Brasil

Com peixes mortos e rio poluído, indígenas temem futuro após Brumadinho

A tribo Pataxó Hã-hã-Hãe, uma pequena aldeia indígena próximo a Brumadinho, enfrenta dúvidas sobre sua própria existência

Tragédia em Brumadinho ameaça sobrevivência de aldeia indígena (Adriano Machado/Reuters)

Tragédia em Brumadinho ameaça sobrevivência de aldeia indígena (Adriano Machado/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 11h29.

Última atualização em 30 de janeiro de 2019 às 11h30.

São Joaquim de Bicas — Quilômetros correnteza abaixo a partir de onde uma barragem da mineradora Vale em Brumadinho (MG) se rompeu na sexta-feira, deixando dezenas de mortos e quase 300 desaparecidos, uma pequena aldeia indígena enfrenta dúvidas sobre sua própria existência, uma vez que o rio do qual sua vida depende está poluído pelos detritos de mineração.

Os peixes do rio Paraopeba são a principal fonte de alimento dos membros da tribo Pataxó Hã-hã-Hãe, que vivem no final de uma estrada de terra sinuosa. Os moradores do vilarejo também se banham e lavam as roupas em suas águas.

Mas depois que uma barragem de rejeitos da mina Córrego do Feijão estourou, soterrando comunidades e transformando as águas antes claras do rio em um fluxo marrom barrento, os cerca de 80 moradores da aldeia Pataxó Hã-hã-Hãe de Naô Xohã dizem que temem ser forçados a retirar suas famílias.

Embora nenhum Pataxó Hã-hã-Hãe esteja, até o momento, entre os 84 mortos confirmados ou os 276 desaparecidos, eles receiam que o desastre possa ser o fim de seu estilo de vida.

"Na quinta-feira eu estava aqui lavando minhas roupas, banhando meus filhos, e agora não posso nem tocar no rio", disse Sot de Ionara, contendo as lágrimas. "Nossos corações estão muito tristes por saberem que nada pode ser feito".

O sofrimento dos Pataxó Hã-hã-Hãe coincide com o momento em que o atual governo sinaliza que quer eliminar os regulamentos para a mineração e reduzir as proteções de que as comunidades indígenas desfrutam atualmente. Para os críticos, o rompimento da barragem revela os riscos dessas diretrizes.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) disse estar comprometida a ajudar a aldeira Naô Xohã garantindo o suprimento de água potável, entre outras medidas. Mas a confiança nas autoridades é baixa após a tragédia.

"Você acha que uma mineradora qualquer se preocupa com isso? Você acha que um prefeito qualquer se preocupa com esta área?", indagou Sot de Aigoho. "Eles só amam o dinheiro – e a mineração".

Acompanhe tudo sobre:Brumadinho (MG)IndígenasMortesVale

Mais de Brasil

Qual o valor da multa por dirigir embriagado?

PF convoca Mauro Cid a prestar novo depoimento na terça-feira

Justiça argentina ordena prisão de 61 brasileiros investigados por atos de 8 de janeiro

Ajuste fiscal não será 'serra elétrica' em gastos, diz Padilha