Vaccari Neto: o ex-tesoureiro do PT também está na prisão da Lava Jato, desde abril de 2015, já condenado por Moro (Marcelo Camargo/ Agência Brasil/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de maio de 2017 às 18h39.
São Paulo - O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto era "o homem" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema instalado na Petrobras.
A afirmação é do ex-diretor de Serviços da petrolífera Renato Duque, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, nesta sexta-feira, 5.
"Vaccari é da criação do PT, salvo engano. Vaccari foi apresentado como homem do presidente Lula, que iria cuidar dos interesses das empresas que atuavam junto à Petrobras, interesses do presidente Lula, interesses políticos."
A Lava Jato descobriu a ação de um poderoso cartel de empreiteiras na Petrobras entre 2004 e 2014 - período que pegou os dois governos de Lula e o primeiro de Dilma.
O cartel distribuiu propinas a partidos, políticos e ex-dirigentes da estatal, inclusive para o próprio Duque, condenado a 20 anos de prisão em uma das ações penais da Lava Jato.
As revelações de Duque indicam que o ex-presidente escalou Vaccari para "cuidar dos interesses" dessas empreiteiras na petrolífera.
Vaccari também está na prisão da Lava Jato, desde abril de 2015, já condenado por Moro.
A Diretoria de Serviços, que Duque comandou, era cota do PT na Petrobras, afirmam os investigadores.
Preso em Curitiba, foi o próprio Duque que pediu ao juiz Moro que tomasse seu depoimento - anteriormente, em outras audiências, o ex-diretor adotou o silêncio como estratégia de defesa.
Agora, resolveu confessar. Apontou para Lula, a quem atribuiu o papel de "comandante" do esquema Petrobras.
Indagado sobre se a arrecadação de dinheiro ilícito era destinada ao PT e como esse dinheiro chegava ao partido, Renato Duque declarou:
"Sempre através do tesoureiro, com Delúbio Soares, depois Paulo Ferreira e depois o Vaccari. Todos sabiam. Ninguém desconhecia."
Duque contou a Moro que se reuniu três vezes com Lula.
"Eu tive, após a saída da Petrobras, três encontros com Lula, um em 2012, um em 2013 e o último em 2014. No encontro de 2012 para mim ficou muito evidente, fiquei surpreendido com o conhecimento que ele tinha sobre esse projeto de sondas. Ele me questionou, só relembrando, eu já estava fora da Petrobras desde abril, esse primeiro encontro se deu em julho de 2012 a meu pedido, eu conversei com o Vaccari que eu queria agradecer pelo período que eu passei na Petrobras. Ele (Lula) começou a fazer algumas perguntas sobre a questão das sondas, uma delas porque não tinha sido aprovado ainda. 'Presidente, eu não sei responder, eu estou fora da empresa'."
Duque falou sobre o segundo encontro.
"Aí teve um segundo encontro que, da mesma maneira, ele fez perguntas sobre sondas, porque não estava recebendo até então, em 2013. Perguntou se eu sabia porque as empresas não estavam pagando, eu não soube responder, também não acompanho isso."
O terceiro encontro com Lula, disse Duque, foi no hangar da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
Segundo o Instituto Lula, "o depoimento do ex-diretor da Petrobras Renato Duque é mais uma tentativa de fabricar acusações ao ex-presidente Lula nas negociações entre os procuradores da Lava Jato e réus condenados, em troca de redução de pena.
Como não conseguiram produzir nenhuma prova das denúncias levianas contra o ex-presidente, depois de dois anos de investigações, quebra de sigilos e violação de telefonemas, restou aos acusadores de Lula apelar para a fabricação de depoimentos mentirosos".
"O desespero dos procuradores aumentou com a aproximação da audiência em que Lula vai, finalmente, apresentar ao juízo a verdade dos fatos. A audiência de Lula foi adiada em uma semana sob o falso pretexto de garantir a segurança pública. Na verdade, como vinha alertando a defesa de Lula, o adiamento serviu unicamente para encaixar nos autos depoimentos fabricados de ex-diretores da OAS (Leo Pinheiro e Agenor Medeiros) e, agora, o de Renato Duque."
Ainda conforme o Instituto Lula, "os três depoentes, que nunca haviam mencionado o ex-presidente Lula ao longo do processo, são pessoas condenadas a penas de mais de 20 anos de prisão, encontrando-se objetivamente coagidas a negociar benefícios penais. Estranhamente, veículos da imprensa e da blogosfera vinham antecipando o suposto teor dos depoimentos, sempre com o sentido de comprometer Lula".
"O que assistimos nos últimos dias foi mais uma etapa dessa desesperada gincana, nos tribunais e na mídia, em busca de uma prova contra Lula, prova que não existe na realidade e muito menos nos autos."