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Tereza Cristina diz que declarações de Macron foram "oportunistas"

A ministra da Agricultura afirmou que o "bom senso" prevaleceu na reunião do G7 e que as relações comerciais brasileiras não serão afetadas

Amazônia: "Qual país não tem esse problema?", questionou a ministra ao criticar a imprensa (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Amazônia: "Qual país não tem esse problema?", questionou a ministra ao criticar a imprensa (Rovena Rosa/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de agosto de 2019 às 14h34.

Última atualização em 26 de agosto de 2019 às 15h55.

São Paulo — A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que considera "oportunistas" as declarações do presidente da França, Emmanuel Macron, que criticou o presidente Jair Bolsonaro. Entretanto, ela se disse satisfeita com os resultados da reunião do G-7, na França, em que os países mais ricos ofereceram ajuda ao Brasil para o combate aos incêndios florestais na Amazônia.

"Foram declarações oportunistas, isso prejudica a imagem do Brasil. Mas o bom senso prevaleceu e ontem (domingo), na reunião do G-7, tivemos apoio dos sete países dizendo que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa", disse a ministra na Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, em São Paulo.

"Nossas relações comerciais com a Europa, depois do acordo, deixaram alguns países preocupados pela pujança do nosso agronegócio, pelo mercado que podemos tirar, principalmente da Irlanda, sentimos preocupações com a carne. E não é de hoje que produtores da França se insurgem contra produtos brasileiros, querendo denegrir nossa imagem. Mas graças a Deus, o bom senso prevalece."

Ela criticou também a cobertura da imprensa brasileira em relação às queimadas na Amazônia e à aceleração na liberação de agrotóxicos.

"Fico preocupada com a histeria que hoje existe na imprensa brasileira em falar mal do Brasil. Isso é crime lesa-pátria que se comete. Tanto no problema ambiental... Qual país não tem esse problema?", perguntou ela.

"Principalmente com a Amazônia. Como se pudéssemos ter controle absoluto. E os recursos enviados para o Brasil nem sempre vão para o que é necessário. Tem de se colocar dinheiro aqui, mas não interferir na soberania do nosso País. Também sofremos campanha de resíduos que inexiste. O Brasil faz parte de todos os acordos internacionais, exporta para todos os países e raramente temos cargas devolvidas por problemas de resíduos."

Fiscalização

Por causa das proporções gigantescas da Amazônia, o Brasil não terá condições de ter o melhor sistema de fiscalização do mundo, disse a ministra. "O Brasil está trabalhando e vai trabalhar para fazer uma fiscalização cada vez melhor. Não será a melhor do mundo pelas dimensões", disse ela. "Olha o tamanho da Amazônia, é como se tivessem 48 países da Europa na nossa região amazônica", comentou.

Por isso, ainda de acordo com a ministra, o Ministério do Meio Ambiente não consegue fazer toda a fiscalização das áreas sozinho - é necessária a colaboração dos Estados e das Forças Armadas. "Agora, as Forças Armadas vão poder nos ajudar com isso de maneira efetiva. E São Pedro está ajudando, porque deve chover em breve", disse.

Tereza Cristina afirmou que o Ministério da Agricultura deve fazer campanhas para que produtores rurais usem formas alternativas à queimada para abrir espaço no território. "Queimadas acontecem às vezes como ferramenta agrícola, principalmente por pequenos produtores rurais", afirmou.

"O Ministério da Agricultura vai fazer campanha de utilização de outras metodologias para fazer abertura de áreas." A Nasa e o Instituto de Pesquisa Amazônica (IPAM) afirmam que o aumento nos focos de incêndio nos últimos meses está mais ligado ao desmatamento do que a atividades que não desmatam.

A ministra destacou que, além do aumento da fiscalização, é preciso avançar em áreas como regularização fundiária e crédito para o produtor. "Quando não se tem o título da área, nem sequer sabemos quem responsabilizar."

Tereza Cristina não descartou a possibilidade de boicote internacional a produtos brasileiros por questões ambientais: "Não posso descartar porque não sou eu que faço boicote."

A ministra destacou, entretanto, que acha exagerado ligar os produtos agrícolas brasileiros à queimadas. "O problema existe e o Brasil sabe disso. Há preocupação com queimadas - que acontecem todos os anos -, mas acho oportunismo dizer que isso tem relação com os produtos brasileiros", argumentou.

Ela disse ainda que, apesar do aumento nos últimos meses, o avanço das queimadas em todo o ano de 2019 não é tão alto. A ministra não falou sobre o desmatamento ou sobre o fato de o período de estiagem na região ser mais brando até o momento em 2019. "É exagero comparar dados referentes apenas a um mês."

"Compromisso com a sustentabilidade"

Segundo Tereza Cristina, o Brasil concilia produtividade e sustentabilidade na produção agrícola. "O caminho que o Brasil escolheu trilhar é o da ampliação da produtividade promovendo a sustentabilidade ambiental, econômica e social. O Brasil tem uma das legislações ambientais mais avançadas do mundo, o Código Florestal, que é referência e reforça o compromisso de seguir o caminho da sustentabilidade", afirmou em outro evento em São Paulo, o 4.º Diálogo Brasil-Japão.

A ministra afirmou também que é preciso mostrar ao mundo que o Brasil produz alimentos com sustentabilidade. "Os exigentes compradores globais precisam ser informados sobre a realidade da produção dos alimentos no Brasil - desde sua origem nas fazendas até a mesa do consumidor. É fundamental que o mundo conheça o exemplo que a agricultura brasileira tem a dar em aspectos ambientais, sociais e trabalhistas."

Dia do Fogo

A ministra também comentou sobre a possibilidade de que tenha existido o Dia do Fogo e que isso tenha amplificado o problema na região. "Primeiro eu não sei se é sobre produtores rurais. Quem está investigando isso é a Polícia Federal. E quem fez mal feito, tem que pagar, seja lá o que for. Parece que existe esse indício, mas isso tem que ser apurado. E, quando for, as responsabilidades serão colocadas a quem couber", disse ela.

O Dia do Fogo, segundo investigações em curso e reportagens, teria acontecido no dia 10 de agosto, quando sindicalistas, produtores rurais, comerciantes e grileiros teriam combinado por um grupo de WhatsApp de incendiar as margens da BR-163, rodovia que liga o Pará aos portos fluviais do Rio Tapajós e ao estado do Mato Grosso.

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