Lula: após as indagações de Moro, os procuradores do Ministério Público Federal fizeram seus questionamentos (Justiça Federal do Paraná/Reprodução/Reprodução)
Agência Brasil
Publicado em 11 de maio de 2017 às 11h59.
Última atualização em 11 de maio de 2017 às 13h13.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em depoimento de quase cinco horas ao juiz Sérgio Moro, na tarde de ontem (10), que não há provas de que ele tenha cometido algum crime, negou ter conhecimento de pagamento de propina da empreiteira OAS a funcionários da Petrobras e ao PT e também de ter orientado o presidente da construtora, Léo Pinheiro, a destruir eventuais provas do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
Réu em cinco ações penais, Lula é acusado de ter recebido R$ 3,7 milhões em propina por conta de três contratos entre a OAS e a Petrobras.
O Ministério Público Federal alega que os valores foram repassados ao ex-presidente por meio do repasse e reforma do apartamento 164-A, de 215 metros quadrados, no Edifício Solaris, no Guarujá, e do armazenamento do acervo presidencial.
No depoimento, Lula afirmou que não existem provas, como escritura ou outros documentos em seu nome que certifiquem que o triplex no Condomínio Solaris, no Guarujá (SP) seria dele.
"Se eu cometi um crime, prove que eu cometi um crime. Apresente à sociedade e o Lula será punido como qualquer cidadão é punido. Mas, pelo amor de Deus, apresentem uma prova. Chega de diz-que-diz."
Ao ser perguntado por Moro se sabia que a OAS repassava propina por meio de uma "conta-geral" gerida pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, Lula respondeu: "Se [eu] tivesse [conhecimento], eles seriam presos bem antes".
Moro questionou Lula sobre um encontro com ex-diretor da Petrobras Renato Duque no Aeroporto Internacional de Congonhas. O ex-agente público admitiu, em depoimento, ter sido questionado por Lula, na ocasião, sobre se teria contas na Suíça.
Segundo Duque, ao ouvir uma negativa sobre a propriedade do dinheiro no exterior, Lula teria dito que "tranquilizaria a ex-presidente Dilma". A reunião, de acordo com o depoente, teria acontecido em 2014, quando o petista não estava mais no cargo.
"O Vaccari tinha mais amizade com ele do que eu. Eu não tenho nenhuma. Eu não sei se tem amizade. Liguei para o Vaccari e falei: Vaccari, você tem como pedir para o Duque ir numa reunião aqui? Ele falou tenho e ele levou Duque lá", complementou.
Inicialmente, antes da declaração sobre o encontro, Lula havia dito que só tomou conhecimento da relação de Vaccari com Duque quando foi denunciado. "Não sei (se ambos tinha relação). Eu sei que tinha porque, na denúncia, aparece que eles tinham relação." (Leia: Lula se contradiz sobre relação de Vaccari com Duque)
Em delação premiada, o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, afirmou que Lula o procurou em 2014 para saber se a empreiteira tinha registros documentais do pagamento de propinas. Segundo Pinheiro, o ex-presidente pediu para que as provas fossem destruídas.
Lula nega tal pedido. "Encontrei o Léo Pinheiro mais de uma vez, e jamais disse o que ele falou", respondeu o ex-presidente. Segundo ele, naquela época de crise econômica, empresários o procuravam para pedir orientações sobre o que fazer para contornar as dificuldades. "Inclusive o Léo", completou.
O ex-presidente repetiu a afirmação de que tratou sobre o tríplex com Léo Pinheiro apenas em duas ocasiões: em 2013, em uma reunião no Instituto Lula, e quando foi visitar o prédio, em 2014. Segundo ele, nos demais encontros o assunto não era discutido. (Leia: Lula admite que se encontrou com Léo Pinheiro)
Acervo presidencial
Após as indagações de Moro, os procuradores do Ministério Público Federal fizeram seus questionamentos. O MPF apresentou uma fotografia de dois contêineres com as inscrições "sítio" e "praia". Segundo os procuradores, esses contêineres tinha parte do acervo presidencial, que estava no Palácio da Alvorada.
"Quem pode responder o que tava dentro dessa caixa é quem foi investigar, é quem abriu as caixas. Eu nunca abri uma caixa, nunca visitei o acervo, não sei o que tem dentro. [...] O fato de estar escrito 'praia' é porque eu ia à praia quando era presidente. Não quer dizer nada", respondeu Lula.
O MPF também apresentou um documento que supostamente trata do contrato entre a OAS e a Granero para que esta guardasse o acervo presidencial. De acordo com os procuradores, os objetos guardados eram descritos como bens de escritório pertencentes à OAS.
O representante do MPF perguntou por que o documento não menciona o acervo presidencial. "Pelo que eu já ouvi em depoimentos aqui, a origem desse espaço era para a OAS guardar as coisas dela", respondeu o ex-presidente.
Nas alegações finais, o ex-presidente criticou a imprensa, os vazamentos aos veículos de informação e disse que a denúncia contra ele foi baseada em notícias jornalísticas que levaram os procuradores a produzirem "uma apresentação de PowerPoint" mentirosa e com uma tese política.
"Eu conheço os vazamentos. Eu sei dos vazamentos. É como se o Lula tivesse, pela imprensa, pelo Ministério Público, sendo procurado. […] Se adotou a política de primeiro a imprensa criminalizar", disse.
Moro rebateu Lula e disse que a imprensa não vai influenciar seu julgamento. "Essa acusação é pública. Não existem vazamentos em relação a essas ações penais. O senhor pode ter certeza de que o processo será julgado com base nas provas e na lei e serão levadas em consideração essas declarações que o senhor fez a esse respeito. Este não é o foro próprio para o senhor reclamar do tratamento da imprensa. O juiz não tem relação com o que a imprensa publica."