Temer: o aumento da temperatura preocupa o presidente, que vê riscos concretos da crise afetar a agenda do Executivo (Kim Kyung-Hoon/Reuters)
Reuters
Publicado em 25 de outubro de 2016 às 21h50.
Última atualização em 25 de outubro de 2016 às 22h59.
Brasília - Terminou em fracasso a tentativa do presidente Michel Temer de articular uma reunião entre os presidentes dos três poderes para debelar a crise que se instalou a partir da deflagração da operação Métis, na qual policiais legislativos foram presos, depois que a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, declinou do convite.
Temer decidiu chamar a reunião a pedido do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que afirmava ser necessário "pôr ordem na divisão entre os Poderes".
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), --que nesta terça-feira defendeu a posição de Renan-- concordou. Cármen Lúcia, no entanto, estaria com a agenda cheia, segundo sua assessoria, e não poderia participar.
A resposta da ministra enterrou a iniciativa e ajudou a alimentar a crise, que o Palácio do Planalto pretendia enterrar o mais brevemente possível para não atrapalhar as votações no Congresso --especialmente da Proposta de Emenda à Constituição que cria o teto para os gastos da União e que deve chegar nos próximos dias ao Senado.
A reação de Renan já havia sido dura na sexta-feira, dia em que a operação prendeu quatro policiais legislativos --inclusive Pedro Carvalho, diretor da polícia do Senado-- acusados de tentar atrapalhar as investigações da operação Lava Jato.
Na segunda-feira, o presidente do Senado subiu o tom, chamando de "juizeco" o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, responsável por autorizar a operação.
Renan ainda chamou de "chefete de polícia" o ministro da Justiça que, orientado pelo Planalto, evitou responder.
A presidente do STF, no entanto, tomou para si a ofensa ao Judiciário.
"O que não é admissível é que, fora dos autos, qualquer juiz seja diminuído ou desmoralizado, porque, como eu disse, quando um juiz for destratado, eu também sou, qualquer um de nós juizes é", disse nesta terça-feira, durante sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), da qual também é presidente.
Oficialmente, Temer tentou se manter afastado da crise, fazendo apenas um papel de mediador.
Nesta terça-feira, ao conversar novamente com Renan e tentar marcar o encontro entre os presidentes dos três Poderes, o presidente tentou apenas, segundo seus auxiliares, usar seus poderes de mediador para evitar que a crise crescesse e afetasse o Executivo.
Inicialmente, Temer havia imaginado reunir todas as partes em uma reunião sobre segurança pública, na sexta-feira, no Palácio do Itamaraty, mas cedeu ao pedido de Renan para uma reunião apenas com os chefes dos três poderes.
Em entrevista no Senado, esta tarde, Renan disse claramente que "teria muita dificuldade de participar de qualquer encontro com o ministro da Justiça que protagonizou um espetáculo contra o Legislativo".
Com o fracasso da reunião desta quarta-feira, Temer avalia, segundo uma fonte palaciana, deixar a reunião sobre segurança para a próxima semana, em uma tentativa de esfriar os ânimos.
O aumento da temperatura preocupa o presidente, que vê riscos concretos da crise afetar a agenda do Executivo.
Na entrevista que deu nesta tarde, Renan deu uma declaração que pode ser vista como uma ameaça velada nesse sentido.
"Já aprovamos esse calendário de tramitação, inclusive com data marcada... Nós temos muitas dificuldades no Brasil, temos todos a preocupação de não deixá-las transbordar para uma crise institucional. Eu espero que essas dificuldades não atrapalhem o calendário que já aprovamos", o presidente do Senado.