Brasil

Testemunha diz que policiais jogaram vítima de telhado em SP

Segundo o tenente Marco Aurélio Barberato Genghini, Fernando Henrique da Silva estava rendido e desarmado quando foi morto pelos policiais

Policiais: os PMs alegam que a vítima escorregou e caiu no quintal e que Fernando morreu em confronto, após ter feito disparos contra eles (Wikimedia Commons/Divulgação)

Policiais: os PMs alegam que a vítima escorregou e caiu no quintal e que Fernando morreu em confronto, após ter feito disparos contra eles (Wikimedia Commons/Divulgação)

AB

Agência Brasil

Publicado em 27 de março de 2017 às 15h49.

Última atualização em 27 de março de 2017 às 18h18.

O tenente Marco Aurélio Barberato Genghini, responsável pela investigação na Corregedoria da Polícia Militar, disse que os policiais que estão sendo julgados hoje (27) no Fórum Criminal da Barra Funda executaram Fernando Henrique da Silva, 23 anos, morto no dia 7 de setembro de 2015 após uma perseguição policial no bairro do Butantã, na Zona Oeste da capital paulista.

Segundo o tenente Genghini, convocado como testemunha de acusação, Fernando estava rendido e desarmado quando foi morto pelos policiais.

Fernando estava em uma moto roubada com Paulo Henrique Porto de Oliveira, 18 anos, quando foi surpreendido por policiais na rodovia Raposo Tavares.

Durante a fuga, Fernando abandonou a moto e subiu em um telhado de uma casa no bairro do Butantã, na zona oeste da capital paulista, e foi cercado por policiais.

Imagens feitas a distância por celulares - e que foram apresentadas durante o depoimento de Genghini - mostraram que o policial Samuel Paes aproximou-se da vítima ainda no telhado, revistou-a e, aparentemente, jogou Fernando, rendido e desarmado, do telhado em direção ao quintal da casa.

Depois da queda - cena que não foi registrada pelas imagens - os outros dois policiais, Flávio Lapiana de Lima e Fabio Gambale da Silva, que estavam no quintal aguardando, teriam atirado contra Fernando, que morreu no local.

Em seu depoimento, Genghini disse que o inquérito policial não demonstrou possibilidade de confronto e que os vídeos mostram Fernando sob a mira de outros dois policiais, com os braços para o alto, indicando que estava rendido e que não tinha armas em suas mãos.

Genghini disse também que um dos tiros que atingiu Fernando foi nas mãos, o que indicaria que ele estava tentando se proteger do disparo.

Além disso, falou o tenente, os tiros disparados no quintal foram de cima para baixo e, se tivesse ocorrido confronto, como os policiais alegam, as marcas dos tiros estariam nas paredes e não no chão.

Os policiais, por sua vez, alegam que a vítima escorregou e caiu no quintal e que Fernando morreu em confronto, após ter feito disparos contra eles.

Genghini foi a única testemunha de acusação ouvida.

Outras 14 testemunhas, todas de defesa, ainda deverão ser ouvidas na tarde de hoje, após o intervalo para o almoço.

Até este momento, apenas três testemunhas de defesa prestaram depoimento.

A previsão é que o júri popular no Fórum Criminal da Barra Funda se estenda até quarta-feira (29).

Acusação

No intervalo para o almoço, o promotor Rogério Leão Zagallo, responsável pela acusação, disse "ter a certeza, pelos elementos técnicos que a defesa nos apresenta, que houve sim execução".

Segundo Zagallo, em nenhum momento a vítima mostrou "qualquer tipo de hostilidade ou agressividade" contra os policiais.

"A vítima foi jogada do telhado, desarmada, revistada e rendida", disse o promotor. "Os policiais dizem que, a partir daí, houve um confronto e, nesse confronto, ela teria morrido. A vítima teria sacado uma arma, uma pistola 9 milímetros (mm), atirado contra os policiais e eles, em revide, em legítima defesa, teriam alvejado a vítima. Mas isso é desprovido de comprovação e vou, ao longo desse julgamento, comprovar a inviabilidade dessa versão", disse o promotor.

Segundo ele, a perícia demonstrou que a vítima estava estava em posição de defesa no momento dos tiros.

"Ele fez um gesto instintivo de que estava sendo agredido e não agredindo", afirmou.

Defesa

O advogado Nilton de Souza Vivan Nunes, que defende os policiais, disse que o testemunho de Genghini não dificulta a defesa.

"O próprio presidente do inquérito, que é essa testemunha (Genghini), falou que não dá para precisar se ele caiu ou foi empurrado. Vamos mostrar, por laudos e peritos, que não houve o chamado empurrão", declarou a jornalistas.

Segundo Nunes, os policiais estavam fazendo uma "varredura no quintal", quando a vítima caiu.

"Existiam duas senhoras - uma delas em cadeira de rodas, de 90 anos de idade - desesperadas dizendo que tinha indivíduos dentro da casa e ladrões andando no telhado e os policiais entraram para fazer a varredura. Houve vários alertas para que o marginal largasse a arma e ele não o fez. Ele estava armado", afirmou.

"Nossa linha de defesa é muito clara no sentido de que os policiais agiram de forma legítima. E vamos provar isso", acrescentou o advogado. Segundo ele, estava chovendo naquele dia e o telhado estava molhado, o que poderia ter facilitado a queda da vítima.

Após os depoimentos das testemunhas de defesa e de acusação, serão ouvidos os réus.

Depois, ocorre a fase de debates entre o promotor Rogério Leão Zagallo e os advogados de defesa, Paulo Cesar Pinto e Nilton de Souza Vivian Nunes, com possibilidade de réplica e tréplica.

Só então os sete homens que compõem o júri se reúnem para decidir se condenam ou absolvem os réus.

Acompanhe tudo sobre:Polícia MilitarPoliciaisRio de Janeiro

Mais de Brasil

O que muda com projeto que proíbe celulares nas escolas em São Paulo

Haddad se reúne com cúpula do Congresso e sinaliza pacote fiscal de R$ 25 bi a R$ 30 bi em 2025

Casos respiratórios graves apresentam alta no Rio e mais 9 estados