Alexandre Tombini, futuro presidente do BC, não deve aumentar os juros na primeira reunião do Copom de 2011 (Fabio Rodrigues Pozzebom/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2010 às 14h06.
São Paulo e Nova York -O mercado está ampliando apostas de que o Banco Central manterá a taxa básica de juros inalterada em janeiro, na primeira reunião de política monetária sob o comando de Alexandre Tombini. Seria a primeira vez em mais de uma década em que um presidente assume a instituição sem elevar os juros em seu comitê de estreia.
As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro mostram que os operadores reduziram as apostas em um aumento da taxa Selic em janeiro desde 8 de dezembro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Gustavo Franco foi o último presidente do BC a manter o juro inalterado em sua primeira reunião à frente do Comitê de Política Monetária, em 1997.
O mercado manteve a aposta de que os juros permanecerão inalterados em janeiro após a divulgação hoje da ata da reunião do Copom encerrada em 8 de dezembro, a última comandada pelo atual presidente do BC, Henrique Meirelles.
Segundo a ata, medidas macroprudenciais como o aumento do compulsório são instrumento “rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda”. A ata não deu nenhum sinal de que os juros vão subir agora e isso aumenta o risco de inflação e juros mais altos em um prazo mais longo, disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, que administra R$ 2 bilhões, em entrevista por telefone de São Paulo. “Eles vão economizar em juros agora e terão de dar mais juros lá na frente”.
Tombini pode manter a Selic estável após o crescimento menor do que o esperado nas vendas do varejo em outubro ter sinalizado que a economia está esfriando. Além disso, a desaceleração na inflação dos alimentos está levando à previsões de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, em 5,63 por cento no acumulado em 12 meses, poderia ceder.
“A inflação pode recuar com essa queda nos preços das commodities agrícolas e não podemos ignorar a possibilidade de que o Banco Central possa ganhar tempo com isso”, Zeina Latif, uma economista sênior da RBS Securities Inc. em São Paulo, disse numa entrevista por telefone. “Os mercados estão divididos entre zero e 50 pontos-base.”
Henrique Meirelles, que sai do comando do BC no fim do mês, elevou o juro básico em sua primeira reunião à frente do Copom em 2003. Armínio Fraga fez o mesmo em 1999.
Compulsório
Numa tentativa de limitar o crescimento do crédito e a inflação sem elevar o juro básico, que já subiu 200 pontos-base desde o ano passado, o governo anunciou um aumento no depósito compulsório dos bancos em 3 de dezembro. A China subiu as alíquotas do compulsório dos principais bancos em meio ponto percentual seis vezes este ano para conter o avanço dos preços ao consumidor.
No Brasil, a taxa do DI com vencimento no mês que vem desabou 19 pontos-base desde o anúncio do aumento do compulsório para 10,65 por cento ontem.
O Copom -- incluindo Tombini, que faz parte do comitê desde 2005 -- decidiu por unanimidade em 8 de dezembro manter a Selic em 10,75 por cento, em linha com a estimativa da pesquisa da Bloomberg com analistas. Os operadores esperam que o Copom suba a Selic em cerca de 200 ponto-base para 12,75 por cento até o fim de 2011, de acordo com dados da Bloomberg.
Copom
Junto com a decisão adotada pelo Copom na reunião deste mês, os oito membros do comitê afirmaram ser necessário tempo adicional para avaliar o impacto do aumento do compulsório.
“O mercado pensava que o Copom daria uma mensagem forte de alta da Selic para janeiro, mas isso não aconteceu e o BC deixou a porta aberta”, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Markets, terceira maior corretora de câmbio na BM&FBovespa, em entrevista por telefone de São Paulo.
Tombini, cuja indicação foi aprovada ontem por 37 votos a favor e 7 contra no Senado, e os colegas no BC estão “numa situação de esperar para ver”, disse Bertrand Delgado, um economista da Roubini Global Economics LLC.
“O anúncio não foi claro após a reunião de política monetária, mas dependendo dos dados, você tem a sensação de que eles podem subir os juros em janeiro ou esperar um pouco mais, mas até agora, os dados mostram que eles podem esperar um pouco mais”, Delgado disse.