Ministros: esse foi o primeiro problema do presidente interino. Temer, que havia prometido um “ministério de notáveis”, foi obrigado a ceder à política de coalizão e lotear as pastas entre partidos aliados. Na equipe, entraram nomes políticos de peso, mas também de indivíduos investigados pela
Operação Lava Jato. Romero Jucá (PMDB-RR), que foi um dos principais articuladores em favor de Temer no processo de impeachment, ganhou o Ministério do Planejamento, mesmo respondendo a inquérito por participação no esquema de corrupção da Petrobras. Uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo revelou uma gravação feita pelo ex-presidente da Transpetro e emissário do PMDB no esquema, Sérgio Machado, em que o senador
conspirava sobre maneiras de livrar o ex-executivo de responder a inquérito na Justiça do Paraná, sob comando do juiz federal Sergio Moro. A investigação entende que peemedebistas temiam que Machado se tornasse delator no processo e levasse informações sobre o caminho do dinheiro a Moro. Além de Jucá, que teve que deixar o cargo por conta do escândalo, foram gravados também o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o
ex-presidente da República José Sarney (PMDB-MA), ambos do núcleo duro do partido do presidente interino. Gerando mais desgaste, outro áudio vazado mostra o advogado
Fabiano Silveira criticando a condução da operação. Silveira, no dia seguinte, perdeu o cargo de ministro da Fiscalização, Transparência e Controle, pasta que substitui a Controladoria-Geral da União — segundo ministro em menos de uma semana. Outros dois membros do governo estão na corda bamba: o advogado-geral da União, Fábio Osório Medina, e o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Medina usou um avião da FAB para comparecer a um evento em Curitiba em homenagem ao juiz federal Sérgio Moro, mesmo sem a prerrogativa de utilizá-la — o advogado-geral da União não tem mais status de ministro. Alves, por sua vez, teve um inquérito aberto no STF para investigar sua suposta participação nos crimes investigados pela Operação Lava Jato. Apesar de ter dito que demitiria qualquer ministro com envolvimento com corrupção, Temer
decidiu preservar o emprego da dupla. Medina foi perdoado e Alves só será removido com provas contundentes de participação em crimes. Na berlinda também está a ex-deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP). Ela foi indicada por Temer para a secretaria de políticas para as mulheres, vinculada ao Ministério da Justiça, mas foi apontada pelo Ministério Público Federal como integrante de "articulação criminosa". Fátima é
investigada por ter indicado uma ONG fantasma para receber R$ 4 milhões de suas emendas parlamentares para promover o turismo no Amapá. A deputada seria beneficiária de parte do dinheiro e o caso pegou mal.