Teori: de origem polonesa e italiana, Teori fez carreira no Rio Grande do Sul, onde se formou em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFRGS (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de janeiro de 2017 às 21h07.
Brasília - Catarinense de alma gaúcha, Teori Albino Zavascki era um ministro discreto, de perfil técnico, com sólida formação acadêmica, apaixonado por música clássica e torcedor do Grêmio, clube do qual foi conselheiro.
Foi indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela então presidente Dilma Rousseff em setembro de 2012, na vaga aberta com a aposentadoria de Cezar Peluso.
Na época, a escolha de Dilma foi interpretada como uma tentativa de blindar o Palácio do Planalto contra pressões de setores do PT que se movimentavam no meio do julgamento do mensalão para patrocinar um nome ligado à legenda.
De origem polonesa e italiana, Teori fez carreira no Rio Grande do Sul, onde se formou em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e depois se tornou mestre e doutor em direito processual pela mesma instituição.
Foi professor de direito processual na Faculdade de Direito da UFRGS de 1987 a 2005.
Entre 1989 e 2003, integrou o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede na cidade de Porto Alegre, onde foi presidente de 2001 a 2003. Em maio de 2003, tornou-se ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), indicado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Avesso aos holofotes, acreditava que a discrição fazia parte do ofício do juiz. Para preservar a integridade das investigações no âmbito da Operação Lava Jato, da qual era relator, evitava fazer comentários públicos sobre o trabalho, até como forma de manter a imparcialidade e não correr o risco de fazer pré-julgamentos. Entre colegas da Corte, era visto como um ministro íntegro, sério e firme.
Em meio à rotina de trabalho no STF, Teori conseguia encontrar tempo para colocar um boné e caminhar na quadra onde vivia na Asa Sul, bairro nobre de Brasília.
Nos últimos meses, fazia piada entre auxiliares sobre sair à rua e ser reconhecido por populares, levando sempre com bom humor o assédio das pessoas.
Dentro do STF, quem lidou diretamente com ele o classifica como um ministro de humor elegante, fino, inteligente, que ouvia Chopin no gabinete.
Em dezembro, depois da última sessão plenária do STF, Teori conversou pela última vez com os repórteres que cobrem o Judiciário, classificando como "lamentável" o vazamento de parte do conteúdo da delação de executivos e ex-executivos da Odebrecht.
O ministro havia prometido dar um "ritmo normal" à analise das delações, sem acelerar o processo. Também reconheceu que 2016 "foi um ano muito difícil para o Brasil" e afirmou "esperar que as coisas melhorem".
Em agosto de 2013, o ministro perdeu a sua mulher, Maria Helena Marques, que morreu aos 50 anos vítima de um câncer. Teori faleceu nesta quinta-feira aos 68 anos, deixando três filhos: Alexandre, Liliana e Francisco.
"É uma grande perda", afirmou Flávio Boff ex-prefeito de Faxinal dos Guedes, cidade natal do ministro Teori Zavascki, a 75 quilômetros de Chapecó, em Santa Catarina.
Ao comentar o acidente que matou o relator da Lava Jato, Boff disse que esteve com o amigo pela última vez no ano passado quando o ministro do Supremo foi ao velório da mãe, dona Pia, falecida em junho aos 101 anos.
"A cidade está de luto", afirmou. De acordo com ele, até o início da noite, havia a informação de que o enterro de Teori poderia ser em Santa Catarina. "Dona Pia está sepultada aqui", declarou o amigo.
Enquanto a mãe era viva, o ministro costumava ir a Faxinal dos Guedes com maior frequência, lembrou. Na varanda da casa da família, uma chácara a menos de 5 minutos do centro da cidade, gostava de passar horas tomando chimarrão na varanda e apreciando a bucólica paisagem do lugar.