Teste contra o coronavírus em Brasília: maioria da população acha que o acesso aos testes é responsabilidade do governo federal, mais do que de governos estaduais (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Carolina Riveira
Publicado em 28 de janeiro de 2022 às 09h00.
Última atualização em 28 de janeiro de 2022 às 11h33.
As filas para conseguir um teste de covid-19 nas últimas semanas não mentem: o Brasil, dois anos após o começo da pandemia, está longe da capacidade de testagem ideal, seja na rede pública ou privada.
Para a maioria dos brasileiros, melhorar este cenário é função do governo federal. É o que mostra nova pesquisa EXAME/IDEIA, um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública, e realizada entre os dias 24 e 26 de janeiro. Veja o relatório completo.
Perguntados sobre de quem seria a responsabilidade para que a população tenha acesso aos testes de covid-19, 65% dos brasileiros responderam que a função é do governo federal. Outros 17% apontaram os governos estaduais e 12%, as prefeituras. Somente 4% acreditam que a responsabilidade é dos próprios cidadãos (veja no gráfico abaixo).
"Todas as pessoas, de alta ou baixa escolaridade, por exemplo, acham que o governo federal é responsável pela compra de testes. O sentimento de que deve ser do próprio cidadão é muito baixo", diz Mauricio Moura, fundador do IDEIA.
A sondagem ouviu 1.252 pessoas, em entrevistas feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Já em relação à vacinação de crianças, que começou neste mês, metade da população (50%) avalia que o governo do presidente Jair Bolsonaro "não deu prioridade à vacinação infantil do coronavírus, levando mais tempo para disponibilizar a vacina". A fatia é superior aos 20% que discordam da afirmação.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a vacina da Pfizer para crianças entre 5 e 11 anos em 16 de dezembro, mas a vacinação começou em 14 de janeiro, após semanas de discussão sobre incluir ou não as crianças no Plano Nacional de Imunização.
"O Nordeste é o que mais concorda que o governo federal não deu prioridade à vacinação infantil. É justamente nesta região onde o presidente Jair Bolsonaro tem dificuldade em atrair eleitores, quando fazemos pesquisa se intenção de voto", lembra Moura.
Ainda na frente da covid-19, a pesquisa também mostrou que os brasileiros apoiam o formato de autoteste, em que o usuário pode comprar o teste e fazê-lo sozinho, em casa. A opção tem sido usada sobretudo na Europa, e ganhou força nos últimos meses nos Estados Unidos.
Um total de 67% dos brasileiros afirmou que compraria um autoteste nas farmácias se o produto fosse oferecido. A Anvisa liberou, nesta sexta-feira, 28, a venda do produto no país. Agora, as empresas podem pedir o registro junto à agência.
A fatia que compraria autotestes é ainda maior entre os com Ensino Superior (77%) e renda superior a 5 salários mínimos (79%). Mas mesmo entre quem ganha até 1 salário mínimo, a taxa foi de 60%.
"A pesquisa chama a atenção pelo alto grau de pessoas que estão dispostas a pagar por um autoteste de covid-19. Mesmo as pessoas que ganham menos, até um salário mínimo, têm interesse. Isso significa que a covid-19 está muito presente ainda na vida das pessoas para ter esta demanda tão grande", diz Moura, do IDEIA.
Perguntados sobre quanto estariam dispostos a pagar por um autoteste, 60% responderam até 50 reais, e 30%, entre 50 e 100 reais. Atualmente, os testes rápidos de antígeno (mesmo produto que seria oferecido via autoteste) são feitos em farmácias e laboratórios a um custo que gira entre 100 e 150 reais.
Com os autotestes, a tendência é que o valor abaixe, mas, como a EXAME apurou, a depender de como se construir a demanda e as políticas do Ministério da Saúde para tal, o preço para consumidor ainda pode ficar acima dos 50 reais - uma vez que boa parte dos insumos são importados. O plano do governo federal, por ora, não contempla distribuição gratuita de autotestes na rede pública.
A discussão sobre testagem ganha força em meio à nova onda de covid-19 gerada pela variante Ômicron, que tem feito o número de casos explodir no Brasil e no mundo. Agendamentos de testes rápidos têm sido difíceis de encontrar no curto prazo em farmácias e laboratórios privados devido à alta demanda.
Antes de aprovar os autotestes, a Anvisa cobrou o Ministério da Saúde sobre um plano de testagem e uma forma para que os pacientes notifiquem que o teste feito em casa teve resultado positivo.
Para atores do setor privado e especialistas em saúde ouvidos neste mês pela EXAME, o relativo atraso do Brasil na discussão dos autotestes veio, em parte, pela falta de priorização do Ministério da Saúde em relação ao tema. No setor privado, associações de farmácias e fabricantes de testes veem com bons olhos uma possível liberação pela Anvisa.
No exterior, países sul-americanos também vêm liberando o formato recentemente diante da nova onda de covid-19. Os Estados Unidos, onde a taxa de testagem ainda é muito inferior à da Europa, passou a ver o tema como prioridade neste ano em meio à alta de casos, incluindo com a distribuição de testes gratuitos.