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Um ano após euforia olímpica, Rio vive dias de insegurança

Incertezas em relação ao uso das instalações olímpicas são as últimas das preocupações dos mais de 6 milhões de habitantes que lidam com a violência diária

Violência: ano passado, o sentimento de insegurança era impensável para a cidade que sediou as Olimpíadas (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Violência: ano passado, o sentimento de insegurança era impensável para a cidade que sediou as Olimpíadas (Fernando Frazão/Agência Brasil)

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AFP

Publicado em 3 de agosto de 2017 às 11h18.

Última atualização em 3 de agosto de 2017 às 13h34.

Um ano após os fogos de artifício e a euforia dos Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro vive ao ritmo de tiroteios e manifestações contra o crescimento da violência, agravada pelo profundo marasmo econômico.

As incertezas em relação ao uso das instalações olímpicas são as últimas das preocupações dos mais de seis milhões de habitantes da "Cidade Maravilhosa", para quem o espirito festivo dos Jogos, e seu sucesso, se tornaram apenas uma lembrança distante.

Guerra entre facções de narcotraficantes, crianças mortas por balas perdidas durante ações da polícia nas favelas, aumento dos roubos a mão armada: o sentimento de insegurança é omnipresente.

Nas últimas semanas, a Linha Vermelha, avenida que leva ao aeroporto internacional da cidade, teve o trânsito interrompido diversas vezes por tiroteios que aterrorizaram os motoristas.

Uma visão impensável em agosto do ano passado, quando o dispositivo de segurança havia sido consideravelmente reforçado para as Olimpíadas.

"Tínhamos recebido o reforço de 50.000 homens e um aporte financeiro considerável da parte do governo federal. Mas, hoje, esses reforços foram embora e estamos com dificuldade para pagar nosso policiais", admite Roberto Alzir, subsecretário de planejamento e integração Operacional do governo estadual.

Sem visão a longo prazo

A violência está intrinsecamente ligada à crise econômica, que começou há dois anos, bem antes dos Jogos Olímpicos. O Estado do Rio está à beira da falência e os servidores públicos recebem seus salários com meses de atraso.

Alguns chegam a depender de doações de cestas básicas para sobreviver.

Os policiais ainda não receberam o 13º salário referente a 2016 e as autoridades não têm condições de pagar pelas horas extras que permitem aumentar de maneira significativa o patrulhamento.

"Estamos tentando otimizar os recursos disponíveis e racionalizar o emprego dos nossos recursos no sentido de tentar fazer mais com menos. Esse é nosso grande desafio", resume Alzir.

Os problemas financeiros, porém, não podem ser vistos como responsáveis únicos pelo aumento da violência.

Diversos especialistas acusam a estratégia de ocupação das favelas pelas autoridades, que tentaram diminuir a rede de ação e a influência dos traficantes sobre os moradores apostando na instauração de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) dentro das comunidades.

"Estamos pagando o preço do fracasso total do projeto das UPPs", denuncia Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), da Universidade Candido Mendes.

"O Rio, a partir de 2008, apostou num projeto que tinha um objetivo muito claro: tornar essa cidade mais segura para receber dois grandes eventos (Copa do Mundo-2014 e Jogos Olímpicos-2016), mas acabaram criando UPPs numa velocidade enorme, um projeto insustentável a longo prazo", analisa Lemgruber.

"Por que a UPP não deu tão certo? Porque só foi a polícia. A inclusão social, o urbanismo, o saneamento não chegaram em muitas comunidades. Não é algo simples, muito menos barato, e é preciso uma ação integrada entre polícia e todos os setores sociais", admite Roberto Alzir.

Turismo sofre

Além dos problemas com a violência, a população vem sofrendo com os altos índices de desemprego.

Ex-executivos trabalham como motoristas de Uber para poder pagar as contas do fim do mês e o aumento no número de moradores de rua é perceptível ao olho nu.

A crise chega a afetar os atletas de alto rendimento: inúmeros medalhistas olímpicos brasileiros nos Jogos do Rio se encontram sem patrocínio.

Abandonadas por muito tempo, algumas instalações do Parque Olímpico começam a abrir as portas para treinos ou eventos pontuais, apesar das persistentes incertezas.

Reaberto em maio, o velódromo foi danificado na noite de sábado (28) por um incêndio causado por um balão e que consumiu parte do teto do local.

A Arena do Futuro, que sediou os jogo de handebol durante as Olimpíadas, tinha previsto ver sua estrutura reutilizada na construção de três escolas públicas em bairros pobres da cidade, mas o projeto não pôde ser implementado devido a problemas orçamentários.

"Conseguimos realizar grandes Jogos Olímpicos, apesar da crise. A herança não está comprometida, apenas vai demorar mais para ser colocada em prática", argumentou Mario Andrada, diretor de comunicação do Comitê Rio-2016.

Os moradores já se beneficiam da extensão da rede de transportes e da revitalização da região portuária do Rio, mas a crise e os problemas de violência afetam diretamente o turismo.

Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), 5.000 empregos foram criados neste setor durante os Jogos, mas cerca de 9.000 pessoas foram licenciadas de janeiro a maio de 2017.

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