Carne Fraca: caso provocou alerta fora do Brasil, que vende carne a cerca de 150 países (Getty Images)
AFP
Publicado em 19 de março de 2017 às 14h50.
Última atualização em 19 de março de 2017 às 15h15.
São Paulo - O presidente Michel Temer realizará neste domingo em Brasília reuniões de emergência com ministros, empresários e embaixadores estrangeiros pelo escândalo da carne, que ameaça prejudicar as finanças e a imagem do maior exportador de carne bovina e avícola do mundo.
Temer receberá às 15h00 os ministros da Agricultura, Blairo Maggi, e de Comércio Exterior, Marcos Pereira, junto a representantes dos frigoríficos. Duas horas mais tarde, se reunirá com os embaixadores dos maiores mercados de carne do Brasil, informou o Palácio do Planalto.
Uma investigação policial de dois anos da Polícia Federal deflagrada na sexta-feira, e intitulada "Carne Fraca", trouxe à tona um esquema no qual inspetores sanitários supostamente recebiam subornos dos frigoríficos para autorizar a venda de alimentos inaptos para o consumo.
Mais de 30 pessoas foram detidas até o momento e ao menos três frigoríficos foram fechados temporariamente, um dedicado ao sacrifício de frangos (do grupo multinacional BRF) e dois da empresa local Peccin, que fabricava mortadelas e salsichas, disse o Ministério da Agricultura.
Outros 21 estabelecimentos estão sob investigação e a pasta da Agricultura afastou de seu cargo 33 funcionários envolvidos no esquema.
O caso provocou alerta fora do Brasil, que vende carne a cerca de 150 países.
As exportações brasileiras de carne de frango superaram em 2016 os 5,9 bilhões de dólares. Os dez principais compradores foram Arábia Saudita, China, Japão, Emirados Árabes Unidos, Cingapura, Coreia do Sul, Kuwait, Egito e Venezuela, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
As vendas de carne bovina somaram 4,3 bilhões de dólares, destinadas principalmente a Hong Kong, China, Egito, Rússia, Irã, Chile, Itália, Holanda, Venezuela e Arábia Saudita.
O escândalo corre o risco de desferir um novo e duro golpe ao país, afundado há mais de dois anos na pior recessão de sua história e com suas principais construtoras envolvidas na gigantesca investigação "Lava Jato".
Também ocorre num momento em que o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia (UE) buscam acelerar um acordo de livre comércio, no qual os países sul-americanos pedem maiores quotas de entrada para seus produtos de carne.
- Empresas se defendem -
Os investigadores não especificaram em quais instituições foram detectadas as irregularidades, mas afirmaram que em frigoríficos de pequeno porte foram observados "produtos cancerígenos e usados para poder maquiar a característica física" dos produtos.
Também foi identificada a presença de salmonela em produtos que saíram à venda, enquanto outros foram misturados com papelão, segundo as acusações.
As multinacionais brasileiras atingidas pelo caso defenderam no sábado em grandes páginas nos principais jornais do país a qualidade de seus produtos, enquanto crescia o temor entre a população de encontrar alimentos em mal estado nas gôndolas dos supermercados.
Além da gigante BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão), entre as empresas investigadas figura a JBS, líder mundial no mercado de carne, dona das marcas Big Frango, Seara Alimentos e Swift, entre outras.
A BRF afirmou que seu frigorífico avícola fechado possui "certificados internacionais" que lhe permitem exportar carne aos mais exigentes mercados do mundo, cono Canadá, União Europeia, Rússia e Japão.
A suspensão das operações no local "deve durar até que a BRF possa prestar as informações que atestem a segurança e a qualidade" de seus produtos, "o que deve acontecer em breve", acrescentou a empresa.
"No despacho da Justiça Federal que deflagrou a operação, não há qualquer menção a irregularidades sanitárias ou à qualidade dos produtos da JBS e de suas marcas", afirmou por sua vez esta empresa.