Temer e Cortes: o presidente paraguaio foi um dos primeiros a reconhecer o impeachmente de Dilma Rousseff (Mario Valdez / Reuters)
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2016 às 21h30.
Potencializar o Mercosul para alcançar acordos comerciais com o mundo, flexibilizar as regras e apostar em políticas menos protecionistas foram os objetivos traçados nesta segunda-feira pelos presidentes de Brasil e Argentina, as duas grandes economias sul-americanas em dificuldade e cujos governos estão em plena sintonia política.
Após sua passagem por Buenos Aires, Michel Temer fez uma visita relâmpago ao Paraguai, onde se encontrou com o presidente paraguaio, Horacio Cortes, um dos primeiros chefes de Estado a reconhecer o impeachment de Dilma Rousseff.
Temer e o presidente da Argentina, Mauricio Macri, mostraram em Buenos Aires afinidade em matéria econômica, em relação à crise da Venezuela e ao apoio à Colômbia para que implemente o acordo de paz com as Farc, rejeitado pela população no referendo do último domingo.
"Acreditamos em um mundo globalizado e cheio de desafios globais, motivo pelo qual estreitamos e potencializamos o Mercosul, para que encaremos a relação com o mundo", expressou Macri.
Em meio ao protesto de aproximadamente vinte manifestantes que gritavam "Fora Temer", o presidente brasileiro manifestou a necessidade de flexibilizar as regras do bloco.
"Para fortalecer o Mercosul como instituição sul-americana que tem interesse no mundo todo, as duas coisas principais são chegar a um acordo formal no Mercosul e flexibilizar um pouco as regras do Bloco para dar certa autonomia para os Estados-membros", disse Temer.
Ambos os presidentes, favoráveis ao livre-mercado, consideraram prioritário avançar em um acordo com a União Europeia.
"A União Europeia tem trocado ofertas com o Mercosul para começar um caminho que levará anos", disse Macri.
"Percebemos que o mundo tem muito interesse no Mercosul. São muitos os países que nos pedem tratados de livre-comércio e mais intercâmbios", afirmou Macri.
Após a assinatura de acordos entre chanceleres e um típico churrasco argentino na residência presidencial em Buenos Aires, Temer partiu para o Paraguai.
Ao chegar a Assunção, o presidente brasileiro disse que pretende visitar "outros Estados da América do Sul para colaborar com a integração latino-americana de nações.
"Tudo bem, tudo joia"
Temer disse que concorda "integralmente" com Macri e ressaltou que os dois países vivem os mesmo problemas: a pobreza e o desemprego".
Brasil e Argentina, primeira e terceira economia da América Latina respectivamente, atravessam uma dura recessão. Por isso, os dois mandatários multiplicam esforços diplomáticos para captar investimentos estrangeiros, enquanto o emprego e a atividade econômica caem.
O Brasil é o principal destino das exportações argentinas e a Argentina é o terceiro parceiro comercial do Brasil, depois de China e Estados Unidos. O comércio bilateral totalizou 23 bilhões de dólares em 2015 e 14 bilhões nos primeiros oito meses de 2016, segundo dados do Itamaraty.
A consultora argentina ABECEB estima que 2016 terminará com um saldo deficitário para Buenos Aires de 4 bilhões de dólares, e que o intercâmbio parou de cair.
Segundo Dante Sica, diretor da empresa, "hoje não se discute se vai crescer (o intercâmbio), mas sim quanto irá crescer. E se o Brasil cresce 1%, é uma excelente notícia para o setor industrial em geral".
Macri afirmou que a relação com o Brasil "está bem, tudo joia e tudo legal", disse em português.
Ambos os presidentes reafirmaram dezenas de compromissos bilaterais já existentes, entre outros de cooperação nuclear, e destacaram a existência da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC).
Paz na Colômbia, olho na Venezuela
Temer e Macri foram perguntados sobre os temas que concentram as atenções na região: a rejeição em referendo ao acordo de paz na Colômbia e a severa crise atravessada pela Venezuela.
"Buscamos uma opção de paz na Colômbia. Os máximos esforços e desejos é que cheguem à paz. Isso é útil para a Colômbia e para todos os Estados da América do Sul", afirmou Temer.
Macri disse que a pouca diferença entre o "Não" e o "Sim" "mostra que há muita gente que acredita na via de um acordo e certamente muitos dos que votaram contra devem querer o mesmo, mas com outro tipo de acordo". "Esperamos que as condições sejam geradas", completou.
Sobre a Venezuela, também exibiram uma postura monolítica e lembraram do ultimato dado a Caracas para que "cumpra os requisitos" para que se integre plenamente ao bloco regional.
Temer garante que o objetivo não é tirar a Venezuela do Mercosul. Macri ressaltou que eles estão preocupados com a "violação aos direitos humanos" e com a não aceitação do referendo revogatório ao presidente Nicolás Maduro pedido pela oposição.