Temer e Dilma: processo no TSE pode decidir a cassação da chapa que venceu a eleição em 2014 (Wilson Dias/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de março de 2017 às 08h17.
Brasília - O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin intimou o ex-funcionário da Odebrecht José de Carvalho Filho, a ex-secretária Maria Lúcia Tavares e o ex-executivo Fernando Miggliaccio a prestarem depoimento nesta sexta-feira, 10, na ação que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer por abuso do poder econômico e político.
Além disso, o ministro, que é relator da ação, decidiu incluir o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior, o BJ, em acareação que será realizada também na sexta.
Carvalho foi citado no depoimento do ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira Cláudio Melo Filho como o responsável por viabilizar o repasse de R$ 4 milhões ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. A remessa teria sido acertada durante jantar no Palácio do Jaburu, em 2014, do qual também participou o então vice-presidente Michel Temer.
Citado 34 vezes na delação de Melo Filho à Lava Jato, Carvalho também seria o responsável pelo envio de valores ao ex-assessor da Presidência José Yunes, por meio do operador financeiro Lúcio Funaro. Yunes disse ter servido de "mula involuntária" de Padilha ao receber um pacote de Funaro que deveria ser entregue ao ministro.
Segundo pessoas que tiveram acesso ao depoimento de Melo Filho ao TSE, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht disse que Carvalho recebeu um telefonema em tom ríspido do então presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - atualmente preso na Lava Jato -, cobrando R$ 1 milhão dos R$ 4 milhões destinados a Padilha.
Melo Filho afirmou ainda, no depoimento ao TSE, ter avisado Padilha sobre o telefonema e, segundo o ex-diretor da empreiteira, o ministro disse que resolveria a questão pessoalmente com Cunha.
Procurado pela reportagem, Padilha não se manifestou.
Delatora
Maria Lúcia atuou no Setor de Operações Estruturadas, o chamado "departamento de propina" da Odebrecht, onde foi responsável pelos pagamentos e pela contabilidade.
Alvo da Operação Acarajé, 23.ª fase da Lava Jato, em fevereiro de 2016, Maria Lúcia fez acordo com o Ministério Público Federal. Em troca da liberdade e de um possível perdão judicial, relatou aos investigadores como funcionava o "departamento de propina". Ela é considerada a testemunha-chave que levou o alto escalão da Odebrecht a buscar delação.
Miggliaccio é considerado um dos responsáveis pelo "departamento da propina" da empreiteira baiana. Era ele que administrava a conta no exterior por meio da qual eram feitos pagamentos de propina.
Também na sexta o TSE fará uma acareação entre três delatores: Melo Filho, o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht e Hilberto Mascarenhas, ex-funcionário da Odebrecht e ligado ao "departamento de propina".
Um dos objetivos é esclarecer versões conflitantes sobre o jantar no Jaburu. Marcelo Odebrecht disse ao TSE que Temer deixou o jantar antes que fosse acertado o repasse de R$ 10 milhões ao PMDB, por meio de Padilha. Já Melo Filho reafirmou à Justiça Eleitoral o teor de sua delação, na qual afirmou que Temer "solicitou direta e pessoalmente" a Marcelo Odebrecht apoio financeiro às campanhas do PMDB.
Mascarenhas e Benedicto Júnior devem esclarecer outro ponto do depoimento de Marcelo Odebrecht. O ex-presidente da empreiteira disse ter reservado R$ 150 milhões para o PT em 2014, dos quais 4/5 foram repassados via caixa 2.
Já os outros dois depoentes relataram ter participado de reunião com o herdeiro do grupo em março de 2014 na qual o então presidente da empreiteira teria dito que o valor global das doações naquele ano seria de R$ 200 milhões, a todos os partidos - R$ 120 milhões seriam doados oficialmente, R$ 40 milhões por meio da cervejaria Itaipava e outros R$ 40 milhões via caixa 2.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.