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Três pacientes morrem no Rio Grande do Sul após nebulização com cloroquina

De acordo com o médico e diretor-técnico do hospital, Tiago Bonilha, ainda não é possível atribuir as mortes à nebulização com cloroquina administrada pela médica.

O tratamento não tem comprovação científica. (Getty/Getty Images)

O tratamento não tem comprovação científica. (Getty/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de março de 2021 às 14h34.

Três pacientes que receberam nebulização com cloroquina na cidade de Camaquã, região sul do Rio Grande do Sul, morreram durante o tratamento que não tem comprovação científica. As vítimas vieram a óbito entre segunda-feira, 22, e quarta-feira, 24, depois de receberem o tratamento que também não faz parte dos protocolos do Hospital Nossa Senhora Aparecida, onde eles estavam internados.

A nebulização com cloroquina foi realizada pela médica Eliane Scherer, que chegou a gravar um vídeo ministrando o tratamento. Ela foi afastada do hospital e está sendo investigada pelo Conselho Regional de Medicina (Cremers), que pode cassar seu registro médico.

De acordo com o médico e diretor-técnico do hospital, Tiago Bonilha, ainda não é possível atribuir as mortes à nebulização com cloroquina administrada pela médica.

Porém, ele analisa que o caso não se trata da chamada prescrição "off label", autorizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). "Ao meu ver, esse tipo de terapia (nebulização com cloroquina) transcende o que chamamos de prescrição 'off label'. Não tenho experiência com ela e não encontrei referências seguras para aplicar ela, portanto optei por não fazer."

Bonilha destaca ainda que dois dos três pacientes mortos estavam em estado grave, com insuficiência respiratória. Ele prefere ser cauteloso ao falar sobre as consequências do tratamento no estado de saúde dos pacientes, mas aponta alguns elementos que podem comprovar a ineficácia da nebulização com cloroquina.

"Não tenho como atribuir melhora, ou piora diretamente ao procedimento, mas de fato, o desfecho final de três pacientes submetidos a terapia foi óbito. Todos eles têm documentado em prontuário taquicardia, ou arritmias algumas horas após receberem a nebulização."

O tratamento só foi permitido porque os pacientes entraram na Justiça para garantir a nebulização com cloroquina. "Infelizmente, nesse cenário de desespero, polarização e politicagem, diante de muita pressão da sociedade, permitimos, que via judicial e de maneira formalizada, os pacientes que desejavam receber essa terapia assim o fizessem."

Na sexta-feira passada, dia 19, o presidente Jair Bolsonaro entrou ao vivo em uma rádio de Camaquã para impulsionar o tratamento por meio da nebulização de hidroxicloroquina. Especialistas consultados pelo Estadão apontam que a prática pode trazer ainda mais riscos de efeitos colaterais para os pacientes do que a administração oral do remédio.

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