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Em congresso do PT, Lula diz que um pouco de radicalismo faz bem à alma

Durante abertura do evento em São Paulo, ex-presidente afirmou, no entanto, que não considera o PT um partido "radical"

Lula disse que foi orientado a evitar a polarização para "não conturbar o ambiente político", mas deu de ombros. (Nacho Doce/Reuters)

Lula disse que foi orientado a evitar a polarização para "não conturbar o ambiente político", mas deu de ombros. (Nacho Doce/Reuters)

TL

Tais Laporta

Publicado em 23 de novembro de 2019 às 10h27.

Última atualização em 23 de novembro de 2019 às 10h32.

Duas semanas depois de deixar a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde passou um ano e meio preso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um longo discurso na abertura do 7.º Congresso Nacional do PT em São Paulo, no qual defendeu a polarização com o governo Jair Bolsonaro, defendeu os feitos dos governos petistas e se recusou a fazer autocrítica em relação aos erros cometidos pelo partido. Segundo Lula, "um pouco de radicalismo faz bem à nossa alma", embora tenha afirmado que não considera o PT um partido "radical".

"Aos que criticam ou temem a polarização, temos que ter a coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para ficar em cima do muro ou no meio do caminho: somos e seremos oposição a esse governo de extrema direita que gera desemprego e exige que os desempregados paguem a conta", afirmou.

Segundo ele, setores da política tentam misturar polarização com radicalização. Para enfrentar esta tese, Lula lembrou que ao longo de 39 anos o PT sempre jogou dentro das regras da democracia, tanto na oposição quanto no governo, ao contrário dos adversários.

"Não fomos nós os responsáveis, ativos ou omissos, pela eleição de um candidato que tem ojeriza à democracia; que foi poupado de enfrentar o debate de propostas (…) Não fomos nós que falamos em fechar o Congresso, muito menos o Supremo, com um cabo e um soldado. Em nossos governos, as Forças Armadas foram respeitadas e os chefes militares respeitaram as instituições, cumprindo estritamente o papel que a Constituição lhes reserva. Nenhum general deu murro na mesa nem esbravejou contra líderes políticos. Não fomos nós que pedimos anulação do pleito só para desgastar o partido vencedor", disse Lula.

Mesclando a leitura de um discurso escrito com improvisos, Lula disse que foi orientado a evitar a polarização para "não conturbar o ambiente político", mas deu de ombros. "Eu quero polarizar. Porque o dia que a gente não polarizar a gente está fora da disputa", disse o ex-presidente. "Como se polarização fosse sinônimo de extremismo político e ideológico. Como se o Brasil já não estivesse há séculos polarizado entre os poucos que têm tudo e os muitos que nada têm. Como se fosse possível não se opor a um governo de destruição do país, dos direitos, da liberdade e até da civilização".

Lula voltou a dizer que o PT não deve fazer autocrítica. "Embora tantos tenham cometido erros antes e depois do nosso governo é somente do PT que exigem uma autocrítica. Na verdade querem de nós um humilhante ato de contrição", disse Lula. "O maior erro que nós cometemos foi não ter feito mais e melhor, de uma forma tão contundente que jamais fosse possível esse País voltar a ser governado contra o povo, contra os interesses nacionais".

Contrariando lideranças petistas que defendiam um discurso em tom conciliatório, Lula afirmou: "não venham dizer que o PT é radical, mas um pouco de radicalismo faz bem à nossa alma" e defendeu a "resistência" do "povo da Venezuela".

O ex-presidente chamou de "modelo suicida de austeridade fiscal que não deu certo em lugar nenhum do mundo" a política econômica do ministro Paulo Guedes e disse que é a herança de seus governos o que impede o País de entrar em uma convulsão social.

"A verdade é que o Brasil só não quebrou ainda por causa da herança dos governos do PT", disse Lula citando medidas como a criação de reservas de US$ 370 bilhões, abertura de mercados antes inexplorados e a descoberta do pré-sal. "O Brasil só não está passando por uma convulsão social extrema por causa da herança das politicas sociais que fizemos", afirmou o petista.

O ex-presidente defendeu a democratização dos meios de comunicação, mas negou que isso represente qualquer risco à liberdade de expressão, ameaça que ele atribuiu a Bolsonaro. "Não ousem me comparar ao presidente que eles escolheram. Jamais ameacei e jamais ameaçaria cassar arbitrariamente uma concessão de TV. Eu sempre disse que jamais teria chegado onde cheguei se não tivesse lutado pela liberdade de imprensa (...) Entendo que democratizar a comunicação não é fechar uma TV, é abrir muitas. É fazer a regulação constitucional que está parada há 31 anos, à espera de um momento de coragem do Congresso Nacional", afirmou.

Ao longo de pouco mais de uma hora de discurso, ainda sobrou tempo para um pouco de ironia. "Andam negando essa verdade científica, mas a Terra é redonda e nós estamos, sim, em polos opostos: enquanto eles semeiam o ódio, nós vamos mostrar a eles o que o amor é capaz de fazer por este País", brincou o petista.

Congresso vira festa para ex-presidente

Lula falou na abertura do 7.º Congresso Nacional do PT que vai até domingo, em São Paulo. O evento, convocado para preparar o partido no enfrentamento do avanço da direita, se tornou uma festa para Lula. No palanque, além dele, havia outros presos pela Lava Jato que foram beneficiados pelo fim da prisão após condenação em segunda instância como o ex-ministro José Dirceu, saudado pela militância como "guerreiro do povo brasileiro", e os ex-tesoureiros do PT Delúbio Soares e João Vaccari.

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), cotada para disputar a prefeitura do Rio no ano que vem, cantou um trecho do samba enredo da Unidos de Vila Isabel, de 1988. A presidente cassada Dilma Rousseff, que na véspera se reencontrou com Lula pela primeira vez desde que o ex-presidente foi preso, foi aplaudida ao falar que existe hoje no Brasil "uma aliança nefasta entre o neoliberalismo e o neofascismo".

Ministros como Fernando Haddad, Jaques Wagner, Aloisio Mercadante, Celso Amorim, Gilberto Carvalho, Luiz Dulci e Edinho Silva dividiram o palanque com representantes de outros partidos de esquerda como os presidentes do PSOL e do PCdoB, Juliano Medeiros e Luciana Santos, a candidata a vice na chapa de Haddad Manuela D'Avila, e o candidato do PSOL Guilherme Boulos.

Um dia depois de Lula ter dito ao diretório nacional que o PT deve lançar candidatos no maior número de cidades possível, em alguns casos sacrificando coligações, os aliados fizeram discursos de conciliação e unidade. "Para derrotar o governo Bolsonaro, qualquer aliança vale", disse Juliano. "É o momento de sabermos que aquilo que nos separa, nos diferencia, é muito menor do que aquilo que nos une", completou Boulos.

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