Indígenas: as terras indígenas protegidas têm tido cada vez mais invasões de madeireiros e mineradores ilegais desde o início do governo Bolsonaro (Nacho Doce/Reuters)
Reuters
Publicado em 14 de janeiro de 2020 às 19h28.
Líderes indígenas brasileiros começaram nesta terça-feira uma reunião tribal de quatro dias na Amazônia para planejar a oposição às iniciativas do presidente Jair Bolsonaro para abrir suas reservas para a mineração comercial e para a agricultura.
As terras indígenas protegidas têm tido cada vez mais invasões de madeireiros e mineradores ilegais desde o início do governo Bolsonaro no ano passado, levando a um aumento no desmatamento, na incidência de queimadas florestais e na ocorrência de conflitos mortais em diversas reservas.
Bolsonaro prometeu integrar os cerca 900 mil indígenas na economia e na sociedade brasileiras enquanto mexe nas ricas reservas minerais e explora o potencial para a agricultura comercial das 462 reservas atuais. Ambientalistas dizem que as iniciativas irão acelerar a destruição da floresta amazônica, maior floresta tropical do mundo, considerada vital para a desaceleração do aquecimento global.
A reunião desta semana em uma vila no Parque do Xingu será liderada pelo líder da etnia caiapó Cacique Raoni Metuktire, que se tornou uma referência mundial em campanhas ambientalistas nos anos 1980 ao lado do músico inglês Sting.
"O ano 2020 já começa com uma grande reunião chamada pelo Cacique Raoni para marcar posição e discutir estratégias para proteger a Amazônia das ameaças, críticas e destruição do governo Bolsonaro", disse Sonia Guajajara, líder da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), à Reuters enquanto se dirigia ao Xingu.
Líderes indígenas usando pinturas cerimoniais no corpo e cocares fizeram danças rituais para iniciar a reunião.
De acordo com um esboço visto pelo jornal O Globo, a legislação preparada pelo governo não apenas abriria as reservas à mineração, mas também para à exploração de petróleo e gás, construção de novas represas hidrelétricas e fazendas comerciais com culturas geneticamente modificadas atualmente proibidas por lei em terras indígenas.
Comunidades indígenas seriam consultadas sobre os projetos econômicos, como é estipulado pela Constituição brasileira, mas não teriam o poder de vetar projetos decididos pela atual gestão federal, segundo noticiou O Globo no último sábado.
O governo Bolsonaro, que se recusou a comentar a reportagem, disse que está consultando com líderes tribais que buscam o desenvolvimento econômico mas são ignorados pelos mais conhecidos defensores de direitos de indígenas.
Sonia Guajajara disse que algumas tribos que fazem cultivo de soja podem ser favoráveis à flexibilização de restrições ambientais, mas que a maioria é contrária à abertura de suas terras para a mineração.