Temperaturas: calor excessivo causa risco de fogo e prejuízos à saúde (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de setembro de 2020 às 18h14.
Última atualização em 29 de setembro de 2020 às 18h39.
Uma onda de calor voltará a se manifestar na capital paulista a partir desta quarta-feira, 30, com temperaturas próximas de 40 ºC e a previsão é de que permaneça até sábado, 3, quando há possibilidade de chuva e risco de temporais.
No interior do estado, a máxima pode chegar a 44 ºC, especialmente em áreas do oeste e do noroeste que estão perto de Goiás e do Mato Grosso do Sul. O último recorde de temperatura aconteceu em 16 de setembro quando a Defesa Civil retomou o alerta de uma forte onda de calor.
De acordo com nota divulgada pela MetSul, a cidade de São Paulo enfrentará calor como poucas vezes ou talvez nunca testemunhou e há possibilidade que sejam quebrados recordes absolutos de temperatura máxima em algumas cidades.
O calor será muito intenso no Brasil Central durante quase toda a semana, com máximas acima de 40 ºC. Para parte do Mato Grosso do Sul, a temperatura pode chegar a 45 ºC na segunda metade da semana.
O fenômeno é consequência da massa de ar seco e quente que cobre o Brasil Central e gera uma gigante bolha de ar quente, as chamadas cúpulas de calor ou heat dome. A área de alta pressão em altitude gera movimentos de descida na atmosfera com calor extremo e tempo muito seco.
A forte estiagem com baixa disponibilidade de umidade no solo acaba agravando a situação e cria-se um mecanismo em que o tempo seco agrava o calor e o calor agrava o tempo seco, gerando ainda maior evapotranspiração. "O episódio de calor pela sua dimensão e intensidade recordará eventos extremos de temperatura alta e ar seco que costumam atingir a Califórnia e Austrália", diz a nota.
De acordo com Marcelo Schneider, meteorologista e coordenador regional do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) São Paulo o bloqueio atmosférico 'seca' a umidade da superfície e causa o aumento da temperatura. Nas regiões da capital em que há incidência das ilhas de calor, fenômeno climático que ocorre a partir da elevação da temperatura de uma área urbana, a elevação da temperatura pode ser ainda mais desconfortável.
"Em locais onde não tem arborização, áreas verdes, não têm a umidade das plantas, então o solo aquece a superfície e a temperatura aumenta mais. Serão três dias de muito calor aqui, e com pouca umidade parece que o calor queima a pele, é aquele calor abrasivo". Na região a umidade está em alerta da faixa laranja, o que significa baixa umidade entre 12% e 20%.
"Será um evento extraordinário de calor", alerta a MetSul. As anomalias de temperatura que são mostradas pelos modelos numéricos são absolutamente incomuns com desvios imensos. As simulações computadorizadas chegam a projetar temperatura no nível de pressão de 850 hPa (1.500 metros de altitude) entre 15 ºC e 20 ºC acima do normal no Centro-Sul do Brasil.
Já a temperatura em 850 hPa projetada para a metade da semana em alguns estados do Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul fica perto de 30 ºC a 1.500 metros de altitude, o que somente se observa em ondas excepcionais de calor como que se registram em áreas acostumadas a calor muito extremo como o Cuyo na Argentina, Califórnia e Austrália.
As máximas previstas pela MetSul para a semana são de 35 ºC a 36 ºC na quarta-feira, 37 ºC a 38 ºC na quinta-feira, 38 ºC a 39 ºC na sexta e caindo para 24 ºC ou 25 ºC no sábado com chuva e risco de temporais. "É crucial enfatizar que São Paulo é a maior cidade da América Latina e uma enorme ilha de calor urbano, logo em alguns bairros a temperatura deve ser ainda mais alta e não se afasta que as máximas possam bater ou superar a casa dos 40 ºC.
A Defesa Civil do Estado emitiu uma nota com recomendações para que a população evite aglomerações e não façam exercícios físicos em horários com maior incidência de radiação ultravioleta do sol. O risco de emergências relacionadas ao calor é especialmente alto para idosos, animais de estimação e pessoas com doenças crônicas. Em caso de emergência, deve-se avisar imediatamente a Defesa Civil (199) ou o Corpo de Bombeiros (193).
Além do risco à população, a onda de calor numa atmosfera de umidade muito baixa e ainda com um padrão de estiagem de meses, pode trazer riscos de fogo a valores críticos
O Sul do Brasil também sofrerá os efeitos do calor, especialmente o noroeste e o norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o Paraná. Uma corrente vai transportar ar muito seco e quente da Bolívia e do Paraguai, onde as máximas podem atingir 44 ºC a 46 ºC com novos recordes absolutos, para o Sul do país. Junto, novamente, virá muita fumaça.
Máximas semelhantes são esperadas no oeste catarinense, até isoladamente mais altas e superiores a 40 ºC na quinta. No oeste e no norte do Paraná, máximas perto ou acima de 40 ºC na segunda metade da semana, podendo atingir 41 ºC a 42 ºC em algumas cidades. Curitiba pode ter 35 ºC a 36 ºC na quinta-feira, segundo alguns dados, não se descartando marcas superiores na região metropolitana.