
A imunização será de segunda a sexta-feira, das 8 às 22 horas; sábados, domingos e feriados, das 8 às 18h. Este horário ainda pode ser alterado, caso haja necessidade. Serão 5.200 postos de aplicação.
Serão vacinados 1,5 milhão de profissionais da saúde, e depois 7,5 milhões de pessoas acima de 60 anos. Após os trabalhadores da saúde, o calendário vai começar pelos idosos com 75 anos ou mais. A vacina será em duas doses, com um intervalo de 21 dias entre elas.