"Conheço Marcelo Odebrecht, não sou amigo dele, nunca fui amigo dele", disse José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2015 às 19h50.
São Paulo - O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli afirmou, em depoimento à Justiça Federal, em Curitiba, nesta sexta-feira, 9, que teve reuniões com o presidente de maior empreiteira do país, Marcelo Bahia Odebrecht, para discutir questões "estratégicas" sobre o mercado de nafta - derivado do petróleo - e sobre a construção de navios-sonda.
"Eu tive algumas reuniões estratégicas com Marcelo Odebrecht. Eu não discuti com Marcelo nenhum detalhes de fórmula, discuti conceitos gerais sobre precificação", explicou Gabrielli.
O ex-presidente da estatal foi ouvido como testemunha de defesa do empreiteiro em ação penal que executivos do grupo são acusados de corrupção na Petrobras.
"A Diretoria Executiva não discuti números, discutimos conceito. O conceito que discutimos era um preço de nafta que vai basear-se apenas na competição internacional ou um preço de nafta que vai basear-se na competição internacional, do custo que essa nafta vai implicar na cadeia produtiva da pretoquímica. Essa discussão foi feita com Marcelo Odebrecht", explicou Gabrielli.
Odebrecht está preso desde o dia 19 de junho, em Curitiba, quando foi alvo da 14ª fase da Lava Jato (Operação Erga Omnes). "Discutimos tecnicamente o conceito geral, jamais sentamos para fazer contas, jamais sentamos para fazer números. Isso não compete nem ao presidente da Petrobras, nem ao presidente da Odebrecht."
Questionado pela procuradora da República Laura Tessler, da força-tarefa da Lava Jato, se ele estabelecia reuniões diretas e à sós com Odebrecht, o ex-presidente da Petrobras negou.
"Não fazia reuniões sozinho com ele, fazia reuniões com ele presente, sozinho com ele não", respondeu.
O ex-presidente disse que além do assuntos nafta, envolvendo o setor petroquímico - a Petrobras é sócia da Odebrecht na empresa Braskem, maior do ramo no Brasil -, tratou com o presidente do grupo sobre os contratos de navios-sonda.
Para a Lava Jato, esses contratos fechados em 2011 envolveram propina de 1%.
Arroubos
Questionado qual conceito ele faz do empreiteiro, Gabrielli disse que ele é uma "líder empresarial competente", mas que tem alguns "arroubos", diferente do pai, Emílio Odebrecht.
"Ele tem uma formação capaz de tratar isso, é um líder empresarial aparentemente competente. Evidentemente que a idade faz com que ele tenha uns arroubos que o pai já não tinha mais, porque a experiência acaba colocando você um pouco mais equilibrado nas ações. Mas eu acredito que ele é um bom capitão da indústria, um importante empresário brasileiro", respondeu.
Gabrielli disse que conhece Odebrecht, teve reuniões, mas não é seu amigo. "Conheço Marcelo Odebrecht, não sou amigo dele, nunca fui amigo dele, até por diferença de idade, sou um pouco mais velho que ele. Mas tive vários encontros e reuniões com ele, geralmente reuniões profissionais e encontros em eventos da indústria."