Sem que haja uma denúncia demolidora, Dilma não pode simplesmente trocar Lupi por outro integrante do PDT (Antonio Cruz/ABr)
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2013 às 14h16.
Brasília - Quando disse que só deixa o Ministério do Trabalho se for "abatido à bala", o ministro Carlos Lupi não fazia apenas uma fanfarronice - da qual diz ter-se arrependido. Tirá-lo do posto será mais difícil para a presidente Dilma Rousseff do que foi, por exemplo, trocar cinco ministros que se envolveram em suspeitas de irregularidades e um sexto, Nelson Jobim (Defesa), por insubordinação.
Discípulo de Leonel Brizola, fundador do PDT, Lupi hoje é quase o dono do partido. Licenciou-se de sua presidência somente para obedecer a uma formalidade legal, mas continua sendo quem manda de fato. O vice-presidente pedetista, deputado André Figueiredo (CE), é homem de sua confiança. O segundo vice é o deputado Brizola Neto (RJ), com o qual fechou acordo e cuja irmã, Juliana Brizola, ele nomeou para a Secretaria-Geral do PDT gaúcho. O secretário-geral do PDT nacional é Manoel Dias, remanescente dos tempos de Leonel Brizola, outro do mesmo time.
De acordo com informações de bastidores do Planalto, a presidente Dilma Rousseff sabe da força de Lupi. Hoje, se ele deixar o ministério e resolver fazer oposição, leva consigo 24 dos 26 deputados - Antonio Reguffe (DF) e Miro Teixeira (RJ) são adversários de Lupi, mas já atuam como se estivessem na oposição. Portanto, em um rompimento com o ministro Dilma perderia 26 votos na Câmara. No Senado, Lupi tem força sobre quatro dos cinco senadores - o independente é Cristovam Buarque (DF).
Sem que haja uma denúncia demolidora, Dilma não pode simplesmente trocar Carlos Lupi por outro integrante do PDT. Para fazê-lo teria de negociar seu apoio a um novo nome e a certeza de que não levará o partido para a oposição. Com o PC do B, Dilma tirou Orlando Silva e pôs no lugar Aldo Rebelo, sem rebelião. Com o PMDB, trocou Wagner Rossi, na Agricultura, por Mendes Ribeiro; Pedro Novais, do Turismo, foi substituído por Gastão Vieira.
Embora exerça um cargo técnico, visto que o Ministério do Trabalho tem sua orientação voltada para a geração de empregos, Lupi faz política integral à frente da pasta. Chega ao ministério por volta das 7 horas e sai às 22 horas e mescla as decisões da pasta com uma agitada atividade política. Segundo contam pedetistas, atende a todas as solicitações de forma muito rápida.
Bom aluno
Lupi foi um bom aluno de Leonel Brizola que, na cartilha do caudilhismo, fazia intervenções nos diretórios estaduais sempre que alguém descumpria uma orientação. Hoje, nos 27 Estados e no Distrito Federal, só nove têm diretórios formais. Os outros 18 funcionam à base de comissões provisórias. Pelas regras do partido, elas têm de ser renovadas a cada 60 dias. Isso dá a Lupi poder total nos 18 Estados. No Rio de Janeiro, seu Estado, só seis dos 92 municípios têm diretório permanente.
A força do ministro no PDT começou ainda no governo Lula e, depois que ele se consolidou no Ministério, só aumentou. Em 2007, o nome do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Trabalho era o do deputado Miro Teixeira. Lupi, pretendendo o cargo, vetou a escolha de Miro. Articulou-se com a bancada e foi a Lula. Saiu do encontro com a pasta. Miro hoje está isolado.
O PDT não tem nenhum governador, mas tem, Brasil afora, 3.524 vereadores, 353 prefeitos, 76 deputados estaduais, 26 deputados federais e cinco senadores. Na votação de uma emenda constitucional, como a que prorroga a Desvinculação das Receitas da União (DRU), estes são fundamentais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.