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Tuítes "ideológicos" de Bolsonaro são mais contestados, afirma estudo

No topo do ranking dos tuítes negativos ou controversos de Bolsonaro está o que ele publicou no Carnaval

Jair Bolsonaro: publicações nas quais o presidente é mais ideológico galvanizam sua base de apoio, mas são em geral contestadas por outros setores (Ueslei Marcelino/Reuters)

Jair Bolsonaro: publicações nas quais o presidente é mais ideológico galvanizam sua base de apoio, mas são em geral contestadas por outros setores (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de março de 2019 às 11h48.

Última atualização em 24 de março de 2019 às 11h48.

São Paulo - A leitura dos tuítes de Jair Bolsonaro ordenados a partir de um "índice de controvérsia" evidencia os limites da estratégia do presidente de estabelecer comunicação direta com os cidadãos por meio de redes sociais.

As publicações nas quais o presidente é mais ideológico galvanizam sua base de apoio, mas são em geral contestadas por outros setores.

Uma lei não escrita das redes sociais indica que os piores tuítes de alguém são os que têm maior proporção de respostas e comentários em relação à soma de retuítes e "likes". É o que se chama de "ratio", no jargão dos usuários e especialistas.

Aplicada às postagens do presidente, essa metodologia indica que as maiores reações negativas ocorrem quando ele publica algo inserido no contexto de "guerra cultural" contra o que considera ideológico ou imoral.

No topo do ranking dos tuítes negativos ou controversos de Bolsonaro está o que ele publicou no Carnaval, com o vídeo obsceno de integrantes de um bloco de rua em São Paulo e o seguinte texto (mantidos os erros do original): "Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conclusões". O tuíte foi apagado do perfil do presidente.

A postagem na qual Bolsonaro atacou uma repórter do Estado, atribuindo a ela falsas declarações, aparece no quarto lugar do ranking. O pai da repórter, que também é jornalista, foi alvo no mesmo tuíte: "Constança Rezende, do 'O Estado de SP' diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o Impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otavio, profissional do 'O Globo'. Querem derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos."

Outros ataques à imprensa também estão na lista de postagens que provocaram maior reação negativa, segundo o cálculo de "ratio". Por outro lado, há pouca controvérsia quando Bolsonaro faz anúncios ou comentários relacionados a medidas adotadas pelo governo - ou seja, ele é mais bem recebido pelas redes quando atua de forma mais "presidencial".

O cientista político Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que acompanha o impacto das redes sociais na política, diz que a estratégia de comunicação de Bolsonaro é própria de um "campo de batalha" pelo domínio da opinião pública. As consequências, segundo ele, estão desentendimentos entre membros do governo escancarados ao público, crises diplomáticas e a constante quebra de protocolos.

Para Casarões, se por um lado Bolsonaro tem "capilaridade" na opinião pública, com milhões de seguidores no Twitter, por outro se torna constantemente exposto ao risco de incompreensão e a reações negativas da base que o elegeu.

O modo como o presidente da República usa a rede social foi alvo de críticas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), nos últimos dias. Para o parlamentar, Bolsonaro deveria dedicar mais tempo à articulação pela reforma da Previdência e menos ao Twitter. "Ninguém consegue emprego, vaga na escola, creche, hospital por causa do Twitter", disse Maia em entrevista ao Estado publicada ontem.

O governo e o Congresso vivem um embate justamente porque Bolsonaro, apegado à ala mais ideológica de sua base, se nega a articular com mais afinco pela reforma no Legislativo.

O ranking com 613 tuítes que Bolsonaro publicou desde a posse presidencial foi elaborado por Pedro Burgos, jornalista e professor no curso de pós-graduação em Jornalismo no Insper.

Mas qual é a lógica por trás do cálculo de "ratio"? No Twitter, há três possíveis formas de interação: o retuíte (quando um usuário encaminha para seus seguidores o conteúdo publicado por outro), o "like" (quando se clica no ícone do coração para indicar ao autor que se aprova o que ele escreve) e o comentário.

As duas primeiras reações são entendidas como positivas. A terceira, em geral, indica o contrário. Quando se mede a proporção entre elas, é possível listar as postagens mais e menos controversas.

Estudo surgiu em 2017

Análise de 613 tuítes publicados por Jair Bolsonaro de 1.º de janeiro a 14 de março, feita pelo jornalista e pesquisador Pedro Burgos (Insper), indica que os textos focados em temas culturais ou ataques à imprensa têm menos apoio do que os que se atém a questões presidenciais, de anúncio de medidas ou projetos do Executivo. Essa conclusão se baseia no conceito de "ratio". Ratio, ou razão, vem de ratioed, uma expressão que surgiu em discussões sobre o Twitter no fim de 2017.

Uma pessoa é "ratioed" ("proporcionada") quando o número de respostas a um tuíte é maior que a soma de likes e retuítes. Um mau ratio vem quando mais gente preferiu reclamar a endossar e compartilhar uma mensagem no Twitter. "Retuíte" não é necessariamente endosso, especialmente após o Twitter adicionar a função "quote", em que é possível acrescentar um comentário a uma mensagem compartilhada.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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