Senado: Depois do início acalorado marcado pelo bate-boca entre o presidente do Senado, Renan Calheiros, e a senadora Gleisi Hoffmann, o clima ficou morno ao longo do dia. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2016 às 22h34.
BRASÍLIA - Em um plenário do Senado esvaziado, foram concluídos na noite desta sexta-feira os questionamentos aos dois primeiros depoentes da defesa da presidente afastada Dilma Rousseff no julgamento do impeachment, com a maior parte das perguntas sendo feitas por defensores da petista e membros da base governista abrindo mão de fazer indagações para acelerar o processo.
Após um início tumultuado dos trabalhos nesta sexta, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, que preside o julgamento, passou a cortar a palavra dos senadores que se excediam e a limitar as chamadas questões de ordem a apenas normas processuais, como determina o regimento.
Com isso, depois do início acalorado marcado principalmente pelo intenso bate-boca envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o clima ficou morno ao longo do dia. Primeiro depoente, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que depôs como informante, e não como testemunha, afirmou que Dilma não cometeu um crime de responsabilidade, mas erros na política econômica. "Considero que o afastamento da presidente pelos motivos alegados é um atentado à democracia", afirmou.
Segunda testemunha, o advogado Geraldo Prado afirmou que a sanção pelo impeachment é "desproporcional ao fato". "Ninguém no lugar dela faria algo diferente. Não havia um fiapo para se desconfiar que algo ali estava fora do lugar", afirmou, referindo-se às operações de crédito com bancos públicos, as pedaladas fiscais.
Já à noite, ao término do depoimento de Prado, restavam em plenário menos de um terço dos senadores. Lindbergh Farias (PT-RJ) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) chegaram a pedir a Lewandowski a suspensão da sessão, alegando que os "juízes" --os senadores que julgarão Dilma-- não podiam deixar o plenário quando testemunhas estivessem depondo, mas o presidente do STF negou o pedido.
"BURRICE INFINITA" O momento mais tenso do segundo dia do julgamento de Dilma no Senado aconteceu quando Renan decidiu descer da mesa diretora para o plenário numa tentativa de fazer um apelo para que os ânimos se acalmassem. O efeito, no entanto, acabou sendo o oposto, quando ele se envolveu numa discussão com Gleisi, obrigando Lewandowski a suspender a sessão.
"Eu, senhor presidente, fico muito triste, porque esta sessão é, sobretudo, uma demonstração de que a burrice é infinita", disse Renan se dirigindo a Lewandowski. O senador parecia ter encerrado sua fala quando voltou ao microfone para criticar comentário de Gleisi na véspera, quando a parlamentar disse que o Senado não tinha moral para julgar Dilma.
"Como uma senadora.... pode fazer uma declaração dessa? Exatamente, senhor presidente, uma senadora que há 30 dias, o presidente do Senado Federal conseguiu, no Supremo Tribunal Federal, desfazer o seu indiciamento e do seu esposo?”, atacou.
O marido da senadora, o ex-ministro dos governos de Dilma e Lula Paulo Bernardo foi preso no fim de junho na operação Custo Brasil, um desdobramento da Lava Jato.
Com o tumulto instalado, Lewandowski suspendeu a sessão. O presidente do Supremo chegou a dizer aos senadores que usaria seu poder de polícia para garantir o respeito mútuo e recíproco entre os parlamentares, após uma troca de farpas entre Lindbergh e o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Posteriormente, Renan divulgou nota dizendo que o Senado cumpriu sua função institucional ao questionar no STF a operação de busca e apreensão no imóvel funcional de Gleisi e o indiciamento da senadora, que tem foro privilegiado, pela Polícia Federal.
Mais tarde ainda, Renan se disse arrependido de ter respondido ao que chamou de "provocação" feita por Gleisi. A senadora, por sua vez, disse considerar o episódio superado após a nota do presidente do Senado e disse que Renan não lhe fez nenhum favor.
DILMA NA SEGUNDA Inicialmente, seis depoentes falariam pela defesa de Dilma, mas o advogado da presidente afastada, José Eduardo Cardozo, pediu, e Lewandowski acatou a retirada da ex-secretária de Orçamento Federal e professora-adjunta do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Esther Dweck do rol de testemunhas da defesa. A inclusão de Esther vinha sendo alvo de questionamentos de defensores do impeachment pelo fato de ela ter sido solicitada para atuar na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, sob a presidência de Gleisi. Cardozo disse que queria poupar a professora-adjunta de questionamentos agressivos dos partidários do impedimento.
O Senado ainda ouve nesta noite um terceiro depoente da defesa, o ex-secretário-executivo do Ministério da Educação Luís Cláudio Costa, antes de encerrar a sessão. O ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa e o advogado Ricardo Lodi serão ouvidos a partir das 9h do sábado, quando deve ser encerrada a fase de questionamento de testemunhas e informantes.
Dilma irá ao Senado na segunda-feira para prestar depoimento aos senadores, em uma sessão que deve ser ainda mais tensa do que as realizadas nos dois primeiros dias do julgamento.
O depoimento da presidente afastada é o ato derradeiro antes da votação final que selará o destino da petista e que deve acontecer entre terça-feira e a madrugada de quarta.